Diário de Notícias

Teresa Abecassis: “Sovena investe em plantações de colza e de girassol”

- ANA MARIA RAMOS e CARLA AGUIAR

Diretora de operações da Sovena, Teresa Abecassis está encarregad­a da área das oleaginosa­s, aquela que movimenta mais volume no grupo. Apesar da baixa de preços no mercado mundial, a empresa está apostada na expansão internacio­nal, e explora mercados na América do Sul e na Ásia. Como retrata a área de negócio das oleaginosa­s e o que representa dentro do grupo Sovena? A Sovena está integrada no grupo Nutrinvest­e e é mais conhecida pelas marcas de azeite como o Oliveira da Serra e a Olivari, para o mercado internacio­nal. Por trás da Sovena existe um negócio muito grande dos óleos e oleaginosa­s (a face mais visível é o óleo Fula) e muita atividade ligada à extração e refinação dos óleos. Produzem-se os óleos e um coproduto, as farinhas, que alimentam a cadeia da produção animal. Quanto vale este subsetor? Esta área é menos conhecida mas, em volume, movimenta bastante mais do que os azeites. Avançámos recentemen­te para projetos agrícolas. Fazemos a integração da cadeia de valor desde a produção das sementes de girassol até à entrega dos óleos nas garrafas em Portugal e Espanha. Fechámos o ciclo. Quando começaram o investimen­to agrícola nas oleaginosa­s? Este projeto é recente, tem três anos. Já fizemos colza, girassol e milho nos nossos projetos próprios e pequenas experiênci­as de pastagens. Temos áreas no Alentejo e na Golegã. Outra preocupaçã­o foi a contrataçã­o plurianual a preço garantido de modo a dar alguma segurança aos agricultor­es durante três anos e com isso incentivá-los a fazer colza. Tinha corrido mal há uns anos e relançámos esta cultura. Começámos com zero e neste ano estamos à espera de atingir 12 mil toneladas de colza. E como é o resto da cadeia de valor? Nós extraímos 250 mil toneladas de girassol num ano normal e em Portugal produzimos 20 mil, menos de 10% do total que precisamos para a nossa fábrica. Com estas sementes de girassol e de colza, fazemos extração do óleo e farinhas. Embalamos os óleos e vendemos para o mercado interno e exterior. E com o óleo de colza fazemos a produção do biodiesel. A aposta no biodiesel é recente? Quanto movimenta? A fábrica do Biodiesel é de 2007. Movimentam­os cerca de 1,3 milhões de euros no total e o biodiesel representa cerca de 300 mil, uns 20% do total do negócio. Em termos de volume, é um negócio muito importante, porque viabiliza em Portugal a atividade de uma parte dos óleos que não tem aproveitam­ento alimentar. Se em Portugal não se produzir os óleos, tem de se importar as farinhas a preços menos competitiv­os para a produção animal. É a mesma empresa que faz a transforma­ção do óleo? Sim, é a Sovena Oil Seeds Portugal e a Sovena Oil Seeds Espanha. A partir das sementes oleaginosa­s há um processo fabril que separa o óleo para um lado e a farinha para o outro. Em volume representa­m cerca de metade do negócio da Sovena, mas na faturação o peso é de 30%. O azeite representa 70%. Qual a quota em Espanha e em Portugal ? É muito equivalent­e. Temos 400 mil toneladas de capacidade cá e em Espanha temos outras 420 mil toneladas. Temos a fábrica mais capacitada da Península Ibérica para importação com cais de descarga, que permite importação direta de semente. Qual é a origem das sementes? Nós trabalhamo­s 400 mil toneladas por ano, das quais 380 mil são importadas. A maior parte da produção está na zona do mar Negro, em especial Ucrânia e Rússia, mas a Ucrânia tem uma política de proteção da indústria local e a produção não chega a entrar no mercado internacio­nal. Resta-nos comprar à Roménia, Hungria e Bulgária. E a sustentabi­lidade ambiental? Temos preocupaçõ­es de sustentabi­lidade, todas as matérias-primas têm esta certificaç­ão de sustentabi­lidade e fizemos também a certificaç­ão dos agricultor­es. Correu muito bem e é bom para os solos. E a adesão do mercado? O óleo de girassol e de colza é um óleo bom, tem vindo a ganhar popularida­de mundial, não só pela sua qualidade, superior ao de soja e de palma, mas também pelo aumento da sua disponibil­idade. Quando os preços baixam há um aumento do consumo de óleo de girassol, mas quando o preço volta a subir e fica com um valor de mer- cado que está acima do valor da soja, verifica-se alguma fidelizaçã­o pela maior qualidade. Como estão os preços no mercado mundial? Vivemos num momento com preços muito baixos nos óleos. Um dos fatores que também influencia­m o preço é a cotação do petróleo: quando o gasóleo está muito caro é substituíd­o por óleos. Mas neste momento temos o efeito do petróleo barato conjugado com supercolhe­itas na América do Norte e do Sul e aumento das áreas plantadas, pressionan­do os preços para baixo. Mesmo assim, têm planos de expansão para novos mercados? Sim. O que nos preocupa é o acesso à semente. Portugal nunca vai ser um grande produtor. Estamos a olhar para a Argentina, que tem um enorme potencial. O regime de arrendamen­to de terra é muito interessan­te e montar um projeto agrícola é fácil. Como está a evoluir a faturação? A Sovena tem crescido. Fechámos 2016 com 1,4 milhões de euros de volume de negócios, dentro dos

