Diário de Notícias

FEIRA DO LIVRO DE MADRID LISBOA COMO CENÁRIO? SEIS ESCRITORES ESPANHÓIS RESPONDEM

Portugal é o convidado de honra da edição de 2017. Fomos saber se o nosso país inspira os escritores espanhóis...

- JOÃO CÉU E SILVA

A cultura ibérica não é coisa que se pratique muito entre escritores portuguese­s e espanhóis. Nem há qualquer preferênci­a pelos autores do país ao lado, se se deixarem de fora os romances de Saramago e Lobo Antunes. Os leitores estão de costas voltadas ainda hoje como ambos os países estiveram durante séculos (ver entrevista ao ministro da Cultura), situação que a Feira do Livro de Madrid poderá contrariar com algumas das muitas iniciativa­s para divulgar a literatura nacional e os seus novos nomes.

Mesmo que entre os objetivos da programaçã­o se aponte para “combinar iniciativa­s que cobrem os clássicos e a modernidad­e do século XX”; se refira que o destaque vá para os “autores consagrado­s, Camões, Pessoa, Eça, Sophia e Saramago”; sessões sobre Almada Negreiros, Miguel Torga, Ruy Belo, Herberto Helder e Maria Gabriela Llansol, e uma homenagem em livro a Salgueiro Maia... Estranha-se que o século XXI nunca seja especifica­mente referido na programaçã­o, mesmo que ao esmiuçar-se a lista de eventos, se descubram nas entrelinha­s nomes como os de Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz, José Luís Peixoto ou Valter Hugo Mãe. No fim da lista pode respirar-se de alívio, pois repescam-se alguns autores que apresentar­ão os seus livros em Madrid, é o caso das menos “clássicas” Carla Maia de Almeida e Inês Fonseca Santos.

Ou seja, a presença na Feira do Livro de Madrid não irá revelar assim tanto a nova literatura portuguesa a não ser que os leitores optem por percorrer as bancas onde estarão representa­das algumas editoras nacionais, como fazem os portuguese­s na Feira de Lisboa em busca de fundo de catálogo.

O que separa os escritores ibéricos pode ser uma questão a saber por alturas de Portugal ser o convidado de honra da Feira do Livro de Madrid, daí que se tenha questionad­o os autores de lá sobre se alguma vez ponderaram usar Portugal como cenário de um dos seus romances. O que já aconteceu com EnriqueVil­a-Matas em mais do que um livro, pois Fernando Pessoa foi tratado por si e Amália deu título ao livro Estranha Forma de Vida, mesmo que como pretexto lateral. Uma presença geográfica que também se verificou com Arturo Pérez-Reverte em dois livros, sendo Lisboa amplo cenário de O Franco Atirador Paciente, bem como a sua próxima tradução portuguesa, Falco, com parte da ação no Estoril. É ainda o caso de Jorge Carrión que em Livrarias se passeia abundantem­ente pelas da Bertrand do Chiado e da Ler Devagar e pela inevitável Lello do Porto. Entre os autores clássicos, é preciso não esquecer que Cervantes se deslumbrou com as mulheres lisboetas enquanto cá viveu e Unamuno consternou-se com a apetência suicida dos portuguese­s. Nos “clássicos” mais modernos, Carlos Ruiz Zafón terminou a trilogia barcelonen­se e garante que nos próximos tempos a continuaçã­o da escrita está adiada, uma vez que o cenário português não está nos seus planos.

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