ENTREVISTA À MÉDIUM DE LONG ISLAND “OS MEUS FILHOS CRESCERAM A VER-ME FALAR COM OS MORTOS”
No intervalo das gravações, em Nova Iorque, da popular série televisiva Theresa Caputo Live the Experience, transmitida desde 2011 – em Portugal pode ser visto no canal de cabo TLC –, Theresa Caputo, conhecida como a médium de Long Island, falou com o DN. Foi uma entrevista proposta pelos responsáveis do programa, feita por telefone, apenas com uma condição: uma conversa de no máximo 15 minutos. Feita a ligação, a entrevista começou mas um ruído metálico de fundo obrigou a interromper a conversa para avisar que o contacto estava mau e que o barulho iria dificultar a compreensão. A resposta de Theresa Caputo revelou o lado enigmático das faculdades que garante ter – comunicar com os mortos – e que a tornaram um fenómeno de popularidade mundial: “Sim, há um ruído. E não é estranho? Acontece muito”, disse com uma gargalhada. O que significa ser médium? Para mim, ser uma médium é tudo. Adoro o que consigo fazer, de ser capaz de entrar em contacto com as almas que deixaram o mundo físico, de modo a que elas possam fazer-nos chegar aquelas mensagens que nos dão força e nos transmitem o seu saber. Há algo mais além do mundo físico, mas, mais importante ainda, é saber que as almas continuam aqui, ao nosso lado. Esta é a maior dádiva que alguém pode receber e, para mim, é uma honra poder fazer isso. Diz que os espíritos contactam consigo. A que tipo de comunicação se refere? Não há nenhuma linguagem. Só posso falar acerca da forma como eu, em particular, contacto com os espíritos, mas, para mim, é mais como se fosse uma sensação, uma perceção. Não se trata de ouvir coisas, em concreto; trata-se sim de sentir e ficar a saber coisas, simplesmente. Fala em sentir coisas... E isso significa? Sou capaz de sentir os laços e a relação que une essa alma a uma pessoa e, por vezes, fazem-me sentir a forma como morreram. Os espíritos fazem-se sentir através de emoções, que aprendi a interpretar como mensagens. Não posso explicar. Sou assim, simplesmente: sinto coisas e depois começo a pensar em palavras que nada significam para mim mas que são
determinantes a ponto de alterar a vida da pessoa com ligação a esse espírito. Quais são as questões que as pessoas que a procuram mais lhe colocam?
Quando as pessoas vão para uma sessão comigo, não me perguntam nada. São os espíritos que fazem o trabalho todo. É espantoso como os espíritos sabem dar a uma pessoa exatamente aquilo de que ela precisa. Eles estão presentes, numa sessão, para ajudar as pessoas. Na maioria das vezes, as pessoas ouvem mensagens que nunca, em circunstância alguma, pensaram precisar de ouvir ou que nunca esperaram ouvir, mas que são exatamente aquilo de que necessitavam, naquele momento. Há algum episódio que a tenha marcado mais? É preciso perceber que, seja quem for que me consulte – uma celebridade ou um anónimo –, são sempre pessoas que perderam alguém aqui, no mundo físico. E, independentemente da forma como perderam essa pessoa, independentemente de qual seja a sua história, cada uma das almas com que entro em contacto afeta-me de um modo diferente e especial. Todas elas são especiais, todas são preciosas porque as suas mensagens são sempre muito marcantes. E tanto eu como os meus clientes aprendemos também muito com os espíritos, de cada vez que os encarno. Não é possível pôr um rótulo em algumas delas como “as minhas experiências mais memoráveis” porque todas são memoráveis. Disse que falou com o espírito de Michael Jackson. .. Nunca encarnei o espírito de Michael Jackson para alguém da família dele. Às vezes, ele desenha símbolos para eu ver e, de facto, estive em contacto com o seu espírito, uma vez, para uma fã que trazia uma das suas T-shirts, por baixo da camisola que tinha vestida [risos]. Essa foi a minha única experiência com ele. Mas era uma alma como qualquer outra. No outro mundo, não há distinções, compreende? Seria espantoso se pudéssemos viver a nossa vida do mesmo modo que os espíritos, ou seja, viver sem distinções. No outro mundo não há ódio, não há nada de negativo, todos são iguais. É a mesma coisa encarnar uma celebridade ou apenas o pai de alguém. De que forma é que o contacto com os espíritos pode beneficiar as pessoas? Sou