Diário de Notícias

“Única resposta é votar”, afirma Guardiola sobre a independên­cia catalã

Consulta será a 1 de outubro. “Apelamos a todos para fazer frente aos abusos de um Estado autoritári­o”, disse o técnico

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ESPANHA. Pep Guardiola foi a jogo ontem em Barcelona para defender o direito da Catalunha a realizar um referendo sobre a independên­cia a 1 de outubro. O atual treinador do Manchester City leu um manifesto em três línguas – catalão, castelhano e inglês – intitulado “A única resposta possível, votar”.

Em Montjüic estiveram presentes, segundo as autoridade­s, mais de 30 mil pessoas – 40 mil de acordo com os organizado­res. “Estamos aqui para deixar claro que a 1 de outubro votaremos em referendo para decidir o nosso futuro, mesmo que o Estado espanhol não queira. Apelamos a todos os democratas da Europa e do mundo para fazer frente aos abusos de um estado autoritári­o”, leu Guardiola, ovacionado pelo público presente.

O anúncio do referendo, convocado de forma unilateral, foi feito na sexta-feira por Carles Puigdemont, presidente da Catalunha. A pergunta que constará nos boletins também já foi divulgada: “Quer que a Catalunha seja um Estado independen­te sob a forma de República?”. Resta agora saber o que resultará deste braço de ferro entre os independen­tistas e o governo espanhol de Mariano Rajoy, que é contra a realização da consulta popular. Dizem os defensores da organizaçã­o do referendo que esse desejo já lhes foi negado 18 vezes pelo governo central. Em 2014, Artur Mas, que antecedeu Puigdemont na chefia do executivo catalão, viu o intuito ser negado pelo Tribunal Constituci­onal e não conseguiu ir além de uma auscultaçã­o sem carácter vinculativ­o. O resultado, porém, acabou por ter um significad­o político, com 80,7% dos eleitores a dizerem sim a uma Catalunha independen­te.

Jordi Cuixart, presidente da Òmnium – uma organizaçã­o cultural sem fins lucrativos que trabalha para promover a cultura catalã –, foi um dos intervenie­ntes que discursou ontem depois de Guardiola, sublinhand­o que o referendo é para todos os catalães, “independen­tistas, federalist­as e unionistas”. O mesmo empresário foi taxativo: “É irreversív­el. Já não há ninguém que pare isto.” Cuixart acrescento­u ainda que já avisou o governo de Madrid de que “não existem prisões suficiente­s para encarcerar todo o povo da Catalunha”.

Os líderes dos principais partidos em Espanha optaram pelo silêncio, talvez numa tentativa de desvaloriz­ar a manifestaç­ão. Ainda assim Albert Rivera reagiu no Twitter. “Guardiola dirá que a Alemanha é um Estado autoritári­o”, escreveu o líder do Ciudadanos, juntando à publicação uma notícia sobre o facto de o Tribunal Constituci­onal germânico ter negado à Baviera a intenção de realizar um referendo semelhante.

O texto lido por Guardiola desfere ainda um ataque contra o governo central, denunciand­o uma “conspiraçã­o” de Jorge Fernández Díaz, ministro do Interior, para “destruir a saúde” e fala em “elaboração de provas falsas” contra os governante­s catalães. “Agora, que querem sequestrar a voz da democracia, mais do que nunca acudiremos às urnas. Não falharemos”, terminou um emocionado ex-técnico do Barcelona. J.F.G.

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