Diário de Notícias

PEQUENOS INVESTIDOR­ES EM TRIBUNAL PARA REAVER 10 MILHÕES

Ações em tribunal começaram a dar entrada na sexta-feira. Uma centena de pequenos investidor­es querem recuperar todo o dinheiro aplicado. Mais de dez milhões de euros

- ANA MARCELA

Mais de cem pequenos investidor­es detentores de dez milhões de euros em obrigações da PT Finance/Oi estão a dar entrada desde sexta-feira com ações na justiça contra os bancos que venderam ao balcão títulos desta empresa em processo de recuperaçã­o judicial. Novo Banco, Best, Bankinter (que comprou o Barclays), Deutsche Bank, CGD, BPI, Santander e Millennium bcp são os bancos na mira dos investidor­es que querem recuperar a totalidade do seu dinheiro.

“Estamos a pedir a anulação do contrato entre o banco e os pequenos investidor­es por falha dos deveres de informação por parte dos bancos”, adianta Ricardo Marques Candeias, managing partner da Candeias & Associados, escritório de advogados que representa cerca de 160 pequenos investidor­es que detêm 14 milhões em títulos da PT Finance. “Estamos a pedir a devolução total do investimen­to que foi feito.”

106 pequenos investidor­es já deram luz verde para seguimento aos processos na justiça. As primeiras ações começaram a dar entrada no tribunal no final da semana passada um pouco “por todo o país, dependendo do banco em que foi vendido o produto” e, até quarta-feira, Ricardo Marques Candeias conta dar entrada com a totalidade dos processos até agora já com o OK dos investidor­es.

A maioria das ações individuai­s estão a dar entrada em Lisboa. “Apesar de haver um tronco comum, cada caso é um caso, depende do que foi contratado”, justifica o advogado. “Há situações graves. Pessoas que compraram obrigações que pensavam ser da PT Finance mas não eram emitidas pela PT. O emissor era a Espírito Santo Internacio­nal (ESI) ou o Deutsch Bank, ambos com sede na Holanda”, descreve Ricardo Marques Candeias.

Entre os pequenos investidor­es estão detentores de obrigações simples da PT Finance, que a 26 de julho do ano passado não foram reembolsad­os do seu investimen­to depois de a empresa, que passou a estar no universo da brasileira Oi, ter dado entrada com um processo de recuperaçã­o judicial. Ficaram por pagar 231,2 milhões de uma emissão de 400 milhões de euros lançada em 2012 através da PT Finance – ainda a empresa fazia parte da Portugal Telecom, então liderada por Zeinal Bava – e vendida aos balcões dos bancos mais relevantes no mercado nacional. Na época, 19 576 pequenos investidor­es subscrever­am esta emissão de obrigações. Apenas parte optou pelo reembolso, quando a PT Finance passou para a Oi.

Mas também detentores de Credit Linked Notes (CNL), produtores financeiro­s complexos que tinham obrigações da PT Finance como referência e que, com a entrada em recuperaçã­o judicial da companhia, viram o seu investimen­to perder o valor, no momento do reembolso, em alguns casos com perdas de mais de 90% do capital investido.

Inicialmen­te, a estratégia do escritório Candeias & Associados passava por pedir, no caso dos detentores de CNL, uma indemnizaç­ão do valor total investido e, no caso das obrigações simples, o diferencia­l entre o valor investido e o que seria recuperado após a conclusão do processo de recuperaçã­o judicial da Oi no Brasil. A opção final passou, nos dois casos, por pedir a devolução total do montante aplicado nestes produtos financeiro­s.

Uma mudança de estratégia motivada pelo receio de que os investidor­es não cheguem a recuperar através do processo de recuperaçã­o a decorrer no Brasil? “Trata-se de admitir de que há um risco. Por isso, a estratégia acabou por ser pedir a devolução de todo o montante por falha do dever de informação”, diz o advogado. O plano de recuperaçã­o judicial da Oi – do qual a PT Finance é reconhecid­a como credora – ainda precisa de ser aprovado pelos credores em assembleia geral, que ainda não tenha uma data marcada. A Oi aponta setembro para a reunião magna em que os credores irão aprovar o plano para o pagamento de uma dívida de 65,4 mil milhões de reais, ou seja, mais de 17 ,8 milhões de euros.

“Estamos a pedir a anulação do contrato por falha do dever de informação por parte dos bancos” RICARDO MARQUES CANDEIAS

MANAGING PARTNER

CANDEIAS& ASSOCIADIS­O

 ??  ?? Zeinal Bava liderava a PT em 2012, quando a emissão obrigacion­ista foi lançada
Zeinal Bava liderava a PT em 2012, quando a emissão obrigacion­ista foi lançada
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal