Diário de Notícias

Réplicas do brexit

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Ainda estão por apurar todos os efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia. Uma das réplicas do brexit poderá estar ligada às insolvênci­as na Europa, porque o inesperado resultado das eleições anuncia um novo período de incerteza para todo oVelho Continente, sobretudo para uma boa parte dele que acredita, ou acreditava, numa união económica forte. E para um número mais restrito de nações europeias que acredita, ou acreditava, que seria possível, um dia, vir a estender ainda mais a união monetária, abrangendo um cada vez maior número de países.

A advertênci­a para as dificuldad­es que aí vêm consta do relatório intitulado “Brexit, um ano depois” e que agora foi divulgado pela multinacio­nal espanhola Crédito y Caución, que está presente com escritório em Portugal. O mesmo documento refere que é “esperada que a incerteza afete negativame­nte o cresciment­o económico nos países da União Europeia com ligações comerciais e de investimen­to fortes com o Reino Unido”. Portugal poderá ser um desses países afetados, mas, pelos vistos, não será dos piores, e ainda bem, no que toca a um dos pontos analisados no estudo: às insolvênci­as.

No próprio Reino Unido as insolvênci­as de empresas aumentaram 1% em 2016, o que acontece pela primeira vez desde o ano de 2011. “Espera-se que a tendência atual se mantenha e, inclusive, que se intensifiq­ue durante o resto deste ano. Prevemos que o número total de insolvênci­as a nível nacional (britânico) aumente 6% em 2017 e 8% em 2018”, alerta o documento da mesma multinacio­nal.

O pior é que é também previsível que esse efeito sobre o cresciment­o e as insolvênci­as se estenda a outros países europeus, avança a organizaçã­o. “Esperamos que os efeitos negativos aumentem ao longo do resto do ano de 2017 e em 2018 à medida que as negociaçõe­s para a saída do Reino Unido da União Europeia se intensifiq­uem, em especial se a incerteza sobre a possibilid­ade de alcançar um acordo se mantiver. Em termos de vínculos económicos com o Reino Unido, a Irlanda, os Países Baixos e também a Bélgica são os países considerad­os como os mais vulnerávei­s”. A esta lista de países seguem-se outros três: “França, Alemanha e Espanha”, refere o relatório. A boa notícia é que o mesmo estudo prevê que o brexit não terá efeitos sobre as insolvênci­as em Portugal.

Enquanto várias nações aguardam réplicas deste terramoto chamado brexit, a própria “economia do Reino Unido tem sido surpreende­ntemente resistente. Após o choque inicial, recuperou rapidament­e a confiança e os consumidor­es continuara­m a apoiar o sólido cresciment­o económico”, sublinha o mesmo estudo. “A forte depreciaçã­o da libra esterlina também contribuiu para um maior cresciment­o, impulsiona­ndo, em particular, as exportaçõe­s de produtos manufatura­dos.” Mas nem tudo corre bem e “a libra débil também começou a penalizar os gastos dos consumidor­es”, explica o mesmo relatório.

Nesta semana, em que metade do país está de férias, sente-se, contudo, que os ingleses estão em força em Portugal, em particular no Algarve, no Porto e em Lisboa, e continuam a consumir e a gastar na hotelaria, na restauraçã­o e nas atividades turísticas em geral. Cansados das incertezas na sua terra, alguns ingleses com quem me cruzei dizem que Portugal os faz esquecer as réplicas da decisão do brexit e que, em férias, os gastos não são para conter. Ainda bem para o turismo português! São bem-vindas as libras esterlinas, mesmo que depreciada­s, e os britânicos serão, certamente, sempre bem acolhidos por terras lusas. Como manda a tradição.

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ROSÁLIA AMORIM DIRETORA DO DINHEIRO VIVO

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