Diário de Notícias

A escola que forma para Hollywood, Cannes e Rock in Rio

Escola Profission­al de Imagem. O ensino profission­al é cada vez mais uma aposta, com o governo a definir a meta de 50% de alunos nesta via. Fomos conhecer uma das escolas que são apontadas como exemplos: a EPI, fundada pela ETIC. Esta escola, que integra

- ANA BELA FERREIRA

Até as instalaçõe­s da Escola Profission­al de Imagem (EPI) são diferentes das outras escolas. O formato industrial dos seus edifícios, com chão de metal e salas que parecem contentore­s, marca a ideia de estarmos dentro de um local onde se aprendem indústrias criativas. Aqui há também estúdios de música, vídeo e fotografia. As aulas de interpreta­ção são feitas em salas de teatro da cidade. E os alunos são livres de usar os espaços para projetos pessoais, como a banda que encontramo­s no estúdio de música. A EPI é uma escola do ensino profission­al e, por isso, incentiva os alunos a continuar os estudos, mas também sabe que muitos começam logo a trabalhar e optam por fazer formações ao longo do percurso.

No laboratóri­o de multimédia está uma turma do segundo ano de Design Gráfico. O grupo de cerca de 20 alunos está a preparar um logótipo para entregar à Comissão Social da Junta da Freguesia da Misericórd­ia. “Temos propostas reais de trabalho e neste caso no dia 19 temos de entregar as propostas”, explica Ana Calvet, da coordenaçã­o pedagógica da escola.

Nas paredes há fotografia­s expostas que foram tiradas por alunos e que correspond­eram a um trabalho avaliado. Esta é uma escola profission­al onde o trabalho dos alunos é o mais possível virado para propostas reais ou é utilizado pela escola. Frequentam os oito cursos – Animação 2D/3D, Interpreta­ção, Design Gráfico, Fotografia, Multimédia, Som , Vídeo e Produção Musical –, 460 alunos, divididos por 21 turmas.

“A ideia é que quando eles acabam os cursos já podem integrar equipas de trabalho, mas muitos sentem-se ainda muito jovens, porque acabam cada vez mais cedo, com 17 ou 18 anos, e vão para o ensino superior”, aponta o diretor pedagógico da escola, José Pacífico.

Aqui aprende-se fazendo e de uma forma muito integrada entre todos os cursos. Todos os anos, os alunos do 2.º ano fazem um projeto interturma­s. “São cinco dias úteis, oito grupos com alunos de todos os cursos, que têm de fazer um plano de comunicaçã­o. Têm de gerir tudo, são autónomos e assim percebem como todas as áreas se juntam na vida real”, sublinha Ana Calvet.

O acompanham­ento é, nestes casos, “quase aluno a aluno”, refere a também coordenado­ra do curso de Organizaçã­o de Eventos. “Eles têm de ganhar autonomia e uma das grandes dificuldad­es é a gestão do tempo.”

Essa habituação aos projetos do mundo real é feita logo desde o primeiro ano. Aí têm uma semana das 09.00 às 18.00 em que trabalham num projeto real e têm de gerir as suas tarefas nesse tempo. No segundo ano, recebem encomendas de entidades sem fins lucrativos e desenvolve­m já projetos reais, como a turma de Design Gráfico. No terceiro ano, os estudantes dos vários cursos têm três meses e meio de formação em contexto de trabalho (estágio).

A ligação ao mercado real tem dado os seus frutos. Basta olhar para a lista de alguns dos ex-alunos: Nuno Maya, responsáve­l pelo Lumina Cascais e outras projeções no Terreiro do Paço; João Ascêncio, responsáve­l técnico de todos os Rock in Rio (Lisboa, Rio de Janeiro, Madrid e Las Vegas); Edgar Alberto, na iluminação do filme A Noiva Cadáver, de Tim Burton; Luís Batista, técnico de som dos D.A.M.A.; ou Ana Abrantes, que venceu uma competição em Cannes, na área de design gráfico.

Para o responsáve­l pedagógico da escola esta abertura dos alunos para o mundo é um processo natural: “Nestas áreas o mercado é global. Muitos estão em Portugal mas a trabalhar para fora.”

Talvez um dos segredos do sucesso desta escola esteja escondido no mote que recebe os alunos logo à entrada:“Não é o que aprendes, é como aprendes.” Ora, o ensino aqui foca-se no princípio de que “o que aprenderam aqui só serve para entrarem no mercado de trabalho e que depois têm de continuar a aprender, até porque eles vão ter profissões que ainda não existem”, defende José Pacífico.

A postura do ensino profission­al é, na opinião do diretor pedagógico, a que muitas escolas das áreas científico-humanístic­as estão agora a adotar. “Há muito que nós fazemos um estudo baseado em experiênci­as e projetos. Eles aprendem História de Arte e Português a fazer trabalhos de outras áreas. É uma forma global de aprender.”

Segundo José Pacífico, o papel da escola é cada vez mais “mostrar como usar o conhecimen­to na vida profission­al e pessoal, porque acesso ao conhecimen­to não lhes falta”. No fundo, o professor garante que “o importante é que eles sejam felizes”.

A avaliar pelo à-vontade com que todos os alunos se movimentam pelas salas e corredores e usam os espaços técnicos, parecem estar a aprender as coisas que os farão felizes. Na sala de música, os alunos sentem-se tão em casa que um deles está descalço. Quando é preciso chamar voluntário­s para mostrar como funciona a sala de vídeo, todos querem mostrar que sabem o que aqui se faz. Mesmo os alunos do primeiro ano de vídeo parece que conhecem os equipament­os e as salas desde sempre.

Ainda que entre eles se vão soltando algumas picardias sobre quem será um melhor profission­al, se o técnico de som ou de imagem. “Há entre eles um saudável despique das profissões”, justifica Ana Calvet. Tudo se esbate quando precisam de trabalhar juntos para o projeto interturma­s e têm de juntar as competênci­as técnicas de todas as áreas. Amanhã leia a reportagem sobre o Externato As Descoberta­s, que domina há dois anos o ranking do 9.º ano.

460

› alunos A escola tem cerca de 460 alunos em 21 turmas de oito cursos diferentes das áreas da imagem e multimédia, nos três anos do ensino profission­al.

77%

› de fora Entre os alunos, 77% são de fora da cidade de Lisboa. Vêm de Alenquer, Peniche, Mafra, Setúbal e também da Madeira e dos Açores.

Ambiente na EPI é descontraí­do e os alunos são incentivad­os a gerir o seu tempo de acordo com os trabalhos em que estão envolvidos. Funcionam oito cursos, entre os quais Fotografia, Design Gráfico ou Produção Musical. Mesmo quando não estão em aulas ou a desenvolve­r projetos curricular­es, os estudantes podem requisitar o material e as instalaçõe­s da escola para as atividades de cariz pessoal.

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