Portugal vai buscar dinheiro ao mercado com juros ao mínimo
Anúncio da saída do Procedimento por Défice Excessivo, recapitalização da banca e redução do risco político na Europa explicam queda dos juros
DIOGO FERREIRA NUNES Portugal volta hoje aos mercados numa altura em que as taxas de juro a dez anos estão em mínimos de setembro do ano passado. O Tesouro realiza um duplo leilão de dívida, a cinco e a dez anos, em que espera arrecadar até 1250 milhões de euros. Os analistas contactados pelo DN/DinheiroVivo antecipam uma descida das taxas de juro na operação de hoje em comparação com a ocorrida em maio.
“A descida das yields no mercado secundário traduz-se em custos de financiamento mais baixos para o Estado à medida que são realizadas emissões no mercado primário para satisfazer as necessidades de financiamento”, assinala Albino Oliveira, analista da Patris.
A equipa de research do BiG acrescenta os efeitos que poderão ser gerados pela redução do prémio entre as taxas de juro das obrigações portuguesas e alemãs. “Em caso de maior procura e considerando o menor prémio de risco atribuído a Portugal, a colocação a taxas inferiores às de maio poderá ocorrer.” Na última emissão comparável, em maio, o Tesouro, liderado por Cristina Casalinho, colocou 632 milhões de euros a uma taxa de juro de 3,386%. Para Eduardo Oliveira, da XTB, “independentemente de serem mais baixos ou não, os juros serão sempre baixos comparativamente aos valores praticados no início do ano. Só por si já será um alívio considerável”.
A taxa de juro da dívida portuguesa a dez anos está nos 2,984%, menos 1,3 pontos percentuais face aos máximos registados em setembro. Os analistas justificam esta descida com fatores internos e externos. O BiG refere a “execução orçamental sólida, que deverá permitir ao Ecofin confirmar, depois de amanhã, o encerramento do Procedimento por Défice Excessivo” e a redução do risco político na Europa. O analista da Patris destaca igualmente a “recapitalização do setor bancário em Portugal” e a “postura bastante cautelosa” do BCE no programa de compra de dívida, ao adiar “novas reduções nos montantes de compras mensais, o que representa um suporte para a dívida periférica, incluindo a de Portugal”.
Para os próximos meses, os dois especialistas antecipam uma descida das taxas de juro das obrigações portuguesas. Os fatores externos deverão ser preponderantes. “Caso a evolução de países periféricos como Espanha e Itália e de economias como a Alemanha no mercado de obrigações seja positiva, os juros da dívida pública poderão beneficiar do enquadramento positivo e manter a tendência de redução da taxa de juro”, refere a equipa do BiG. Albino Oliveira alerta, todavia, que “será necessário ter em conta a evolução das expectativas de inflação e a política monetária do BCE e da Fed”, que “poderão justificar taxas mais elevados em Portugal”.
O analista da Patris lembra ainda a “expectativa quanto a possíveis revisões positivas por parte de agências de rating para a notação atribuída a Portugal até ao final do ano”. A primeira revisão está marcada para depois de amanhã, quando os norte-americanos da Fitch poderão pronunciar-se sobre a avaliação da dívida portuguesa. Atualmente, é de BB+, com perspetiva estável, um nível abaixo do patamar de investimento. Cristina Casalinho realiza duplo leilão antes de a Fitch decidir
sobre o rating