RONALDO EM GRAFFITO
A HOMENAGEM DE UMA CIDADE EM VIGILÂNCIA MÁXIMA
T odos nos lembramos de imediato da morte de John Kennedy porque filmes e documentários sem conta mostram as imagens do presidente a ser alvejado na limusina em que percorria as ruas de Dallas a 22 de novembro de 1963, mas o assassínio de políticos nos Estados Unidos é um fenómeno bem mais antigo, basta pensar em Abraham Lincoln, abatido num teatro em 1865.
Porém, se os casos dos presidentes como alvos são os mais conhecidos, também pouco a pouco se foram tornando raros: Ronald Reagan foi atingido mas sobreviveu, George W. Bush até quebrou a velha maldição índia que, dizia-se, matava (por doença ou crime) todos os presidentes eleitos ou reeleitos em anos acabados em zero – na realidade, Reagan já tinha provado que uma lenda do século XIX não dura para sempre.
Atentar contra a vida de um presidente tornou-se cada vez mais difícil, tantas são as medidas de segurança que os rodeia. Mas os ódios políticos, de motivação complexa e objetivos incompreensíveis, podem dirigir-se contra alvos mais fáceis, como ontem contra um congressista republicano, Steve Scalise, que está em estado crítico depois de uma cirurgia. Há seis anos, o alvo foi uma congressista democrata, Gabrielle de Giffords, baleada na cabeça, que sobreviveu, ao contrário de outras seis pessoas também alvejadas.
Que as vítimas recentes sejam de um e outro partido, tal como Lincoln e Kennedy também o eram, mostra que os extremistas dispostos a matar podem vir de várias áreas ideológicas. Ou seja, que o problema é para ser enfrentado tanto por republicanos como por democratas. Convinha que depois deste primeiro momento de união nacional, ainda em choque, repensassem um pouco o nível dos ataques verbais que fazem uns aos outros. Não é que os assassinos precisem de os ouvir, mas sempre vale mais prevenir um ambiente de tensão política extremada, ainda por cima num país como a América, onde é fácil obter uma arma.