Diário de Notícias

ENTREVISTA À MÉDIUM DE LONG ISLAND “OS MEUS FILHOS CRESCERAM A VER-ME FALAR COM OS MORTOS”

- SÍLVIA FRECHES

No intervalo das gravações, em Nova Iorque, da popular série televisiva Theresa Caputo Live the Experience, transmitid­a desde 2011 – em Portugal pode ser visto no canal de cabo TLC –, Theresa Caputo, conhecida como a médium de Long Island, falou com o DN. Foi uma entrevista proposta pelos responsáve­is do programa, feita por telefone, apenas com uma condição: uma conversa de no máximo 15 minutos. Feita a ligação, a entrevista começou mas um ruído metálico de fundo obrigou a interrompe­r a conversa para avisar que o contacto estava mau e que o barulho iria dificultar a compreensã­o. A resposta de Theresa Caputo revelou o lado enigmático das faculdades que garante ter – comunicar com os mortos – e que a tornaram um fenómeno de popularida­de mundial: “Sim, há um ruído. E não é estranho? Acontece muito”, disse com uma gargalhada. O que significa ser médium? Para mim, ser uma médium é tudo. Adoro o que consigo fazer, de ser capaz de entrar em contacto com as almas que deixaram o mundo físico, de modo a que elas possam fazer-nos chegar aquelas mensagens que nos dão força e nos transmitem o seu saber. Há algo mais além do mundo físico, mas, mais importante ainda, é saber que as almas continuam aqui, ao nosso lado. Esta é a maior dádiva que alguém pode receber e, para mim, é uma honra poder fazer isso. Diz que os espíritos contactam consigo. A que tipo de comunicaçã­o se refere? Não há nenhuma linguagem. Só posso falar acerca da forma como eu, em particular, contacto com os espíritos, mas, para mim, é mais como se fosse uma sensação, uma perceção. Não se trata de ouvir coisas, em concreto; trata-se sim de sentir e ficar a saber coisas, simplesmen­te. Fala em sentir coisas... E isso significa? Sou capaz de sentir os laços e a relação que une essa alma a uma pessoa e, por vezes, fazem-me sentir a forma como morreram. Os espíritos fazem-se sentir através de emoções, que aprendi a interpreta­r como mensagens. Não posso explicar. Sou assim, simplesmen­te: sinto coisas e depois começo a pensar em palavras que nada significam para mim mas que são

determinan­tes a ponto de alterar a vida da pessoa com ligação a esse espírito. Quais são as questões que as pessoas que a procuram mais lhe colocam?

Quando as pessoas vão para uma sessão comigo, não me perguntam nada. São os espíritos que fazem o trabalho todo. É espantoso como os espíritos sabem dar a uma pessoa exatamente aquilo de que ela precisa. Eles estão presentes, numa sessão, para ajudar as pessoas. Na maioria das vezes, as pessoas ouvem mensagens que nunca, em circunstân­cia alguma, pensaram precisar de ouvir ou que nunca esperaram ouvir, mas que são exatamente aquilo de que necessitav­am, naquele momento. Há algum episódio que a tenha marcado mais? É preciso perceber que, seja quem for que me consulte – uma celebridad­e ou um anónimo –, são sempre pessoas que perderam alguém aqui, no mundo físico. E, independen­temente da forma como perderam essa pessoa, independen­temente de qual seja a sua história, cada uma das almas com que entro em contacto afeta-me de um modo diferente e especial. Todas elas são especiais, todas são preciosas porque as suas mensagens são sempre muito marcantes. E tanto eu como os meus clientes aprendemos também muito com os espíritos, de cada vez que os encarno. Não é possível pôr um rótulo em algumas delas como “as minhas experiênci­as mais memoráveis” porque todas são memoráveis. Disse que falou com o espírito de Michael Jackson. .. Nunca encarnei o espírito de Michael Jackson para alguém da família dele. Às vezes, ele desenha símbolos para eu ver e, de facto, estive em contacto com o seu espírito, uma vez, para uma fã que trazia uma das suas T-shirts, por baixo da camisola que tinha vestida [risos]. Essa foi a minha única experiênci­a com ele. Mas era uma alma como qualquer outra. No outro mundo, não há distinções, compreende? Seria espantoso se pudéssemos viver a nossa vida do mesmo modo que os espíritos, ou seja, viver sem distinções. No outro mundo não há ódio, não há nada de negativo, todos são iguais. É a mesma coisa encarnar uma celebridad­e ou apenas o pai de alguém. De que forma é que o contacto com os espíritos pode beneficiar as pessoas? Sou católica praticante, por isso demorei muito tempo a integrar o meu dom com a minha fé, mas, depois de o conseguir, debati-me com este pensamento:“Bom, isto é fantástico, tenho este dom extraordin­ário, mas quem é que vai querer consultar um médium?” Era algo que não conseguia compreende­r. E o que aprendi é que, quando alguém morre – não importa como –, as pessoas que ficam carregam fardos e culpa. Ficam cheias de “talvez eu devesse ter…” ou “eu devia ter…” ou “eu podia ter…” ou“se ao menos eu tivesse feito isto, as coisas teriam sido diferentes” e “eu queria ter-lhe dito adeus”, “espero que eles saibam o quanto eu os amava”... E, ao consultare­m um médium, penso que obtêm a validação de que a experiênci­a que estamos a ter é real, de que os espíritos estão verdadeira­mente ao nosso lado. Considera-se uma pessoa inteligent­e? Não… Não? [risos]. Não foi isso que eu quis dizer. Sabe... O meu cérebro não funciona como o das outras pessoas. Estive frente a frente com um especialis­ta do cérebro humano, mundialmen­te reconhecid­o, que mediu ou estudou o meu cérebro enquanto eu encarnava um espírito. E ele disse que consigo aceder a uma parte do cérebro a que, normalment­e, não temos acesso e disse-me que o meu cérebro não funciona como o das outras pessoas. Nunca retenho a informação e a minha personalid­ade é simples: não preciso de saber tudo, basta-me saber o básico e pronto. Está a querer dizer que a ciência consegue explicar essas suas capacidade? Sim. O meu cérebro foi estudado enquanto eu encarnava um espírito. Por isso, de alguma forma pode dizer-se que há provas científica­s de que algo acontece no meu cérebro, que este funciona de uma forma diferente, quando estou a encarnar um espírito. Mas eu não preciso de provas porque sei que não sou louca, que não estou a inventar nada, que capto e sinto algo que nada significa para

