Diário de Notícias

SAÚDE ALGARVE À PROCURA DE MÉDICOS ATÉ POR DOIS DIAS PARA FAZER O VERÃO

Precisam de especialis­tas em ortopedia, ginecologi­a, anestesia, pediatria, medicina interna para Faro e Portimão e médicos de família

- ANA MAIA

A Administra­ção Regional de Saúde (ARS) do Algarve está a pedir médicos de várias especialid­ades para trabalhare­m nos hospitais de Faro e Portimão e nos centros de saúde da região durante os meses de verão, período em que a população poderá passar dos habituais 500 mil habitantes para mais de 1,5 milhões, a exemplo do que aconteceu em anos anteriores. A solução é a mobilidade a tempo parcial – por dois ou três dias, por exemplo, fazendo o resto da semana no serviço habitual – ou que tenham uma segunda habitação no Algarve e que antes ou depois de um período de férias queiram continuar na região a trabalhar enquanto a família continua de férias.

As contrapart­idas são ajudas de custo – podem variar entre 50 e 200 euros dependendo se pernoitare­m na zona onde vão prestar o serviço, segundo o regime especial de mobilidade parcial criado em 2015 para médicos que trabalhem em dois ou mais serviços do SNS separados mais de 60 quilómetro­s – e, no caso de ser necessário, subsídio de transporte, como está previsto no despacho publicado na semana passada.

A região precisa de médicos em ortopedia, ginecologi­a, anestesia, pediatria, medicina interna, cirurgia geral, nefrologis­tas e oncologist­as para os dois hospitais e médicos de família para os centros de saúde da região. O modelo excecional de mobilidade para o Algarve é válido entre 1 de junho e 30 de setembro. O despacho determina que a resposta às candidatur­as, que são voluntária­s, deve ser dada num prazo máximo de cinco dias e não é necessária a autorizaçã­o dos hospitais de origem. Solução para aumentar os recursos numa região que tem falta de meios humanos todo o ano. Em 2015 e 2016 o Algarve abriu 207 vagas para contratar médicos para os quadros. 144 ficaram desertas.

“O problema do verão é que temos uma população que se multiplica e neste ano até esperamos que seja mais do que 2016.Vamos ter de certeza no Algarve muitos médicos de férias, para alguns poderá ser interessan­te vir mais cedo ou ir mais tarde e estar cá um período a trabalhar e ajudar-nos. Poderá ser até financeira­mente interessan­te”, disse ao DN Paulo Morgado, presidente da ARS, reforçando que pretendem “trazer médicos a tempo completo ou parcial. Nada impede que um médico de Lisboa esteja dois dias lá e três no Algarve. O que esperamos é que isso possa ser atrativo para trazermos médicos de várias especialid­ades para colaborare­m connosco”. No ano passado sete médicos aceitaram a mobilidade. Bolsa de médicos Este ano há a expectativ­a de criar uma “bolsa de médicos”, como explicou fonte oficial ao DN, de forma a que durante o verão as unidades hospitalar­es possam ir recrutando clínicos de acordo com as necessidad­es pontuais. “A ideia é potenciar os recursos do Serviço Nacional de Saúde. E se tivermos sucesso até ajuda a diminuir as prestações de serviço [a contrataçã­o de médicos através de empresas]”, frisou.

Os custos dos pagamentos com os médicos que acederem à mobilidade parcial caberá ao Centro Hospitalar do Algarve. “Tudo o que se gastar aqui, não se gasta em prestações de serviço”, salientou o presidente da ARS, que garantiu que o Algarve está salvaguard­ado do decreto que impõe uma redução de 35% na despesa com a contrataçã­o de prestações de serviço.

Esta é uma solução recorrente para completar escalas. Incluindo no verão. “Vai com certeza contratar em ortopedia, pediatria, ginecologi­a, naquelas especialid­ades em que recorrente­mente precisa. O valor hora será negociado caso a caso. O decreto [de redução de despesa] poderá ter um efeito positivo. O mercado vai encurtar, o que vai obrigar as empresas a reduzir os valores de contrataçã­o. Isso é positivo para todos.” A lei prevê o pagamento por hora até 30 euros para especialis­tas e 25 para não especialis­tas. Valor que pode duplicar em casos excecionai­s justificad­os.

O responsáve­l da ARS não conhece nenhuma orientação interna de limitação de gozo de férias nesta altura, a não “orientação genérica que todos os diretores de serviço têm para que dois terços dos profission­ais estejam sempre ao serviço”.

Além dos postos de praia e horários alargados em alguns centros de saúde, também o INEM reforçou os meios até 30 de setembro, com mais uma moto em Portimão e três ambulância­s em Armação de Pera, Altura e Albufeira.

1,5

milhões no Algarve no verão A população residente no Algarve ronda os 500 mil habitantes, mas durante os três meses de verão costuma rondar o triplo.

200

Teto máximo de ajudas de custo O regime especial de mobilidade parcial dos médicos de 2015 atribui um teto máximo de ajudas de custo para os que tiverem de dormir no local onde vão prestar serviço.

A Ordem dos Enfermeiro­s visitou no final de maio os hospitais de Faro e Portimão, onde concluiu haver falta destes profission­ais. Situação que levou a Ordem a recomendar o encerramen­to de camas por falta de dotação segura. “Em Faro havia cerca de 60 doentes na urgência. O enfermeiro que está a fazer triagem está a vigiar uma sala a cinco metros onde há doentes a aguardar exames ou o fim da terapêutic­a. Se tenho dois enfermeiro­s para 30 ou 40 doentes como é que garanto a segurança? As urgências e os cuidados intensivos têm de estar garantidos. É nos serviços onde faltam enfermeiro­s que devem fechar camas”, disse a bastonária Ana Rita Cavaco.

“Há falta de enfermeiro­s, mas se calhar não tanto como a Ordem diz. Uma coisa são os cálculos feitos pela Ordem dos Enfermeiro­s, outra são os das pessoas que têm obrigação de gerir as entidades. Estamos a contratar mais enfermeiro­s, mas é um processo gradual. Temos constrangi­mentos orçamentai­s e as contrataçõ­es são limitadas”, disse Paulo Morgado, esperando que até ao fim do mês o Centro Hospitalar e Universitá­rio do Algarve seja aprovado, permitindo uma nova gestão com administra­dores delegados em cada um dos hospitais. Com CARLOS FERRO

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