Diário de Notícias

Câmaras vão receber mais 1100 milhões de euros com a descentral­ização

Parlamento. Dinheiro sai do orçamento dos ministério­s para as autarquias. Processo legislativ­o não fica terminado até julho

- SUSETE FRANCISCO

“Não se pode pedir ao Parlamento que faça em três semanas o que o governo demorou 19 meses a fazer”, argumenta o PSD

Se a descentral­ização se concretiza­r nos moldes em que está a ser definida pelo governo implicará uma transferên­cia anual para as autarquias de cerca de 1100 milhões de euros, um montante que será retirado ao orçamento dos ministério­s. O valor foi avançado ontem pelo ministro adjunto, Eduardo Cabrita, no Parlamento, e deverá acompanhar a transferên­cia de novas competênci­as.

Entre estas, e à luz do que está previsto nas propostas que estão a ser discutidas entre o governo e a Associação Nacional de Municípios Portuguese­s (ANMP), contam-se a passagem para as autarquias da gestão de todos os centros de saúde, ou da propriedad­e e gestão de todas as escolas do ensino básico e secundário (o que só não acontecerá com as que pertencem à empresa Parque Escolar). Com os equipament­os serão também transferid­os os trabalhado­res afetos a estes serviços, com exceção de pessoal médico e professore­s. Além da saúde e da educação, a descentral­ização abarca áreas como a cultura, a proteção civil, a habitação ou a gestão de áreas protegidas e áreas portuárias, num total de 20 propostas de diplomas – que chegaram no início desta semana à Assembleia da República, onde está em discussão a lei-quadro da descentral­ização.

Ouvido ontem no grupo de trabalho que está a analisar a descentral­ização, no âmbito da comissão parlamenta­r de Ambiente e Ordenament­o do Território, Eduardo Cabrita adiantou que, se a transferên­cia se concretiza­sse agora, implicaria uma “dotação adicional de 1100 milhões de euros” aos municípios (valor que será atualizado anualmente), que sairá do orçamento dos vários ministério­s (que perdem competênci­as) para os cofres municipais. De acordo com o ministro adjunto , a descentral­ização implicará também uma perda de 83 milhões de euros para a administra­ção central, por exemplo em taxas ou coimas.

Eduardo Cabrita foi ao Parlamento afirmar que “seria fundamenta­l que a lei-quadro fosse aprovada nesta sessão legislativ­a” – o que significa até final de julho –, mas o apelo não encontrou eco nem à esquerda nem à direita. Berta Cabral, social-democrata que preside ao grupo de trabalho, contrapôs que “não se pode pedir ao Parlamento que faça em três semanas o que o governo demorou 19 meses a fazer”. E acrescento­u que a Assembleia da República “não pode ser instrument­alizada com calendário­s que não permitem salvaguard­ar” o trabalho parlamenta­r. Bloco de Esquerda e PCP também desvaloriz­aram a necessidad­e de cumprir calendário­s, enquanto o CDS recusou “embarcar em aventuras”. Em causa está sobretudo o facto de não ser ainda conhecida a proposta do governo para a revisão da Lei das Finanças Locais, que estabelece­rá o enquadrame­nto financeiro para a transferên­cia de competênci­as. Em falta está também informação adicional pedida pelo Parlamento ao executivo, nomeadamen­te quanto aos impactos da descentral­ização.

Ao DN, Berta Cabral vincou que “não há tempo” para concluir o processo legislativ­o nas próximas semanas. “Entregaram-nos os diplomas [setoriais] anteontem. Não há, de todo, tempo. É impensável”, diz a vice-presidente da bancada laranja. Sem apoio à direita ou à esquerda, dificilmen­te o PS agendará a votação até final da sessão legislativ­a, um cenário em que arriscava ver a lei-quadro chumbada.

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Eduardo Cabrita apelou ao Parlamento que aprove lei até julho, mas não teve resposta positiva

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