“Meti-nos nesta confusão e vou tirar-nos dela”, promete May
Na reunião com deputados conservadores, primeira-ministra assumiu responsabilidade pela perda da maioria. Negociações com DUP podem obrigar a adiar discurso da rainha
SUSANA SALVADOR A primeira-ministra britânica, Theresa May, conseguiu acalmar ontem os deputados do seu partido, na primeira reunião após perder a maioria no Parlamento. “Meti-nos nesta confusão e vou tirar-nos dela”, terá dito May. Mas, ainda em negociações com o Partido Unionista Democrático (DUP, na sigla em inglês) para formar governo, a primeira-ministra poderá ter de adiar o discurso da rainha, que serve para o executivo apresentar as prioridades legislativas. Este estava previsto para a próxima segunda-feira, no mesmo dia do início das negociações do brexit, que também estão em risco.
“Não deteto nenhum grande apetite entre os meus colegas para sujeitar o público a uma nova dose massiva de incerteza ao envolvermo-nos numa campanha eleitoral autoindulgente no Partido Conservador”, tinha dito de manhã o líder do comité de 1922, Graham Brady, à BBC. Este comité, composto por todos os deputados do partido, reuniu-se ontem com Theresa May, horas depois do primeiro Conselho de Ministros pós-eleitoral.
No encontro, May terá admitido ser a responsável por deixar os conservadores no caos, acrescentando que também os tirará de lá. Os deputados, questionados à saída do encontro, disseram ter confiança na primeira-ministra, que deixou claro que iria servir o país “o tempo que vocês quiserem”. Depois de os tories terem perdido 13 deputados e a maioria no Parlamento numas eleições convocadas por May com o intuito de reforçar o seu poder, surgiram rumores de uma eventual disputa pela liderança. Para já, contudo, esta parece estar afastada.
Mas sem a maioria May precisa de negociar um acordo com o DUP. E sem conclusões à vista, isso significa que o discurso da rainha poderá não ocorrer na segunda-feira, como previsto. O discurso, lido por Isabel II no Parlamento em nome do governo, é impresso num pergaminho especial (chama-se goatskin paper, isto é, papel de pele de cabra, apesar de atualmente já não ser fabricado com este material), desenhado para sobreviver e ser legível durante 500 anos. O problema é que a tinta demora a secar e o discurso tem de ser enviado com dias de antecedência para a rainha aprovar. Diz-se que já haveria um preparado para uma maioria conservadora e outro para um governo Labour, mas a falta de maioria no Parlamento obriga a uma terceira versão.
O adiar do discurso da rainha “mostra o nível de perturbação e caos em que está o governo”, disse à BBC o ministro-sombra para o brexit, Keir Starmer. Caso os deputados chumbem o discurso, isso