Descoberto um dos mecanismos que causam cancro
Cientistas do Porto revelam processo na origem de erros na divisão das células
Investigação foi feita por cientistas do instituto i3S, no Porto Quando as células se reproduzem, algo essencial para a regeneração dos tecidos e para o crescimento dos organismos, há um momento crítico, que é o da divisão dos cromossomas e, se algo aí corre mal, pode ocorrer o cancro. Um grupo de investigadores do Porto desvendou agora os segredos daquele mecanismo da divisão dos cromossomas, abrindo a porta a possíveis terapias que, no futuro, possam corrigir esses erros e evitar a formação de tumores malignos.
Segundo o coordenador do estudo, Carlos Conde, investigador do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), as células possuem um conjunto de mecanismos que garantem que todos os passos da divisão celular são controlados para funcionar na perfeição. Uma das etapas é a divisão dos cromossomas. Quando há erros aí, formam-se células com um número irregular de moléculas, e pode então ocorrer a carcinogénese – o processo de formação do cancro. Em consequência desses erros, as células podem deixar de responder aos fármacos usados em quimioterapia, e quando eles ocorrem nas células reprodutoras, há abortos espontâneos ou malformações congénitas.
O que a equipa do Porto verificou é que durante este processo existe na célula “uma espécie de ponto de controlo, que garante que todos os cromossomas são posicionados de forma alinhada num plano de partida, como se de uma corrida se tratasse”, como explicou Carlos Conde à Lusa. A sua equipa descobriu como funciona o “tiro de partida” que “autoriza a separação e a migração” dessas moléculas. Para que as novas células sejam formadas corretamente é preciso tempo até que os cromossomas se encontrem todos alinhados no centro da célula, o que garante uma divisão dos cromossomas em quantidades iguais para as duas células filhas. Mas quando eles se separam antes do tempo ocorre uma “distribuição desigual do material genético pelas células filhas”, explica o investigador. Esta desigualdade provoca uma malformação celular, que dá origem ao cancro.
Como mostra o estudo, é uma proteína chamada MPS1 que tem como missão manter os cromossomas na célula, até que todos se desloquem para a sua zona central da mesma. Depois a proteína PP1 encarrega-se de separar os cromossomas em partes iguais, para cada uma das células filhas. A divisão inicia-se quando a PP1 trava as funções da MPS1. “Fazendo um paralelo com uma corrida de cavalos, as MPS1 são as portas de barreira que se mantêm fechadas até todos os concorrentes estarem nas respetivas boxes”, diz Carlos Conde. As PP1 funcionam assim como “tiro de partida”, fazendo que as portas se abram.
A descoberta de como funciona este mecanismo e de como ocorrem os erros que dão origem a células cancerosas permite agora estudar formas de os evitar.