FRANÇA VITÓRIA ESMAGADORA DO PARTIDO DE MACRON EM DIA DE ABSTENÇÃO HISTÓRICA
França. Partido fundado há menos de um ano deve eleger mais de 400 deputados no futuro Parlamento. Abstenção atingiu o valor mais elevado desde 1958. Todos os partidos tradicionais foram penalizados. Segunda volta é domingo
Um em cada dois eleitores franceses não foi às urnas. Partido com menos de um ano deve eleger mais de 400 deputados.
Socialistas sofreram um “terramoto” e também a Frente Nacional teve um revés: não deve conseguir criar um grupo parlamentar
A taxa de abstenção ultrapassou os 50% na primeira volta das eleições legislativas de ontem em França – ou seja, um em cada dois eleitores não foi votar. Isto mesmo foi reconhecido por um dos candidatos por Paris do La République en Marche (A República em Marcha), partido do presidente Emmanuel Macron, que foi o grande vencedor desta eleição. “O número mais importante desta eleição é o da abstenção”, disse Mounir Mahjoubi à France 2, comentando o facto de esta ter ultrapassado os 50%, o que sucede, pela primeira vez, na 5.ª República, fundada em 1958.
O partido do presidente, que se apresentava coligado com o MoDem (Movimento Democrático), centro-esquerda, terá maioria absoluta na nova Assembleia, estimando-se que, com base nos resultados de ontem, tenha mais de 400 deputados após a segunda volta, que decorre no próximo domingo. A maioria absoluta estabelece-se a partir dos 289 eleitos. Desde 1988, quando a Assembleia passou a ter 577 lugares, nenhum partido chegou aos 400 deputados. Até agora, a mais expressiva maioria verificou-se em 2002, quando o partido antecessor de Os Republicanos, a UMP, elegeu 357 deputados.
Ontem, o En Marche recolheu 32,9% dos votos, segundo uma projeção do Instituto Kanter Sofres-Onepoint, enquanto Os Republicanos tiveram 21%. Este resultado, no somatório das duas voltas, deve eleger 95 a 130 deputados.
Para os socialistas, que tiveram o pior resultado de sempre, assistiu-se a “um terramoto” no partido, reconheceu um antigo ministro, Patrick Kanner, que considerou ter-se chegado a um momento de “clarificação e refundação” da esquerda democrática em França. Ontem, também segundo o Kanter Sofres-Onepoint, tiveram 9,7% dos votos, o que, no final das duas voltas, não deve proporcionar a eleição de 15 a 25 deputados. Em 2012, tiveram 280.
De diferente natureza, também a Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, sofreu um revés: está em causa a constituição de um grupo parlamentar, para o qual é necessária a eleição de 15 deputados e que era o grande objetivo deste partido de extrema-direita. Ora, com base nos resultados de ontem e na ausência de um sistema proporcional, a FN poderá não ultrapassar os dez eleitos ou 13/14 no melhor dos cenários. Dado significativo: os resultados de ontem são praticamente idênticos aos obtidos pela FN nas legislativas de 2012, quando teve 13,6%. Em contrapartida, a sua líder teve mais de 21% na primeira volta das recentes presidenciais.
Em termos de resultados, a principal formação à esquerda é agora a França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, que recolheu 11% dos votos, mas que, tal como a FN, também é penalizada pela ausência de um sistema proporcional, poderá ter menos deputados (13 a 23) do que os socialistas no cômputo das duas voltas.
Estes resultados em valor percentual não têm em conta situações particulares de predomínio de um partido numa dada região, o que explica a dimensão do intervalo na projeção do número de deputados.
O que é dado adquirido é que o partido do presidente Macron surge como o indiscutível vencedor desta eleição. Um partido que não tem sequer um ano de existência e surgiu de um movimento para lançar a candidatura presidencial daquele que era ainda há um ano ministro do governo socialista chefiado por Manuel Valls.
Os resultados de ontem foram comentados pelo porta-voz do governo nomeado por Macron, Christophe Castaner, que disse estar-se perante “um mandato para avançarmos depressa”. Na campanha, o presidente prometeu reformar profundamente a legislação na área económica, adotando uma linha mais liberal e favorável ao investimento, e instaurar um novo estilo de fazer política. Contudo, se o En Marche apresentou como candidatos uma série de pessoas sem qualquer passado político, apresentou muitas outras provenientes da área socialista e outras com um longo historial de atividade nesta área.
Também num comentário ao resultado eleitoral, o primeiroministro Édouard Philippe afirmou que “desde há um mês [data da eleição de Macron] que a França está de volta”.
A vitória do En Marche confirma uma lógica eleitoral que se tem repetido desde 1981. Após a sua eleição, o novo presidente, desde François Mitterrand, obteve uma maioria da sua família política nas legislativas seguintes.