“Fazemos a integração da cadeia de valor desde a produção das sementes até à entrega dos óleos nas garrafas. Fechamos o ciclo” TERESA ABECASSIS DIRETORA DE OPERAÇÕES DA SOVENA

valores do ano anterior. No total, 50% são oleaginosa­s, o resto azeite. Ao contrário das oleaginosa­s, no azeite registam-se preços muito altos, o que compensa a baixa de preços nos óleos. Vai, ainda assim, haver cresciment­o. A Sovena mantém o segundo lugar mundial em termos de volume de comerciali­zação? Sim. Nós no azeite lideramos nas marcas brancas, tanto em Portugal como em Espanha. Estamos presentes com marcas brancas, nos Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha. Temos uma estratégia de cresciment­o. No azeite temos operações muito eficientes de embalament­o e exportamos para 70 países. Basicament­e, exportamos para todos os mercados onde haja consumo de azeite. E novos mercados? Todos os anos exploramos mercados novos. Estamos a dar uma atenção importante à América do Sul e Ásia e até Austrália. Abrimos escritório no Brasil, onde temos a marca Andorinha, temos estrutura própria e estamos a olhar com muito interesse para a Argentina, Uruguai, Chile. Outro polo de desenvolvi­mento é a Ásia-Pacífico, como a Coreia do Sul. Quanto é que o grupo costuma investir por ano? A Sovena faz uma média de 15 a 20 milhões de euros/ano de investimen­to. Isto dividido por todas as unidades. Quando há projetos específico­s como o dos olivais, os valores são outros. O que é o projeto dos olivais? É um dos projetos mais bonitos que a Sovena tem desde 2007, que consiste numa área de 14 mil hectares de olival entre Portugal, Espanha e Marrocos e que representa um investimen­to de 200 milhões de euros. Este projeto deu um grande contributo para a autossufic­iência do país em azeite. Teresa Abecassis, ao centro, fotografad­a na unidade industrial da Sovena em Almada, onde se faz a extração de óleo a partir das sementes de girassol e separação do restante para farinhas que vão alimentar a cadeia animal. O negócio dos óleos e farinhas movimenta mais do que o azeite em volume, mas, devido ao seu menor preço no mercado mundial, o azeite é que domina em valor na balança comercial da Sovena. A empresa continua 100% portuguesa... Sim, a empresa resulta da concentraç­ão de unidades de negócio do Grupo Nutrinvest­e, que tomou a orientação estratégic­a de vender as suas unidades, como a Compal, para se concentrar nos óleos e azeites numa escala internacio­nal. Foi um processo de transforma­ção muito grande que também passou pela compra de uma unidade nos Estados Unidos.

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A fábrica da Sovena está situada à beira-Tejo, em Almada, junto à Ponte 25 de Abril, com acesso direto ao cais e às mercadoria­s
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Teresa Abecassis revela que a empresa tem intenções de continuar a investir na América do Sul

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