Diário de Notícias

Tribunal Constituci­onal Rui Moreira não declarou interesses na Selminho

Presidente da Câmara do Porto tinha uma participaç­ão indireta, através da Morimor SGPS, na imobiliári­a familiar, que já estava em litígio com o município quando o autarca foi eleito. Gabinete de Moreira garante que todas as suas “declaraçõe­s públicas são

- MIGUEL MARUJO

No momento em que Rui Moreira chegou à Câmara Municipal do Porto, a 22 de outubro de 2013, a empresa da sua família Selminho Imobiliári­a já mantinha um litígio com a autarquia portuense, desde 2005, mas o presidente da Câmara recém-eleito não declarou explicitam­ente esses interesses na declaração de rendimento­s que deu entrada a 18 de dezembro de 2013 no Tribunal Constituci­onal (TC). Segundo o seu assessor, Rui Moreira “não tinha, em 2013, qualquer participaç­ão direta na empresa e nunca fez parte dos seus órgãos sociais”.

A participaç­ão de Moreira (que o próprio assumiu em várias declaraçõe­s públicas) fazia-se através da Morimor, SGPS, SA, uma sociedade detida pela família. Na resposta ao DN, a assessoria do seu gabinete argumenta: “Outra coisa é o dr. Rui Moreira, pela sua participaç­ão indireta, via SGPS familiar, nunca ter ocultado o seu interesse na empresa. Assim, quando o tema se levantou politicame­nte, o Dr. Rui Moreira sentiu-se impedido, declarando ter uma participaç­ão indireta. Logo, quer a declaração ao TC quer todas as declaraçõe­s públicas do Dr. Rui Moreira são verdade e inatacávei­s.”

Na consulta efetuada pelo DN às três declaraçõe­s depositada­s no TC, na tarde de ontem, Rui Moreira identifica quatro empresas no capítulo em que tem de assinalar as suas “quotas, ações, participaç­ões ou outras partes sociais do capital de sociedades civis ou comerciais”: a Morimor, SGPS, SA; a Morimor Prestação de Serviços; a Expoconser – Exportador­a de Conservas, SA; e a Essência do Vinho Brasil – Organizaçã­o de Eventos, SA.

Para Moreira basta a referência à Morimor na declaração entregue ao TC. “A Selminho é uma gaveta da Morimor. O Dr. Rui Moreira declarava todas as empresas que eram da Morimor”, interpelou o assessor, quando questionad­o pelo DN sobre o facto de não estar explícita a pertença da Selminho. “Se tivesse declarado que era sócio da Selminho, teria mentido ao TC”, argumentou a fonte oficial. “O que é legal e tem de estar na declaração é que se diga o que se tem”, insistiu. Moreira agora tem quota direta A empresa – a que Moreira se referiu, numa entrevista ao Público, a 26 de abril, como “uma sociedade de que faz parte assumidame­nte, que é da família, em que está envolvido há mais de 16 anos” – era detida até quinta-feira, dia 8, em 95% pela Morimor, SGPS, SA (quota de 142 500 euros) e em 5% pela mãe de Rui Moreira, Maria João de Almeida Brandão de Carvalho.

Ontem, a sociedade que detinha a Selminho foi dissolvida em Santa Maria da Feira e os ativos passaram para os seus acionistas. Rui Moreira tem uma quota de 17 812,50 euros, resultante da divisão da quota da Morimor, que era de 142 500 euros no total. Ou seja, o presidente da Câmara do Porto é agora sócio da Selminho, com participaç­ão direta.

Rui Moreira teve de entregar uma primeira declaração, “na qualidade de gestor público”, quando assumiu a presidênci­a do Conselho de Administra­ção da PortoVivo SRU – Sociedade de Reabilitaç­ão Urbana da Baixa Portuense, SA. Na altura, em carta enviada a 8 de fevereiro de 2012, indicou no ativo patrimonia­l participaç­ões na Morimor, SGPS (com uma quota de 150 mil euros) e na Morimor Prestação de Serviços (uma quota de 30 mil euros). A sua participaç­ão nestas empresas alterou-se na declaração entregue a 18 de dezembro de 2013, já na qualidade de presidente do município portuense: Moreira detinha 50 mil euros na Morimor, SGPS, e outros 50 mil na Morimor Prestação de Serviços.

Na referida entrevista, o autarca recusa o ditado sobre a seriedade da mulher de César. “Gosto muito mais da lógica da rua do que desta lógica de que enferma a mulher de César. Na rua, o que as pessoas dizem é: ‘Se o presidente se quisesse orientar, não se orientaria certamente com um terreno que é da família’.”

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Moreira defende que a declaração entregue no Constituci­onal está correta e que “teria mentido” se dissesse que era sócio da Selminho

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