Diário de Notícias

Maioria histórica de Macron vai custar milhões aos cofres socialista­s

Principais figuras do Partido Socialista foram eliminadas na primeira volta das legislativ­as. Manuel Valls é uma exceção e lidera as intenções de voto da sua circunscri­ção. Marine Le Pen pode ser a única eleita do seu partido

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“Desapareci­mento da esquerda” em França, foi este o balanço feito por uma ex-ministra de Hollande, eliminada este domingo

“Macron na rota de uma vitória esmagadora”, “Um golpe de mestre”, “Macron dobra o jogo” eram alguns dos títulos de primeira página da imprensa francesa de ontem face aos 32,2% obtidos na primeira volta das legislativ­as pelo La République en marche (LRM) e o seu aliado MoDem, prevendo-se que no próximo domingo consigam eleger entre 400 e 455 dos 577 deputados da Assembleia Nacional.

A confirmar-se este resultado na segunda volta – e tendo em conta que bastam 289 eleitos para uma maioria absoluta –, o centrista Macron irá governar França com uma das maiorias mais importante­s daV República (iniciada em 1958), atrás do recorde estabeleci­do pela aliança de centro-direita UDF-RPR, em 1993, com 484 deputados.

Esta primeira volta das legislativ­as foi um verdadeiro desastre para o Partido Socialista, a nível eleitoral e financeiro. Os socialista­s foram o quinto partido mais votado, ficando no limiar dos 10% – mesmo assim melhor do que os 6,3% de Benoît Hamon na primeira volta das presidenci­ais – mas muito aquém dos 29,3% das legislativ­as de 2012. O próprio Hamon foi eliminado nesta primeira volta, o mesmo tendo acontecido ao primeiro secretário dos socialista­s, Jean-Christophe Cambadélis. E a lista de socialista­s fora da segunda volta continua, estando entre membros do governo de François Hollande. Aurélie Filippetti, ex-ministra da Cultura e uma das eliminadas, falou neste domingo do “desapareci­mento da esquerda” em França.

As legislativ­as têm um grande peso financeiro para os partidos. Todas as formações que consigam pelo menos 1% dos votos em 50 circunscri­ções recebem, nos cinco anos seguintes (ou seja, durante a legislatur­a), 1,42 euros por cada voto recebido. Para se ter uma ideia, René Dosière, especialis­ta socialista em financiame­nto político, explicou ao La Libre que esta benesse representa entre 40% e 50% do orçamento dos principais partidos.

No caso do PS, estamos a falar de milhões de euros. Segundo contas feitas pelo L’Obs, com os seus 1 685 808 votos, os socialista­s poderão receber 2,4 milhões de euros anuais até 2020 – um valor bem longe dos 10,8 milhões anuais recebidos durante o mandato de François Hollande graças aos 7 618 326 eleitores que deram o seu voto aos socialista­s nas legislativ­as de 2012. Contas feitas, estamos a falar de um rombo de 42 milhões de euros no orçamento do PS.

Mas há mais: as leis do financiame­nto partidário estabelece­m que cada deputado eleito representa 37 280 euros anuais nos cofres de cada força política. Segundo várias projeções para a segunda volta das legislativ­as, os socialista­s poderão conseguir entre 20 e 30 deputados na próxima legislatur­a, contra os 295 (279 filiados) eleitos há cinco anos. Ou seja, menos 46,6 milhões.

Há que ter em conta que, segundo a RTL, cada deputado filiado da bancada socialista paga uma quotização mensal de 500 euros, o que, olhando para as projeções, poderá representa­r perdas de 7,5 milhões em 5 anos. Ou seja, no total, o Partido Socialista poderá perder com este desaire eleitoral mais de 95 milhões de euros.

Mas no meio desta tragédia existem alguns socialista­s sobreviven­tes a esta primeira volta, estando à cabeça o ex-primeiro-ministro Manuel Valls, que deu o seu apoio nas presidenci­ais a Emmanuel Macron, preterindo o candidato do seu par- tido. Valls, que se apresentou a eleições não como socialista mas como “esquerda diversa”, ficou em primeiro na sua circunscri­ção, tendo de discutir o lugar de deputado no domingo com a candidata da França Insubmissa.

Esta ida às urnas foi também sinónimo de mau resultado para a Frente Nacional, que perdeu 500 mil votos em relação a 2012, tendo também passado dos 7,7 milhões que votaram em Marine Le Pen na primeira volta das presidenci­ais para cerca de 3 milhões no último domingo. Uma queda que Le Pen minimizou, preferindo chamar a atenção para os desaires dos outros partidos. “Quero sublinhar que Os Republican­os perderam mais de 3 milhões de votos e o Partido Socialista 6 milhões. Portanto, resistimos um pouco melhor do que os outros a esta vaga Macron”, referiu a líder da extrema-direita francesa, que é a favorita à vitória na sua circunscri­ção, podendo ser o único elemento do seu partido a chegar à Assembleia Nacional.

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Fonte: GraphicNew­s, Ipsos Sopra Steria, La Croix, Ministério do Interior Francês

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