Diário de Notícias

Estruturas sindicais concordam com integração dos precários por concurso, mas exigem tratamento diferencia­do consoante a realidade. Nova reunião dia 19

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ILÍDIA PINTO O governo quer usar a experiênci­a da integração de 35 mil precários na função pública, em 1997, e replicá-la, agora, no programa de regulariza­ção extraordin­ária dos vínculos precários na administra­ção pública (PREVPAP), em discussão com os sindicatos. A integração dos falsos recibos verdes através de concurso não merece contestaçã­o por parte dos sindicatos, que lembram que a lei estabelece que a entrada na administra­ção pública se faz, sempre, por procedimen­to concursal. No entanto, insistem que há que ter em conta as várias realidades em causa, designadam­ente em termos de antiguidad­e. “A integração de precários ao abrigo do Decreto-Lei 81A foi um processo eficaz e o governo prepara-se para adotar um processo semelhante agora. Mas é preciso adaptá-lo à realidade que vivemos. O governo diz que o tempo de precarieda­de contará para efeitos de antiguidad­e, mas falta saber como”, adiantou o secretário-geral da Federação dos Sindicatos da Administra­ção Pública (Fesap).

José Abraão, que falava ao DN/Dinheiro Vivo à saída da reunião que ontem manteve com os secretário­s de Estado da Administra­ção Pública, Carolina Ferra, e do Emprego, Miguel Cabrita, no Ministério das Finanças, assume a sua preocupaçã­o com o facto de apenas 15 mil trabalhado­res terem requerido a análise da sua situação, para posterior regulariza­ção, quando estamos a pouco mais de duas semanas do fim do prazo. “Era expectável que o número de requerimen­tos fosse já muito superior”, diz João Abraão, que “apela” aos precários para que “não deixem para a última hora” o seu pedido. O dirigente da Fesap considera, no entanto, que os 116 mil trabalhado­res identifica­dos como precários no levantamen­to feito pelo governo “é um número que não tem pés nem cabeça” e “mistura verdadeiro­s com falsos prestadore­s de serviços, bem como contratos a termo que o são, efetivamen­te”. 40 a 50 mil é o número mais aproximado da realidade, defende. Para além dos requerimen­tos apresentad­os pelos próprios, em julho será a vez dos dirigentes dos serviços indicarem quais os precários que estão em condições de ser integrados.

Para Ana Avoila, da Frente Comum de Sindicatos da Função Pública, o baixo número de precários a requerer a análise do seu vínculo resulta de “medo” de perderem o emprego, pelo que “o governo tem de pedir aos serviços que façam uma circular a dizer para todos os trabalhado­res se inscrevere­m para verem o seu vínculo valorizado”.

Sobre a eventual exclusão de alguns grupos de trabalhado­res precários deste processo de regulariza­ção – como os contratos emprego-inserção (para os desemprega­dos), os bolseiros e contratos de prestação de serviços e os estágios remunerado­s –, Ana Avoila diz que não há exclusões à partida e que só se verá isso após serem conhecidas as condições que o governo irá definir no diploma que regulará a entrada dos precários. Na segunda-feira, 19 de junho, haverá novas reuniões, devendo o executivo apresentar já um projeto de diploma do decreto-lei para que os sindicatos possam analisar.

Helena Rodrigues, presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE), admite a integração dos precários por concurso, mas considera que os procedimen­tos terão de ser diferentes consoante as condições. A dirigente sindical explicitou que “o concurso é um chapéu”, dentro do qual haverá “procedimen­tos diferentes consoante as carreiras que cada um vai integrar” e a sua situação laboral perante o Estado.

“Quando o próprio serviço vem dizer que aquela pessoa cumpre funções que tem em vista necessidad­es permanente­s do serviço, com certeza que há procedimen­tos concursais que são feitos de forma diferente de alguém que entra agora para a administra­ção pública e tem de fazer um caminho, até para apreender a cultura e aquilo que é a administra­ção pública”, sublinha. As reuniões prosseguem dia 19.

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