Cameron pede a Theresa May para ouvir partidos
Guy Verhofstadt diz que Londres pode mudar de ideias, mas tem de desistir do “cheque britânico”
Cameron e May, quando esta era ministra, em 2014
REINO UNIDO Agora é o ex-primeiro-ministro David Cameron que veio a público pedir a Theresa May que consulte os restantes partidos britânicos sobre a estratégia do governo sobre o brexit, cujas negociações com Bruxelas devem começar na próxima semana. No entanto, tal como o anúncio do acordo governamental entre conservadores e os norte-irlandeses do Partido Unionista Democrático, estas poderão ser adiadas por causa do incêndio de ontem em Londres (ver pág. 14).
“Vai ser difícil, não há dúvidas nenhumas sobre isso, mas talvez uma oportunidade para uma consulta mais ampla com os outros partidos sobre a melhor forma de o alcançarmos”, declarou o antecessor de Theresa May numa conferência na Polónia, noticiou o The Financial Times. “Penso que haverá pressão para um soft brexit”, acrescentou Cameron, sublinhando que o Parlamento britânico “merece ter uma palavra a dizer” sobre a gestão do processo.
David Cameron – que abandonou o Parlamento pouco depois de se demitir do governo na sequência do resultado do referendo sobre o brexit – afirmou que os 13 deputados conservadores agora eleitos pela Escócia (mais 12 que em 2015) vão defender um soft brexit. “Não há dúvidas de que há um novo jogador em campo. A Escócia votou contra o brexit. Penso que a maioria dos conservadores escoceses vão querer ver mudanças na política que será levada avante”, sublinhou. Este apelo segue-se aos feitos na segunda-feira pelo antigo primeiro-ministro John Major e pelo ex-líder conservador William Hague, que defendem que os restantes partidos devem ser ouvidos por May e que esta deverá concentrar os seus esforços nas questões económicas e no mercado único e não no controlo da imigração.
De acordo com o The Times, o ministro das Finanças, Philip Hammond, vai pressionar Theresa May a não abandonar a união alfandegária – que garante trocas livres de impostos dentro do bloco mas proíbe os seus membros de estabelecer acordos comerciais com terceiros. Algo que, na segunda-feira, o ministro Michael Gove, um dos defensores do brexit, garantiu que Londres irá abandonar.
Do lado da Europa – e depois de o presidente francês, Emmanuel Macron, e o ministro das Finanças alemão,Wolfgang Schäuble, terem dito que as portas estão abertas para o Reino Unido caso este inverta o brexit –, ontem foi a vez de GuyVerhofstadt afirmar que Londres é livre de mudar de ideias, mas que teria de abdicar do chamado “cheque britânico”, o mecanismo financeiro que permite a Londres, desde 1985, reduzir a sua contribuição para o orçamento comunitário. “Mas como em Alice no País das Maravilhas nem todas as portas são iguais. Será uma porta nova, com uma nova Europa, uma Europa sem cheques, sem complexidades, com poderes reais e unidade”, disse o representante do Parlamento Europeu nas negociações. ANA MEIRELES