católica praticante, por isso demorei muito tempo a integrar o meu dom com a minha fé, mas, depois de o conseguir, debati-me com este pensamento:“Bom, isto é fantástico, tenho este dom extraordinário, mas quem é que vai querer consultar um médium?” Era algo que não conseguia compreender. E o que aprendi é que, quando alguém morre – não importa como –, as pessoas que ficam carregam fardos e culpa. Ficam cheias de “talvez eu devesse ter…” ou “eu devia ter…” ou “eu podia ter…” ou“se ao menos eu tivesse feito isto, as coisas teriam sido diferentes” e “eu queria ter-lhe dito adeus”, “espero que eles saibam o quanto eu os amava”... E, ao consultarem um médium, penso que obtêm a validação de que a experiência que estamos a ter é real, de que os espíritos estão verdadeiramente ao nosso lado. Considera-se uma pessoa inteligente? Não… Não? [risos]. Não foi isso que eu quis dizer. Sabe... O meu cérebro não funciona como o das outras pessoas. Estive frente a frente com um especialista do cérebro humano, mundialmente reconhecido, que mediu ou estudou o meu cérebro enquanto eu encarnava um espírito. E ele disse que consigo aceder a uma parte do cérebro a que, normalmente, não temos acesso e disse-me que o meu cérebro não funciona como o das outras pessoas. Nunca retenho a informação e a minha personalidade é simples: não preciso de saber tudo, basta-me saber o básico e pronto. Está a querer dizer que a ciência consegue explicar essas suas capacidade? Sim. O meu cérebro foi estudado enquanto eu encarnava um espírito. Por isso, de alguma forma pode dizer-se que há provas científicas de que algo acontece no meu cérebro, que este funciona de uma forma diferente, quando estou a encarnar um espírito. Mas eu não preciso de provas porque sei que não sou louca, que não estou a inventar nada, que capto e sinto algo que nada significa para
“O meu cérebro foi estudado quando falava com um espírito”
mim mas que muda a vida de alguém. Que comentário faz à acusação de que manipula certas situações e de que tudo o que faz é falso? Em primeiro lugar, não estou a par disso, não presto atenção a essas coisas. Além de que todos têm direito a ter uma opinião e respeito isso. Mas, se falar com as pessoas que viveram estas experiências comigo, elas vão explicar a sua situação e dizer que sabem que não foi nada manipulado ou o que quer que seja que andam por aí a dizer e que as ajudei, de uma forma positiva. E é só isso. O que eu faço é para ajudar as pessoas, não para fazer delas crentes em médiuns. Quero é que elas acreditem em si próprias e que saibam que ainda têm uma conexão com os seus entes amados que já morreram. Só isso. Que estudos tem? Eu não estudei nada [risos]. Tenho o diploma do ensino secundário. Portanto, na prática eu não estudei… ou melhor, acho que me estudei mim mesma. Quando era criança, o que sonhava ser? Queria ser uma cheerleader [interrompe para um longa gargalhada] Queria ser a Adele (…) e queria ser uma modelo. Em miúda, era isso que queria ser e sempre pensei que iria ser atriz, estaria num palco, mas nunca pensei que iria subir a um palco à frente de milhares de pessoas a encarnar pessoas mortas. Passou de uma dona de casa, com dois filhos, para uma figura conhecida mundialmente, com um programa televisivo visto por milhões, com um consultório com uma espera de dois anos.Como é que encarou esta mudança? Gostaria de dizer que mudou tudo e que nada mudou. É tão estranho, porque sinto que a minha vida mudou, porque aparecemos na televisão e toda a gente sabe quem somos. Mas, no que respeita à pessoa que sou, na verdade não mudei. Tornei-me mais forte e independente, mas foi só isso. Foi tão estranho, quando as câmaras entraram na nossa casa pela primeira vez, há seis anos, e foi tudo tão natural... Os meus filhos cresceram comigo a falar com pessoas mortas, por isso, para eles, isto é normal, isto é a nossa normalidade. Da mesma forma que os miúdos dizem “sim, a minha mãe é professora”, os meus filhos diziam: “A minha mãe fala com gente que já morreu.” É algo que, simplesmente, para eles nunca foi estranho. O que fazem os seus filhos? O meu filho trabalha no Madison Square Garden, como coordenador de produção, e a minha filha é música, bem como maquilhadora e especialista em coloração capilar.