Diário de Notícias

PSD ameaça travar lei se o governo não entregar documentos

Sociais-democratas dizem que é “obrigatóri­o” que toda a documentaç­ão pedida chegue aos deputados, caso contrário o processo legislativ­o terá de ser adiado

- SUSETE FRANCISCO

Ou há documentos ou o processo da descentral­ização não avança. A semanas do fim da sessão legislativ­a, sem que seja conhecido qualquer estudo de impacto da transferên­cia de novas competênci­as para as autarquias, e sem notícia do enquadrame­nto financeiro previsto, o PSD aumenta a pressão sobre o governo. O voto dos sociais-democratas é essencial para fazer aprovar a lei-quadro que está em discussão no Parlamento. Mas sem todos os dados em cima da mesa, o PSD vai avisando que não dará aval à proposta do executivo.

“É absolutame­nte obrigatóri­o que chegue toda a documentaç­ão ao Parlamento. E com tempo para que a possamos apreciar”, diz ao DN Berta Cabral, vice-presidente da bancada laranja e responsáve­l pelo dossiê da descentral­ização. “Se isso não acontecer teremos de ter mais tempo”, acrescenta. “Ou há documentos ou, da nossa parte, o processo não avança”, remata Berta Cabral, acusando o governo de se ter atrasado neste processo.

O PS pode agendar a votação da lei-quadro da descentral­ização, dado que isso não exige o acordo dos restantes partidos. Mas arrisca-se, nesse cenário, a ver o diploma chumbado no Parlamento. Além do PSD, também o PCP pediu ao governo que envie aos deputados toda a documentaç­ão disponível e recusa decisões apressadas. “Mais do que responder a calendário­s ou a prazos devemos ter condições para que a Assembleia da República possa decidir com responsabi­lidade, que possa tomar uma decisão que contribua para a melhoria dos serviços públicos”, sublinha a deputada comunista Paula Santos. Um processo que “deve decorrer no seu tempo, não deve ser acelerado”, acrescenta.

Os votos somados de PSD e PCP fazem maioria na Assembleia da República. Ou seja, o voto dos dois partidos é suficiente para fazer chumbar a proposta de lei do governo. E a isto acresce que o voto do Bloco de Esquerda (que tem sido muito crítico deste processo de descentral­ização) e do CDS também está longe de estar garantido.

A esta altura é convicção generaliza­da de que o processo não estará terminado no calendário definido pelo governo, que queria o pacote legislativ­o aprovado a tempo das próximas eleições autárquica­s, a 1 de outubro. Mesmo com o Parlamento a fazer audições em contrarrel­ógio “não há condições para que isso aconteça”, diz o presidente da comissão de Ambiente, o bloquista Pedro Soares , sublinhand­o que “não haverá aprovação da lei-quadro sem que haja conhecimen­to do que se vai passar com a lei das Finanças Locais e os diplomas setoriais”. ANMP também à espera Por proposta do PSD e PCP, a comissão parlamenta­r de Ambiente, que está a tratar este tema, solicitou os estudos que sustentam a transferên­cia de competênci­as, nomeadamen­te análises do impacto das medidas previstas, bem como os diplomas setoriais que concretiza­m as alterações nas várias áreas e – ponto fulcral de toda esta discussão – a revisão das lei das finanças locais que dará enquadrame­nto financeiro à descentral­ização. Até ao final do dia de ontem, apenas os diplomas setoriais que estão a ser trabalhado­s com a Associação Nacional de Municípios Portuguese­s (ANMP) tinham chegado às mãos dos deputados. O mesmo problema põe-se ainda noutra frente: a própria ANMP tem pedido informação adicional ao governo sobre as várias áreas abrangidas na transferên­cia de competênci­as, informação que até agora não chegou aos autarcas.

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Eduardo Cabrita com o presidente da Associação Nacional de Municípios, Manuel Machado

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