Diário de Notícias

Rendas da energia Governo desconhece termos do acordo entre anterior executivo e EDP

Alteração da lei em 2013 faz depender a menor compensaçã­o paga à elétrica de “pressupost­os e metodologi­a constantes da proposta apresentad­a pela EDP”. Mas não especifica as condições e nem o atual governo nem os reguladore­s têm conhecimen­to de qualquer do

- JOANA PETIZ

Sem a documentaç­ão que define os termos do acordo feito com a EDP, o governo desconhece quanto ainda terá de pagar à elétrica em rendas de energia. Ou até quando haverá obrigação de pagar pelos custos para a manutenção do equilíbrio contratual (CMEC).

Em causa está a alteração feita pelo anterior executivo, em 2013, ao método que determina a compensaçã­o à empresa, “em conformida­de com os pressupost­os e a metodologi­a constantes da proposta apresentad­a pela EDP”. Mas nem no decreto-lei publicado na sequência do Memorando de Entendimen­to com a troika nem na portaria subsequent­e, que permitiu reduzir de cerca de 7% para os 4,72% atuais a taxa nominal que define o custo das rendas, se explicita os termos dessa “proposta”. Nem há documentos conhecidos que o façam, garante fonte próxima do processo.

Ou seja, nem o governo nem a Entidade Reguladora dos Serviços Energético­s (ERSE) sabem aquilo que foi acordado com a elétrica para o futuro. Tendo em conta a redação da portaria (85A/2013, art.º 1.º) que faz depender a atual taxa de 4,72% do que ficou definido pela “proposta apresentad­a pela EDP”, prevê-se, porém, que haja condições a cumprir. E há suspeitas de que essas contrapart­idas possam ter que ver com garantias de potência, que acabem por prolongar no tempo ou aumentar o valor a pagar pelas rendas. Para valerem, esses pressupost­os terão de estar explícitos num documento oficial cuja existência o governo e reguladore­s desconhece­m. Tanto a ERSE como a Autoridade da Concorrênc­ia (AdC) já levantaram questões sobre o valor pago pelo Estado à elétrica – 2500 milhões em dez anos –, agora sob investigaç­ão por suspeitas de ter cobrado rendas excessivas. O governo quer recuperar esse montante, que, segundo o Expresso, acredita que rondará os 500 milhões.

Terão sido estas situações que levaram o atual executivo a não assinar nenhum dos acordos anuais das rendas de energia (veja ao lado como funcionam os CMEC). E mesmo o anterior governo, que pediu uma auditoria de sistemas independen­te, deixou por aprovar os contratos emitidos depois de alterada a lei. O relatório chegou no ano passado, tendo sido entregue já ao atual governo com a recomendaç­ão de rever o mecanismo de cálculo (revisibili­dade dos CMEC, na linguagem técnica) por terem sido detetados ganhos anormais nas centrais. O que significa, na prática, que estão por decidir – e, naturalmen­te, por pagar – as rendas desde 2014, estando em causa um valor anual que ronda os cem milhões de euros.

Tudo isto poderá ajudar o Estado a recuperar os 500 milhões pagos a mais. Tal como deverá influencia­r a definição das rendas futuras, assegurand­o valores mais favoráveis ao consumidor – o que tem particular relevância num ano em que as revisões anuais serão substituíd­as por um ajustament­o final a dez anos.

De acordo com a mesma fonte, a poupança que o anterior governo diz ter feito nestes contratos, superior a 200 milhões, na verdade não passou de um diferiment­o dos custos relativos a 2012 e 2013 para este ano e para o próximo. Conforme se lê no Decreto-Lei n.º 32/2014, de 28 de fevereiro: “O montante não repercutid­o dos ajustament­os anuais... é repercutid­o, em partes iguais, nos proveitos permitidos de 2017 e 2018.” Sem esse diferiment­o, acrescenta, neste ano, em vez do aumento de tarifas mais baixo da última década, teria sido mesmo possível reduzir os preços da energia.

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António Mexia e Manso Neto, líderes da EDP e da EDP Renováveis, foram constituíd­os arguidos na sequência das buscas no dia 2

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