O que temos de melhor
Agrande mudança chegou há uns quatro anos. Portugal já era conhecido, claro, sempre foi destino de sol e praia e golfe, com créditos reconhecidos na gastronomia e nas artes de bem receber. O problema é que poucos havia que realmente conhecessem as nossas virtudes – eram os mesmos de sempre, que voltavam ano após ano aos mesmos sítios, e nada evoluía. Até que o homem responsável pelo setor decidiu realmente olhar para o turismo com a perspetiva de quem tem mundo e viu o potencial por explorar e teve visão para saber em que botões carregar, em plena era digital, para melhorar os resultados e fazer de nós o destino turístico que sempre merecemos ser.
Desde que Adolfo Mesquita Nunes deu os primeiros passos para transformar esta atividade – seguidos, e bem, pela atual secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, a quem coube continuar a andar e fazer os ajustes que se vão revelando necessários –, fala-se de sucessivos recordes de turistas a chegar todos os meses. Mas esta mudança trouxe muito mais (e por favor deixemos de culpar a insegurança dos outros pelo nosso sucesso: ele é mesmo merecido). A começar pela variedade e qualidade dos turistas – muitos jovens, gente mais culta e viajada, que não nos procura só pelo mar e preços baixos mas por tudo quanto pode encontrar aqui, de norte a sul, nas cidades, no campo, nas serras. Estas enchentes de que alguns falam de ar nauseado trouxeram uma vida que sempre nos faltou, uma dinâmica nova, obrigaram-nos a acordar, a ver coisas distintas, a querer fazer melhor também cá dentro.
E com isso nasceram ideias e projetos que nunca pensaríamos ver aqui. Foram criadas empresas de sucesso. Conseguiu-se captar eventos inovadores (como o Web Summit) e começar a pôr o país entre os destinos mais interessantes para fazer negócios. Gerou-se muita receita e uma boa parte do crescimento. Muitos estrangeiros decidiram mudar-se de armas e bagagens para cá – não só os grandes investidores que acusamos à boca pequena de estarem a criar uma bolha imobiliária mas todos os que trazem outras culturas, ideias, formas de pensar e as juntam às nossas. Mesmo àqueles outros, que compraram a Avenida da Liberdade e outras zonas nobres ou típicas de Lisboa, devíamos agradecer porque sem eles a reabilitação de bairros inteiros que estavam há décadas a apodrecer não teria acontecido. Lisboa continuaria envelhecida e acinzentada, em vez de jovem e vibrante, ainda que um bocadinho encarecida – nada que o passar do tempo não ajude a corrigir.
À boleia do turismo, reformou-se também ruas e estradas e portos e aeroportos. E entre tantas obras, incluindo o rejuvenescimento dos prédios não apenas em zonas envelhecidas mas por toda a cidade, o setor da construção também saiu do buraco cavado no chão nos últimos anos e está finalmente a voltar à vida, com perspetivas de vir até a precisar de mais 80 mil operários nos próximos anos, para fazer face às novas necessidades, caso a reabilitação mantenha o ritmo.
Com o ano a meio e o verão ainda por contabilizar, prevê-se hoje que o país receba mais de 21 milhões de turistas até dezembro. Mais do dobro dos que aqui vivem. Não há dúvida de que as notícias são boas. Está na hora de deixarmos de torcer o nariz.