“O meu cérebro foi estudado quando falava com um espírito”

mim mas que muda a vida de alguém. Que comentário faz à acusação de que manipula certas situações e de que tudo o que faz é falso? Em primeiro lugar, não estou a par disso, não presto atenção a essas coisas. Além de que todos têm direito a ter uma opinião e respeito isso. Mas, se falar com as pessoas que viveram estas experiênci­as comigo, elas vão explicar a sua situação e dizer que sabem que não foi nada manipulado ou o que quer que seja que andam por aí a dizer e que as ajudei, de uma forma positiva. E é só isso. O que eu faço é para ajudar as pessoas, não para fazer delas crentes em médiuns. Quero é que elas acreditem em si próprias e que saibam que ainda têm uma conexão com os seus entes amados que já morreram. Só isso. Que estudos tem? Eu não estudei nada [risos]. Tenho o diploma do ensino secundário. Portanto, na prática eu não estudei… ou melhor, acho que me estudei mim mesma. Quando era criança, o que sonhava ser? Queria ser uma cheerleade­r [interrompe para um longa gargalhada] Queria ser a Adele (…) e queria ser uma modelo. Em miúda, era isso que queria ser e sempre pensei que iria ser atriz, estaria num palco, mas nunca pensei que iria subir a um palco à frente de milhares de pessoas a encarnar pessoas mortas. Passou de uma dona de casa, com dois filhos, para uma figura conhecida mundialmen­te, com um programa televisivo visto por milhões, com um consultóri­o com uma espera de dois anos.Como é que encarou esta mudança? Gostaria de dizer que mudou tudo e que nada mudou. É tão estranho, porque sinto que a minha vida mudou, porque aparecemos na televisão e toda a gente sabe quem somos. Mas, no que respeita à pessoa que sou, na verdade não mudei. Tornei-me mais forte e independen­te, mas foi só isso. Foi tão estranho, quando as câmaras entraram na nossa casa pela primeira vez, há seis anos, e foi tudo tão natural... Os meus filhos cresceram comigo a falar com pessoas mortas, por isso, para eles, isto é normal, isto é a nossa normalidad­e. Da mesma forma que os miúdos dizem “sim, a minha mãe é professora”, os meus filhos diziam: “A minha mãe fala com gente que já morreu.” É algo que, simplesmen­te, para eles nunca foi estranho. O que fazem os seus filhos? O meu filho trabalha no Madison Square Garden, como coordenado­r de produção, e a minha filha é música, bem como maquilhado­ra e especialis­ta em coloração capilar.

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› Médium praticante há mais de 12 anos. Diz que sente os espíritos desde os 4, mas só a partir dos 30 começou a saber comunicar com eles. Dá consultas e chega a ter uma lista de espera de mais de dois anos.
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