Marcelo e Costa comemoram “espaço espiritual de Portugal”
Presidente da República e primeiro-ministro atribuem grandeza do país aos seus emigrantes, em particular à colónia luso-brasileira. E inauguram escola portuguesa em São Paulo
“Portugal não é só o país que tem o melhor jogador de futebol do mundo, é o país que tem expoentes na literatura, na ciência, na medicina e que tem o secretário-geral da ONU” “Os senhores fotógrafos querem que eu me vire um bocadinho para a esquerda? Mas afinal é aquilo que eu ando a fazer há ano e meio...”
MARCELO REBELO DE SOUSA
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa destacaram no dia e meio de visita à maior cidade da lusofonia, São Paulo, que mesmo tendo viajado oito mil quilómetros se sentiam em casa e que apesar de terem vivido um dia de 28 horas, por causa do fuso horário, não estavam cansados por se verem entre portugueses, brasileiros e, sobretudo, luso-brasileiros.
“Estamos no espaço espiritual de Portugal”, disse o primeiro-ministro, em um dos discursos improvisados durante a viagem. “Caros amigos brasileiros, está frio aqui neste quase inverno de São Paulo mas estaria ainda mais se não estivéssemos aqui nós, os portugueses”, brincou o presidente da República.
A visita a São Paulo, motivada pela celebração do dia 10 de Junho, serviu ainda para assinar um protocolo para a reconstrução do Museu da Língua Portuguesa, atingido por um incêndio de grandes proporções há dois anos.
Com a contribuição dos governos português e paulista e também da EDP Brasil e do gigante de comunicação brasileiro Globo, através da Fundação Roberto Marinho, o primeiro museu mundial dedicado a uma língua renascerá vitalizado.
Terá ainda mais conteúdos e a perspetiva de fazer crescer o número de visitantes, que era de quatro milhões ao ano antes da tragédia, como destacou Geraldo Alckmin, o governador de São Paulo e pré-candidato presidencial às eleições de 2018 que serviu de anfitrião aos portugueses.
Em paralelo àquela cerimónia, decorreu a homenagem ao poeta Ernesto Melo e Castro, “mestre experimentalista”, como lhe chamou Marcelo, que recebeu a Comenda da Ordem do Infante Dom Henrique. Melo e Castro, a quem é dedicada uma exposição no Consulado Geral de Portugal em São Paulo, disse-se “muito comovido, apesar de não ser homem de grandes comoções”.
“Escrever, ler e dar a ler são exercícios provocadores e excitantes, que nem todos estarão dis- postos a tomar a sério, porque as suas práticas exigem e provocam a abertura de espírito para a aventura das descobertas intelectuais e emocionais”, registou o poeta.
Do Consulado Geral de Portugal em São Paulo, as comitivas portuguesa e paulista seguiram para uma escola na região de Sumaré que o governo local cedeu ao português – será a primeira escola portuguesa em São Paulo.
“Agradecemos de coração ao governador Geraldo Alckmin, pela amabilidade e pela rapidez na conclusão deste projeto nascido há seis meses, quando visitei a cidade, e que era um sonho com 50 anos, mas agora a responsabilidade é nossa”, disse António Costa, antes de dar caloroso abraço no ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues, que assinou o protocolo de cedência após discurso de José Renato Nalini, secretário de Estado da Educação de São Paulo.
As autoridades tiraram uma foto conjunta em frente a um quadro escolar – “o maior que eu já vi”, notou Marcelo. A seguir o Presidente da República escreveu a giz “Viva o Brasil!”, a que Costa juntou “Viva Portugal!”.
Na véspera, o primeiro-ministro já se havia referido à nova escola, como uma das sete realizações governamentais recentes no sentido de unir Portugal e Brasil. Outra delas é a já em vigor nova Lei da Nacionalidade.
“Agora netos de portugueses nascidos no Brasil podem adquirir a nacionalidade portuguesa”, anunciou, solene, perante uma onda de aplausos, alguns de pé, da comunidade lusa local que aguardava o concerto de Gisela João, no Theatro Municipal, no centro de São Paulo.
A visita ao Brasil de Marcelo Rebelo de Sousa seguiu para o Rio de Janeiro, sem que se confirmasse um encontro com o presidente Michel Temer, que, envolvido numa crise política por estar a ser investigado por corrupção e organização criminosa pelo Supremo Tribunal Federal, pediu desculpas mas anulou a reunião.
Costa continuará pela América do Sul, com passagem por Argentina e Chile.