“Os partidos de esquerda querem continuar a ser os procuradores políticos dos negros, mas não os colocam em situação de poderem fazê-lo por si”
que humanamente somos pessoas, mas politicamente somos negros. Existe uma política de negros, e não fomos nós que a criámos.” Quem fala é Rui Estrela, 38 anos, nascido em Portugal de pais nascidos em Portugal – os avós vieram em 1968 de Cabo Verde –, representante mais velho da terceira geração que, crê, tem as condições para mudar as coisas. “A geração nova é que pode reclamar-se de cidadania plena, Só esta esta geração é que pode virar-se para o país e dizer ‘então?’. É este o espaço onde eles querem ter tudo aquilo a que têm direito. E começam a ter consciência de que é preciso fazer esse combate crítico.” Membro da Plataforma Gueto, Rui está a trabalhar numa tese de mestrado, no ISCTE, que passa “pela entreajuda como forma de emancipação”. E tem uma certeza: “Não é só a discutir dentro da academia que isto se resolve. Há muita coisa para fazer. O colonialismo perdura, a descolonização está por fazer aqui, ainda. É preciso descolonizar Portugal. Como? Não sabemos exatamente, mas parados não vamos ficar.” Nascida num bairro social, Cristina Roldão (à esquerda), 37 anos, é socióloga e investigadora do ISCTE. “Da minha geração, daquele bairro, mais ninguém chegou à faculdade”, diz. “As baixas expectativas são recebidas da sociedade. E não vejo isso mudar.” Rui Estrela, 38 anos (em cima), é membro da Plataforma Gueto e afrodescendente de terceira geração, que crê ser aquela “que se pode virar para o país e dizer: ‘Então?’” Carlos Pereira, 25 anos, apresenta-se como “o primeiro humorista negro”.“Muitos negros não aprovam, é como se fosse um desertor. É como se certas coisas não fossem para nós. Há um preconceito enorme dos negros em relação a si próprios.”