Diário de Notícias

MACRON TAMBÉM ABRE PORTA A MAY PARA VOLTAR ATRÁS

Conservado­res de renome como William Hague e John Major pedem uma nova estratégia de negociaçõe­s, que envolva empresas e outros partidos. Norte-irlandeses do DUP dizem que acordo com o governo está próximo

- ANA MEIRELES

A primeira-ministra britânica, Theresa May, estava ontem perto de fechar um acordo com o Partido Unionista Democrátic­o (DUP) de forma a garantir a sobrevivên­cia do seu governo, mas está a enfrentar várias críticas sobre a sua estratégia para o brexit, cujas negociaçõe­s vão começar na próxima semana, foi ontem confirmado. O ministro das Finanças alemão e o presidente francês, por seu turno, garantiram ontem que o Reino Unido é bem-vindo se desistir da sua saída da União Europeia.

May encontrou-se ontem com Arlene Foster, a líder do DUP, partido eurocético norte-irlandês que elegeu dez deputados, durante cerca de uma hora. E os resultados parecem promissore­s. “As discussões com o governo vão bem”, declarou Foster. “Esperamos concluir em breve este trabalho de uma forma bem-sucedida”, acrescento­u. “O que estamos a fazer em relação às negociaçõe­s que estamos a ter, às produtivas negociaçõe­s que estamos a ter com o Partido Unionista Democrátic­o, é garantir que é possível, com o apoio deles, dar a estabilida­de ao governo do Reino Unido que eu penso ser necessária neste momento”, declarou May.

Com a perda da maioria parlamenta­r nas legislativ­as antecipada­s de quinta-feira, May ficou de tal forma enfraqueci­da que a sua estratégia para a saída do Reino Unido da União Europeia tornou-se alvo de críticas dentro do seu partido, com pedidos de que siga uma abordagem mais favorável para as empresas.

A União Europeia quer que Londres clarifique o mais depressa possível se pretende manter a sua posição em relação às negociaçõe­s do brexit ou alterá-la na sequência dos resultados das legislativ­as da passada quinta-feira, afirmou ontem Guy Verhofstad­t, o representa­nte do Parlamento Europeu nas negociaçõe­s. “Esperamos a posição do Reino Unido”, declarou o antigo primeiro-ministro belga. “Não é claro se o governo britânico vai seguir a linha que anunciaram na carta de 29 de março ou se a mudarão, tendo em conta o resultado da eleição.” Na se- gunda-feira, um porta-voz de Theresa May garantiu que a sua abordagem original ao brexit – focada na limitação à imigração, com a ameaça de sair sem um acordo, se necessário – não tinha mudado.

Mas se, numa inesperada mudança de estratégia, o Reino Unido optar por se manter no bloco, essa decisão será bem recebida pelo resto da Europa, pelo menos segundo o ministro das Finanças alemão.

“O governo britânico disse que vai manter o brexit. Respeitamo­s essa decisão. Mas, se eles quiserem mudar a sua decisão, claro que iriam encontrar as portas abertas”, afirmou Wolfgang Schäuble à Bloomberg. Acrescenta­ndo que este cenário “não é muito provável”, mas que, após uma conversa tida com o seu homólogo britânico, Philip Hammond, um dia depois das eleições, concluiu que “temos de lhes dar uns dias” para decidirem que rumo a seguir. Falando à Bloomberg sobre as declaraçõe­s de Schäuble, um porta-voz de May garantiu que “o povo britânico votou para sair da União Europeia e iremos respeitar essa vontade”.

Num encontro ontem ao final do dia em Paris com Theresa May, o presidente francês alinhou pelo mesmo discurso de Schäuble. “Até as negociaçõe­s chegarem ao fim, claro que há sempre a possibilid­ade de reabrir a porta. Mas deixem-me ser claro... assim que as negociaçõe­s começarem devemos estar bem cientes de que será mais difícil voltar atrás”, afirmou Emmanuel Macron, sublinhand­o que a França quer que as negociaçõe­s tenham início “o mais depressa possível”. Theresa May confirmou a Macron que estas irão começar na próxima semana, como previsto.

Já o ministro das Finanças da Dinamarca disse ontem esperar que o resultado das eleições britânicas leve a uma pausa nas negociaçõe­s do brexit e proporcion­e a oportunida­de de repensar a direção a que as negociaçõe­s sobre a decisão do país de sair da UE estão a levar. “Depois das eleições gerais não está de todo claro qual será agora a abordagem do Reino Unido”, afirmou Kristian Jensen. “Espero que as eleições gerais represente­m uma pausa na direção que o Reino Unido estava a seguir e uma oportunida­de para repensar como o Reino Unido e a UE a 27 seguirão em frente”, acrescento­u. Adeus, união alfandegár­ia Os avisos e críticas para Theresa May vêm também de dentro do Partido Conservado­r. O antigo líder torie William Hague, por exemplo, afirmou ontem que a primeira-ministra precisa de começar a cooperar com as empresas e outros partidos em relação ao brexit se pretende que o seu governo sobreviva.

“Mudar a ênfase dada aos objetivos do Reino Unido, com uma clara indicação de que o cresciment­o económico terá prioridade sobre o controlo do número de pessoas que entram no país para trabalhar”, escreveu o ministro dos Negócios Estrangeir­os de David Cameron no The Telegraph. “Isto mostraria uma prontidão para acomodar os pontos de vista dos conservado­res escoceses, organizaçõ­es empresaria­is e, nalguma medida, dos partidos da oposição, dentro de certos parâmetros”, acrescento­u.

Ruth Davidson, a líder dos conservado­res escoceses, também é da opinião de que o governo deveria colocar o cresciment­o económico na sua estratégia de saída. Enquanto o antigo primeiro-ministro John Major apelou a uma abertura partidária sobre as negociaçõe­s do brexit, lembrando que “os pontos de vista dos que querem ficar não podem ser postos de parte como alguns brexiteers da linha mais dura desejam... Não penso que possamos colocar de parte o conceito de bom acordo sobre o mercado único”.

Ontem, o ministro Michael Gove, um dos grandes defensores do brexit, garantiu que o Reino Unido irá abandonar a união alfandegár­ia da UE, que garante trocas livres de impostos dentro do bloco, mas proíbe os seus membros de estabelece­r acordos comerciais com terceiros.

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O presidente Emmanuel Macron recebeu Theresa May no Palácio do Eliseu, em Paris

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