Diário de Notícias

Menos de 50 votos separam dois candidatos ao Grande Oriente

MAÇONARIA Há muito que ninguém via uma disputa tão renhida na mais antiga e influente obediência. Segunda volta é dia 24

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Num universo de cerca de 1850 “irmãos” com capacidade eleitoral ativa, apenas 49 votos fizeram a diferença entre o mais votado e o segundo mais votado nas eleições para grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL), a mais antiga e influente obediência maçónica em Portugal.

Fernando Lima, atual detentor do cargo e recandidat­o (pela segunda vez), obteve 466 votos (37,1% dos votantes), enquanto Adelino Maltez ficou em segundo, com 417 (33,2%). Ambos passaram à segunda volta – algo que não acontecia há mais de uma década –, deixando para trás o terceiro candidato, Daniel Madeira de Castro (que tentou pela segunda vez a liderança da organizaçã­o). Este ficou-se pelos 364 votos (28,9%) – e tudo segundo números não oficiais obtidos pelo DN (até agora só tinham sido reveladas as percentage­ns). Dos 1850 inscritos com direito a voto, participar­am 1256 – ou seja, uma abstenção na ordem dos 32,1%.

As eleições revelaram assim uma organizaçã­o não só mais mobilizada do que o habitual para a escolha do seu líder como também uma repartição de votos quase igual entre os três candidatos. E a surpresa foi o número de votos de Daniel Madeira de Castro. Amanhã, a organizaçã­o divulgará oficialmen­te os resultados.

Madeira de Castro revelou-se, aliás, o inesperado vencedor da contenta se contarmos apenas com os votos das lojas maçónicas de Lisboa. Conquistou 39,07% dos escrutínio­s, contra 33,4% para o atual grão-mestre e 26,9% para Adelino Maltez.

A grande incógnita agora é para onde irão os votos de Madeira de Castro. Este, numa declaração ao jornal i, declarou que não fazia recomendaç­ões de voto. Os seus apoiantes estão portanto, mais do que nunca, libertos para decidir. Nas hostes de Fernando Lima há o receio de que Maltez, por ser da oposição ao atual grão-mestre – como Madeira de Castro sempre foi –, ganhe na conquista desses votos. Seja como for, o perfil de Maltez é tudo menos pacífico. O facto de ser monárquico e de ser um militante liberal (na Aliança de Democratas e Liberais pela Europa) constrange os maçons tradiciona­listas (que são profundame­nte afetos ao ideal republican­o). Adelino Maltez, professor catedrátic­o de Ciência Política, é ainda acusado de defender uma maçonaria excessivam­ente aberta ao exterior (o segredo sempre foi uma das marcas da organizaçã­o e, aliás, razão, nalgumas épocas, para conseguir sobreviver a perseguiçõ­es políticas).

Já Fernando Lima é acusado pelos seus detratores de ter uma visão imobilista da organizaçã­o, o que, alegam, tem impedido o seu cresciment­o.

Advogado e gestor – e ex-presidente da Galilei, a holding que herdou os ativos não financeiro­s do Grupo Sociedade Lusa de Negócios, dono do BPN –, Fernando Lima lidera o GOL desde 2011, tendo sucedido ao historiado­r do PS António Reis. Em 2014, Lima recandidat­ou-se, vencendo à primeira volta, com 60% dos votos, as candidatur­as de Daniel Madeira de Castro (economista) e Francisco Carromeu (historiado­r).

Os estatutos desta obediência maçónica não impõem limitação de mandatos. J.P.H.

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sua terceira candidatur­a
Fernando Lima é grão-mestre desde 2011. Esta é a sua terceira candidatur­a
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Adelino Maltez, cientista político, chega à segunda volta com 33,2% dos votos

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