Atirador achava Trump um traidor e odiava republicanos
Hodgkinson foi morto pela polícia depois de disparar contra congressistas republicanos e ferir cinco pessoas num treino de basebol
O autor dos disparos contra os congressistas republicanos que treinavam para um jogo de basebol de solidariedade considerava o presidente norte-americano, Donald Trump, um “traidor” e era membro de vários grupos antirrepublicanos no Facebook. James T. Hodgkinson, de 66 anos, morreu ontem no hospital, tendo sido baleado pela polícia depois de ter atingido a tiro cinco pessoas num campo de basebol em Alexandria, naVirgínia. Um dos feridos é o vice-líder dos republicanos na Câmara dos Representantes, Steve Scalise, eleito pelo Luisiana, que está em estado crítico.
Hodgkinson vivia em Belleville, no Ilinóis, mas tinha ido há algumas semanas para Alexandria para participar em protestos na capital, segundo disse o irmão ao The Washington Post. “Sei que não estava feliz com a forma como as coisas estavam, o resultado eleitoral e isso”, afirmou Michael Hodgkinson. Segundo o jornal local Belleville News-Democrat, o atirador pertencia a grupos intitulados “O caminho para o Inferno está pavimentado com Republicanos”, “Donald Trump não é o meu presidente” ou “Acabem com o Partido Republicano”. Dois dias antes do tiroteio, o atirador tinha escrito no Facebook contra o presidente, considerando-o “o maior imbecil que alguma vez ocupou a Sala Oval”. Noutra publicação, mais antiga, considera Trump um “traidor”.
Nas primárias democratas, Hodgkinson fez campanha por Bernie Sanders – que seria derrotado por Hillary Clinton. O senador do Vermont reagiu a esta informação dizendo-se “enojado” com o tiroteio, que considerou um “ato desprezível”. E acrescentou, numa declaração no Senado, que “a violência de qualquer tipo é inaceitável na nossa sociedade” e que condenava esta situação “nos terpolítica mos mais fortes possíveis”. Sanders defendeu que “a verdadeira mudança só pode chegar através de ações não violentas e, tudo o resto, vai contra os nossos profundos valores americanos”.
Hodgkinson era proprietário de uma empresa de inspeção de casas, tendo tido licença entre 1994 e 1997 e entre 2003 e 2016 (quando não a renovou). De acordo com o jornal local, tem um longo cadastro, tendo sido detido em várias ocasiões por pequenos crimes como falta de obtenção de licença elétrica, danificar um veículo, resistir e fugir à polícia, danos a propriedades, conduzir embriagado e outros crimes rodoviários. De acordo com os vizinhos, ouvidos pelo jornal TheWashington Post, o suspeito tinha andado a praticar tiro na sua propriedade, tendo a polícia sido chamada e confirmado que tinha autorização de porte de arma, pedindo-lhe apenas que não disparasse naquela zona.
O republicano Mike Bost, que representa o distrito onde vivia Hodgkinson, disse que ele contactou os seus escritórios pelo menos 14 vezes por e-mail ou telefone. “Ele não concordava com nada do que estávamos a fazer”, disse, citado pelo The Washington Post, falando de um discurso de esquerda onde “nunca houve ameaças, apenas raiva”. Tiroteio Eram 07.09 locais quando a polícia foi alertada para o tiroteio no campo onde a equipa republicana treinava para o jogo de solidariedade – que vai decorrer, como previsto, hoje à noite no campo dos Washington Nationals. Jeff Duncan, eleito pela Carolina do Sul, deixou o treino mais cedo com Ron DeSantis, representante da Florida, para ir para uma reunião e disse aos jornalistas que, no parque de estacionamento, o atirador lhe perguntou se a equipa era democrata ou republicana. “Dissemos que era uma equipa republicana”, disse Duncan. “Ele respondeu: ‘OK, obrigada’ Não foi nada de especial”, disse à CNBC.
Segundo as testemunhas, o atirador disparou entre 50 e cem tiros, aparentemente com uma espingarda automática. Scalise, que esteve em Lisboa em abril a falar de energética, foi atingido na coxa, enquanto outros colegas e assessores procuravam refúgio. Os membros da equipa de proteção de Scalise, que também ficaram feridos, dispararam contra o suspeito, assim como os agentes da polícia de Alexandria, que chegaram três minutos após o alerta.O assessor de um congressista do Texas e um lobista foram os outros feridos.
Trump, que anunciou a morte do atirador, louvou o trabalho dos polícias. E muitos congressistas destacaram o trabalho dos agentes do Capitólio, que fazem parte da equipa de proteção de Scalise, com o senador Rand Paul a dizer que se não fosse a “bravura” deles “muitas pessoas teriam sido mortas”. Como membro da liderança republicana, Scalise era o único no treino com direito a segurança a tempo inteiro, pelo que se não estives-
se presente eles não estariam lá.
Um dos congressistas que estava no local, Barry Loudermilk, eleito pela Geórgia, defendeu que devia ser possível aos representantes e senadores andarem armados para se defenderem. “Se isto tivesse acontecido na Geórgia, ele não tinha ido muito longe”, disse aos jornalistas, indicando que um membro da sua equipa estava no carro atrás do atirador e que teria conseguido atingi-lo. “Na Geórgia, ele anda com uma 9mm no carro”, afirmou. No capitólio e no resto do Distrito de Colúmbia, que abarca a zona da capital, é proibido andar armado. Na Virgínia, do outro lado do rio Potomac, é possível andar armado.
O tiroteio em Alexandria foi o 154.º tiroteio com mais de quatro vítimas (não incluindo o atirador) em 165 dias, isto é, desde o início do ano. As contas são de uma organização sem fins lucrativos, a GunViolence Archive, que revela que este foi o sexto incidente só esta semana – oito pessoas foram atingidas a tiro em duas situações distintas em Baltimore, outras nove em Chicago, quatro em Tennessee e mais quatro em Houston.
Ainda ontem houve outro tiroteio – o 155.º deste ano. Quatro pessoas morreram, incluindo o atacante que se suicidou, e outras duas ficaram feridas quando um atirador entrou armado num escritório da UPS, em São Francisco. O atirador usava um uniforme da empresa de entregas, mas as autoridades não confirmaram se era um atual ou antigo funcionário. As vítimas eram todas motoristas que se preparavam para iniciar as entregas.