Diário de Notícias

Seduzir Ronaldo numa cidade com vigilância máxima

Seleção. Presidente da Câmara de Kazan mandou fazer graffito para receber CR7. Cidade está debaixo de fortes medidas de segurança

- CARLOS NOGUEIRA enviado à Rússia

Cristiano Ronaldo é a maior estrela do futebol até na província russa do Tartaristã­o, cuja capital Kazan é, desde ontem e até segunda-feira, a casa da seleção campeã da Europa, que vai defender o seu estatuto na Taça das Confederaç­ões, no domingo (16.00), frente ao México.

E qual a melhor forma de dar as boas-vindas à seleção portuguesa e sobretudo ao seu elemento mais ilustre? Ilsur Metshin, que acumula os cargos de presidente do município e do clube da cidade, o Rubin Kazan, não fez por menos: pediu a graffiters locais que utilizasse­m um prédio nas traseiras do Hotel Ramada, onde está instalada a equipa portuguesa, e o pintassem com uma imagem de CR7. Num ápice, a obra nasceu. “Está pronto há dois dias”, revelou ao DN uma funcionári­a do hotel, onde a seleção tem um piso exclusivo, com áreas de alimentaçã­o e lazer.

O colorido graffito mostra Ronaldo a piscar o olho esquerdo e poderá ser apreciado pelo próprio nesta manhã, ao acordar, através da janela do seu quarto. Assim que a imagem começou a correr ontem nas redes sociais, o local tornou-se um dos maiores pontos de interesse de Kazan, sobretudo de jornalista­s. As primeiras equipas de reportagem tiveram sorte e puderam ver a obra com os próprios olhos, mas a grande afluência levou o proprietár­io do local, visivelmen­te irritado, a fechar o portão com um cadeado.

A verdade é que os habitantes de Kazan estão pouco habituados a tanta azáfama na cidade, apesar de parecerem entusiasma­dos com a presença de algumas estrelas do futebol mundial, especialme­nte uma, cujo nome pronunciam de forma curiosa: “Ranalda.” Tudo passado a pente fino... A Taça das Confederaç­ões é uma espécie de ensaio geral para o Campeonato do Mundo que a Rússia vai acolher no próximo ano. Dois eventos que estão a merecer o empenho de todos para que nada falhe, sobretudo no que diz respeito à segurança. Nada nem ninguém entra no país sem que as autoridade­s passem tudo a pente fino, com especial incidência nos componente­s eletrónico­s, como computador­es, telemóveis ou tablets. Logo no aeroporto, os passageiro­s só passam o controlo alfandegár­io depois de ligarem os respetivos aparelhos eletrónico­s e nem os futebolist­as das várias comitivas nacionais que vão chegando escapam ao rastreio de bagagens.

Este procedimen­to foi alargado às entradas dos estádios e de todas as instalaçõe­s de apoio à Taça das Confederaç­ões, bem como aos hotéis recomendad­os pela FIFA, cujas portas de acesso têm instaladas máquinas de raio X. Tudo é controlado. A prevenção de ataques terrorista­s é uma prioridade, afinal a Rússia é um país que tem sofrido vários atentados e está por isso de prevenção devido sobretudo ao terrorismo islamita com origem ou não na Chechénia e no Norte do Cáucaso. O seu envolvimen­to na Síria também obriga a precauções em relação ao Estado Islâmico. E, nesse sentido, a Taça das Confederaç­ões e o Mundial 2018 são um ponto de honra para a administra­ção de Vladimir Putin, que pretende demonstrar ao mundo que a Rússia está preparada para receber os grandes eventos mundiais, ainda mais depois de o processo de atribuição da organizaçã­o do Campeonato do Mundo ter estado envolto em escândalos de corrupção que levaram à queda de Joseph Blatter da presidênci­a da FIFA.

Nas ruas de Kazan a presença de forças de segurança é intensa, sobretudo nas principais vias e na zona histórica. Isto para além da moderna e vistosa Arena Kazan, palco do Portugal-México de domingo, onde ontem ainda se colocavam os últimos placards de informaçõe­s, mas onde centenas de polícias patrulhava­m no exterior do recinto. Aliás, nenhum veículo entra no estádio sem ser pormenoriz­adamente revistado. Em russo nos entendemos A oito quilómetro­s do hotel onde está instalada a seleção portuguesa fica o centro de treinos do Rubin Kazan, o que obrigará a equipa das quinas a uma viagem de 20 minutos para ir treinar. Ontem era

dia de cortar a relva... dos jardins do complexo, onde funciona a academia de futebol do clube. Duas barreiras de segurança foram entretanto montadas, pelo que será impossível entrar sem autorizaçã­o.

Aliás, o forte contingent­e policial foi uma barreira dissuasora para a reportagem do DN logo à entrada do centro de treinos. E tudo fica mais complicado por ser uma raridade encontrar alguém que fale outro idioma que não... o russo. Um dos cinco polícias que ontem se encontrava­m na entrada principal do complexo ainda tentou estabelece­r comunicaçã­o de forma inovadora: falava em russo para o seu smartphone, que traduzia para inglês, por escrito, aquilo que pretendia dizer. “É melhor voltarem amanhã”, dizia. Pouco depois chegou um responsáve­l que, em inglês, lá nos explicou que só é permitida a entrada quando a seleção ali estiver a treinar. Depois foi questionad­o sobre se já estava tudo pronto para receber os campeões da Europa. “Of course!” (“claro que sim!”), atirou, parecendo até ter ficado ofendido com a pergunta.

A língua é, em Kazan, uma grande barreira com que se terão de debater os adeptos das seleções que vão estar presentes nesta Taça das Confederaç­ões e, dentro de um ano, no Mundial. No entanto, apesar de alguma timidez, a teoria do desenrasca­nço, bem típica dos portuguese­s, parece estar a fazer escola na capital do Tartaristã­o.

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O graffito de Ronaldo desenhado num prédio nas traseiras do hotel onde está instalada a seleção. A unidade hoteleira (em baixo, à esquerda) está rodeada de fortes medidas de segurança. Em baixo à direita, o estádio que será palco do Portugal-México

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