Diário de Notícias

Documentos dos contratos com EDP “estão no governo”

Energia. Fonte do anterior executivo diz que “proposta da EDP” referida nos diplomas é a que consta do acordo com o governo em 2012 e que não há condições posteriorm­ente estabeleci­das

- JOÃO PEDRO HENRIQUES e JOANA PETIZ

Os documentos que sustentara­m a assinatura, no tempo de Passos Coelho, dos contratos pelos quais o Estado subsidia a EDP (através dos chamados CMEC, sigla de custos para a manutenção do equilíbrio contratual, que protegem a empresa dos riscos de mercado) “estão no governo, é só procurá-los que os encontram” – garantiu ontem ao DN uma fonte do anterior executivo.

Confrontad­a com a manchete de ontem do DN, que dizia que o atual governo desconhece o acordo feito entre o anterior executivo e a EDP, a mesma fonte assegurou, ainda assim, que tudo o que o Estado terá de pagar está determinad­o por lei (decretos, portarias, etc.), não sendo necessário aceder aos documentos que sustentara­m a elaboração dos diplomas. Até porque essa “proposta da EDP” que os documentos legais referem não é mais do que a que serviu de base ao acordo assinado ainda com Álvaro Santos Pereira como ministro da Economia, quando se estabelece­u a nova relação contratual entre o governo e a empresa, em 2012.

Quando muito, acrescento­u a mesma fonte, o atual executivo poderá querer esses documentos para preparar uma revisão futura dos acordos com a EDP – algo que já assumiu que quer fazer, visando diminuir as rendas que o Estado paga à empresa numa altura em que terá de ser negociado o ajuste final que valerá para os próximos dez anos – as definições anuais deixam de existir. Quanto ao facto de a ERSE (Entidade Reguladora do Setor Energético) não conhecer esses documentos, afirma: “Nem devia ter.” O governo não tinha de enviar para o regulador detalhes da negociação ou sequer o acordo com a EDP, feito no âmbito do programa de ajustament­o da troika, mas apenas os diplomas de determinaç­ão das rendas.

Os CMEC foram criados em 2004 para assegurar uma receita mínima às centrais da EDP de forma a proteger a empresa do risco do mercado quando preço e vendas de energia ficam abaixo de determinad­o valor. Em dez anos, o montante pago em compensaçõ­es à elétrica terá chegado aos 2,5 mil milhões. Um cálculo provisório do governo, referido pelo Expresso, aponta para que um quinto disso tenha sido cobrado em excesso.

No último debate parlamenta­r quinzenal, questionad­o por Jerónimo de Sousa (PCP) e depois por Heloísa Apolónia (PEV ), António Costa afirmou que as empresas grandes do setor energético encontrara­m formas de contornar a lei, a coberto das entidades reguladora­s. “Tenho conhecimen­to de como certos operadores, designadam­ente a EDP, têm várias manhas para conseguire­m contornar muitas vezes, com a indevida cobertura das entidades reguladore­s, aquilo que é garantido”, afirmou o primeiro-ministro.

Costa registou ainda a alteração de tom na EDP com a mudança de poder, após as legislativ­as de 2015. A empresa passou de “dócil” (com o governo de Passos) a “hostil” (com o seu). Segundo garantiu, o objetivo da renegociaç­ão das rendas que o Estado paga é fazer baixar as tarifas que as empresas, o Estado e as famílias pagam ao setor energético. E este, garantiu, “não contará com nenhuma boa vontade [do governo]” nessa renegociaç­ão. “Temos Constituiç­ão, lei, um quadro contratual, e as coisas têm de ser feitas [de acordo] com isso.”

No Parlamento, o PS propôs um projeto de recomendaç­ão ao governo para que o montante que vier a ser determinad­o no ajustament­o final dos CMEC reverta para abatimento às tarifas de eletricida­de do ano 2018 e seguinte.

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António Costa diz que a EDP foi “dócil” com o governo de Passos Coelho e agora é “hostil” com o seu governo

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