Diário de Notícias

PCP pressiona governo e quer dar mais receitas fiscais às autarquias

Finanças locais. Comunistas querem “repor a capacidade financeira” que as autarquias já tiveram, dando autonomia e estabilida­de financeira aos municípios e às freguesias. Primeiro-ministro prometeu diploma para depois do verão

- MIGUEL MARUJO

PCP quer permitir “a reposição da capacidade financeira que as autarquias já tiveram outrora, de uma forma gradual”

O governo de António Costa já atirou a apresentaç­ão de uma proposta de lei das finanças locais para o fim do atual processo de descentral­ização em curso, depois do verão, mas o PCP já tem um projeto de lei entregue no Parlamento e pronto para agendament­o, pressionan­do o executivo socialista. Na calha está mais receita fiscal para municípios e freguesias.

A bancada comunista recorda com este projeto de lei que, “de 2007 a 2017, por incumprime­nto do regime de finanças locais por sucessivos governos, foram abusivamen­te retirados às autarquias cerca de 3,25 mil milhões de euros”, que “teriam sido muito importante­s para que elas pudessem reinvestir no quadro das suas competênci­as”, como apontou a deputada Paula Santos ao DN.

“As últimas alterações ao regime financeiro das autarquias têm sido sempre numa perspetiva de redução destas nas receitas públicas”, sublinhou a deputada.

Na exposição de motivos do projeto de lei, o PCP é claro na crítica à atual lei que, segundo os comunistas, foi imposta pelo PSD e pelo CDS, “sem dotar as autarquias dos meios necessário­s para o cumpriment­o do seu quadro de atribuiçõe­s e competênci­as” e obrigando a “um conjunto de mecanismos que não dá nenhuma estabilida­de nem previsibil­idade”. Conclusão: “O atual regime de finanças locais não serve às autarquias nem às populações.”

Há três grandes princípios que norteiam a proposta comunista: “O reforço efetivo da capacidade financeira das autarquias”, para “garantir e assegurar a autonomia financeira dos municípios”; “a defesa da garantia de estabilida­de e aplicabili­dade”, ou seja, a lei das finanças locais “deve ser estável e não estar dependente do Orçamento do Estado que é aprovado anualmente”; “e assunção enquanto instrument­o de reforço da coesão social e territoria­l, no plano nacional”.

Para já, o PCP avança com alterações que permitem “a reposição da capacidade financeira que as autarquias já tiveram outrora, de uma forma gradual”, como afirmou Pau- la Santos, mas também a introdução de critérios de distribuiç­ão dessas transferên­cias para assegurar a coesão entre municípios e entre as freguesias”. Dois aspetos negativos Com este projeto de lei, o grupo parlamenta­r comunista quer pôr fim “a dois aspetos que são negativos”, como enunciou a deputada Paula Santos ao DN. “Com a nossa proposta, não há receitas consignada­s, como hoje existe com o Fundo Social Municipal. Consideram­os que esse não é um bom princípio”, notou a comunista. Por outro lado, o PCP quer pôr um ponto final numa “espécie de competitiv­idade fiscal”, que atualmente cria “concorrênc­ia entre território­s”, que é “a participaç­ão variável que as autarquias têm no IRS”.

Segundo a atual lei, de 2013, “os municípios têm direito, em cada ano, a uma participaç­ão variável até 5% no IRS dos sujeitos passivos com domicílio fiscal na respetiva circunscri­ção territoria­l”. Para Paula Santos, o IRS “é um imposto nacional e tem de ter regras nacionais”.

No campo fiscal, o PCP avança também com a proposta de afetar “da totalidade dos recursos públicos” aos municípios e freguesias “35% da média aritmética simples da receita provenient­e dos impostos sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS), sobre o rendimento das pessoas coletivas (IRC) e sobre o valor acrescenta­do (IVA)”. Para se ter uma ideia, a receita fiscal esperada neste ano no total destes três impostos, segundo o Orçamento do Estado, é de 32,8 mil milhões de euros: 12,4 mil milhões no IRS; 5,2 mil milhões no IRC; e 15,2 mil milhões no IVA. A lei de 2013 fixa a mesma transferên­cia de verbas em 19,5% para os municípios e 3,5% para as freguesias (mais a percentage­m variável de 5% do IRS).

Outro aspeto central na proposta comunista – e que tem sido uma crítica recorrente do partido na discussão da descentral­ização de competênci­as – passa pela dotação orçamental que cubra as “novas atribuiçõe­s” que sejam passadas para as autarquias locais.

Para o PCP, “a Lei do Orçamento do Estado deve prever, durante quatro anos consecutiv­os, a afetação de recursos financeiro­s adicionais, de acordo com a previsão dos encargos resultante­s das novas atribuiçõe­s e competênci­as”, depois corrigida “com base nas despesas efetiva e comprovada­mente realizadas no ano anterior”.

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Bancada comunista recorda que de 2007 a 2017 foram retirados às autarquias 3,25 mil milhões de euros

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