Diário de Notícias

À mulher de César não basta proclamar

- PAULO BALDAIA

Salazar dizia que “em política o que parece é”. E muito lá atrás já havia quem lembrasse que “à mulher de César não basta ser, é preciso parecer”. Nenhuma destas frases é para ser entendida à letra, mas é nelas que pensamos quando na política há casos que nunca são bem explicados.

1– No ano passado, quando Lacerda Machado andava a negociar em nome do Estado e do seu amigo primeiro-ministro o trabalho que fazia era pro bono. Na TAP ou nos lesados do BES, este gestor o que procurou foi defender o bem comum e é isso que o deixa “orgulhoso”. Faz bem, não há razão para duvidar que deu o melhor de si e pode até dizer, com segurança, que no caso da TAP o Estado ficou melhor do que estava. Mas trabalhar sem contrato e sem salário é coisa que deixa desconfiad­a a maioria das pessoas. O assunto deu polémica e o governo, claramente contrariad­o, fez um contrato com uma avença simbólica face à categoria profission­al de Lacerda Machado. O governo informa agora que o contrato não será renovado. Notícia seria o contrário, renovar o contrato depois de lhe ter sido dado como prémio um lugar na administra­ção não executiva da TAP.

Não sabemos se na cabeça do primeiro-ministro estava claro, desde o primeiro momento, que Lacerda Machado teria de fazer parte de uma administra­ção em que o Estado voltaria a ter peso, mas o que parece é que o gestor andou a preparar uma reversão da privatizaç­ão em que acabaria por haver um lugar para ele próprio. Pode não ter acontecido assim, mas é o que parece.

2– Em 2013, quando Rui Moreira ganhou a Câmara do Porto, a Selminho, na qual detinha uma participaç­ão indireta, já tinha um litígio com a autarquia. Na declaração que entregou no Tribunal Constituci­onal, Moreira referiu que tinha uma participaç­ão na Morimor, SGPS que era dona de 95% da Selminho, mas não explicitou este caso. Não seria obrigado a fazê-lo, mas tendo em conta o litígio entre a Selminho e a autarquia, não se percebe porque não o fez.

A história da Selminho que comprou um terreno de 2260 m2 um mês depois de ele ter sido registado por usucapião está ainda envolta numa grande polémica, tanto mais que os serviços da câmara dizem que uma parcela significat­iva dos terrenos é, afinal, da câmara. O acordo entre a autarquia e a Selminho foi feito na gestão de Rui Moreira, embora o presidente não tenha participad­o na discussão por conflito de interesses.

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