Diário de Notícias

A CANTORA PEDIU E 15 MIL CANTARAM E DANÇARAM NA SUA ESTREIA EM PORTUGAL

ARIANA GRANDE

- CÉSAR AVÓ

Uma salva de palmas para uma fila de polícias que entra a serviço, pais extremosos a oferecer um último sumo de laranja junto às grades, alguns guinchos e muita excitação. Foi assim que se viveram os momentos antes da abertura de portas para o concerto de Ariana Grande, ontem, no Meo Arena, em Lisboa.

“É uma aventura!”, resumem Maria e Ana, ambas com 20 anos, vindas do Porto. Chegaram às 18.00 de sábado às portas da entrada do pavilhão outrora conhecido como da Utopia. Foi bem real, apesar de terem ficado surpreendi­das, chegar em primeiro lugar, naquela área. Porquê a pressa? “Comprámos bilhete em novembro. É o mais barato, não tem lugares marcados, também por isso viemos mais cedo.” Na fila uma dúzia de metros ao lado, Andreia e Filipa, de 24 e 22 anos, também justificam a presença madrugador­a com o facto de não terem lugar marcado. Vieram de Braga e estão vestidas com T-shirts e acessórios a condizer. “Nunca tínhamos passado a noite fora por causa de um concerto”, dizem. Foi difícil? Nem pensam nisso. Trouxeram farnel e conseguira­m dormir um pouco de manhã. Maria e Ana reconhecem que custou e que o cansaço já pesa. “Mas depois passa.”

Do outro lado do pavilhão, na fila para os lugares da frente (o chamado golden circle), há amigos das bracarense­s e, na dianteira, fãs que ali passaram duas noites. “Estamos aqui antes das pessoas que vieram ver o Ricky Martin”, garante o grupo do qual fazem parte Andreia, Carolina e Sara. Poucos lugares atrás, está Laura, a primeira espanhola da fila (a digressão só passa por Barcelona, o que explicará uma grande presença de espectador­es do país vizinho). Tem 17 anos e o pai trouxe-a de Granada para a fila logo no sábado de manhã. “O meu pai ajudou-me, passei muito frio, mas conheci muita gente e os portuguese­s são muito simpáticos. Assim vale a pena. Espero ter forças para o concerto”, concluiu. As portas abrem-se às 17.30 e, depois da entrada dos fãs que ali passaram horas, é a vez de famílias inteiras ou mães e filhas. Ariana Grande é para crianças e adolescent­es? A palavra às fãs: “A personalid­ade e a música dela ultrapassa gerações, a minha avó gosta muito da voz dela”, diz a bracarense Andreia.

Às 20.45 começou o espetáculo de Ariana: no ecrã um relógio marca dez minutos em contagem decrescent­e enquanto se vê a norte-americana em várias poses. À medida que o tempo se esgota, faz o gesto de que não está a ouvir o púexcitaçã­o, blico: é o primeiro grande bruaá da noite, só suplantado com a entrada do corpo de baile e da própria protagonis­ta. Não há músicos em palco, nem aparenta que alguém sinta a falta. “Sing, Lisbon!” – e os lisboetas, de gema, ou de empréstimo, seguiram o conselho de Ariana e cantaram e dançaram. A festa está montada.

Há experiênci­as na vida pelas quais ninguém quer passar. A de um artista que vive de perto a morte de espectador­es, como a que matou 22 pessoas e feriu dezenas de outras, só pode deixar marcas profundas. Mais do que a tinta com que Ariana Grande e a sua equipa terão eternizado a dupla passagem por Manchester (a crer no The Sun, a cantora norte-americana e os companheir­os foram tatuados com a imagem de uma abelha, símbolo daquela cidade do Norte de Inglaterra por uma equipa de tatuadores durante o concerto de caridade de dia 4). Mas não se pense que a carga emocional vivida no One Love Manchester, que recolheu dois milhões de libras para as famílias das vítimas do bombista suicida, se reflete em palco. The show must go on, já cantava Freddie Mercury quando sabia do seu destino. E Grande, no lugar de discursos ou palavras de ordem, optou por juntar o tema que cantou no citado espetáculo, o clássico Somewhere over the rainbow (entretanto lançado como single), antes das luzes se apagarem.

A digressão Dangerous Woman voltou à estrada após a paragem ditada pelo atentado no final do concerto de Manchester, a 22 de maio (todas as fãs ouvidas pelo DN destacam a atitude da cantora em retomar a tournée). Paris, na quarta-feira, e Lyon, na sexta, receberam a cantora de 23 anos num misto de por parte dos fãs, e de preocupaçã­o, por parte dos pais e das forças de segurança. Com a capital francesa toldada por ataques terrorista­s e suas derivações, como a tentativa de agressão a um polícia com um machado, na véspera do concerto, levou a que as forças da ordem emitissem um comunicado a dar conta de que “o contexto simbolicam­ente forte” do espetáculo levou a que fossem tomadas medidas de segurança especiais. O forte aparato, que incluiu patrulhame­nto dos militares da Operação Sentinela, repetiu-se dois dias depois na segunda maior cidade francesa. Em Lisboa, as limitações impostas aos espectador­es mantiveram-se: mochilas, câmaras fotográfic­as, e os acessórios dos telemóveis selfie sticks e powerbanks, mas também objetos como correntes metálicas, cadeiras ou chapéus-de-chuva ficaram de fora.

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Desde cedo formaram-se filas no Parque das Nações. As bandeletes com orelhas de coelhinha à Playboy foram o acessório mais visto. A mensagem do clube de fãs português a Ariana Grande (“What we have is untouchabl­e”) também marcou forte presença
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Ariana Grande em foto de arquivo. Ontem, a recolha de imagens não foi permitida

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