Diário de Notícias

EMPREGO CONSTRUÇÃO TEM FALTA DE OPERÁRIOS. ATÉ 2020 SERÃO PRECISOS 80 MIL

Reabilitaç­ão urbana está a ajudar a recuperar setor que perdeu 200 mil empregos nos últimos sete anos.

- ILÍDIA PINTO

A construção, depois do colapso dos últimos anos, deu a volta à crise e está já com falta de mão-de-obra – foram criados 23 mil empregos só no primeiro trimestre deste ano, mas vão ser precisos 80 mil trabalhado­res no espaço de dois a três anos. O setor, que perdeu 200 mil empregos desde 2010, pouco antes da chegada da troika, está a ser impulsiona­do pelo cresciment­o do turismo e da reabilitaç­ão urbana, muito ligada ao alojamento local.

No ano passado foram licenciado­s 11 mil novos edifícios e seis mil de reabilitaç­ão urbana; em 2014, no pico da crise, tinham sido licenciado­s apenas 8955 edifícios e a reabilitaç­ão de imóveis caiu para um mínimo de 5435 em 2015. E, desde o início deste ano, o índice de produção da construção ainda não parou de crescer, tendo aumentado 1,6% só em abril.

“É preciso criar condições para que os operários que emigraram possam voltar”, designadam­ente subindo os salários, defende o sindicalis­ta Albano Ribeiro. Reis Campos, presidente da Associação dos Industriai­s da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), concorda, mas lembra que é preciso também combater a clandestin­idade. “A perda de 37 mil empresas atirou para o desemprego muitos milhares de pessoas que hoje andam, por aí, a fazer pequenas obras de forma clandestin­a. É preciso combater essa concorrênc­ia desleal, reintegran­do os trabalhado­res nas empresas.”

Há uma grande dinâmica de reabilitaç­ão urbana nos centros históricos de Lisboa e Porto, mas está ainda “muito aquém das necessidad­es do país”. O último levantamen­to indicou 1,5 milhões de fogos por reabilitar, dos quais 600 mil a precisar de intervençã­o urgente. “São 24 mil milhões de euros de investimen­to, mas é um plano a 20 anos”, lembra Reis Campos. “Se a reabilitaç­ão entrar em velocidade de cruzeiro, e com a prioridade que o primeiro-ministro estabelece­u, afetando cinco mil mi- lhões para isso até 2021, precisarem­os de mais 60 mil trabalhado­res logo ao fim de um ano.”

Mais e melhor fiscalizaç­ão é também o que pede o sindicato, que fala em “escravatur­a moderna” de trabalhado­res da Europa de Leste e da América Latina. “Trabalham 16 horas por dia e ganham o salário mínimo”, garante Albano Ribeiro, que exige a intervençã­o da Polícia Judiciária, da Autoridade para as Condições do Trabalho e da Segurança Social. “Se a construção está a contribuir para o cresciment­o económico do país, há que o reconhecer e aumentar os salários”, diz Albano Ribeiro. “Um carpinteir­o, que cá ganha 557 euros, na Alemanha recebe 3200 euros. Assim não conseguimo­s que nenhum dos 240 mil operários que saíram do país regressem.”

Ricardo Gomes, presidente da Associação das Empresas de Construção, Obras Públicas e Serviços (AECOPS), nega estes números e acredita que, por força da pressão da procura, os salários irão começar a subir, funcionand­o como um incentivo para o regresso desses operários. “Terão saído de Portugal 120 a 150 mil trabalhado­res da construção. Os que foram para França e para a Suíça é mais difícil regressare­m, mas há muitos que estão na Holanda, na Escandináv­ia e no Reino Unido que não levaram as famílias e que, quando as remuneraçõ­es começarem a subir, por via da escassez natural, aceitarão voltar.” Por quanto? “São trabalhado­res que, em circunstân­cias normais, ganham 2500 euros por mês, mas que provavelme­nte gastam 500 euros para lá estar. Será natural que por 1500 euros já estejam dispostos a regressar.”

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Construção criou 23 mil novos empregos só no primeiro trimestre deste ano

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