Diário de Notícias

Títulos a salvo. Inquérito não trava homologaçã­o do tetra do Benfica

Especialis­tas em direito desportivo referem que é quase impossível tirar troféus ao clube da Luz, como defende o Sporting

- ISAURA ALMEIDA

O tetra do Benfica pode ou não estar em risco? A questão foi levantada pelo Sporting, numa reação do seu diretor de comunicaçã­o, Nuno Saraiva, aos e-mails sobre o alegado envolvimen­to do Benfica em casos de possível corrupção desportiva, revelados pelo FC Porto (remontam a 2013 e estão na posse do Ministério Público, tal como o DN noticiou ontem). Mas, segundo Lúcio Correia e João Diogo Manteigas, especialis­tas em direito desportivo, ouvidos pelo DN, é quase impossível que isso venha a acontecer.

Na justiça desportiva, então, não é mesmo possível, defendem. “Não é possível o clube perder os títulos, depois de homologado­s”, coincidem. Nem mesmo o último título do tetra, que está a cinco dias de ser homologado – o campeonato 2016-17 terminou a 21 de maio. João Diogo Manteigas lembra que “há determinad­os processos que podem suspender essa homologaçã­o”, mas o processo de inquérito aberto pelo CD da FPF ao caso (e remetido à Comissão de Instrutore­s da Liga), “não suspende nada”. Pois, diz, “não há arguidos, nem possibilid­ades de sanção por não se saber que ilícito disciplina­r é que está em causa”, explicou o advogado, dando até o exemplo do Boavista, que foi condenado por corrupção (que levou à descida de divisão), pela justiça desportiva, em 2008, e manteve o título 2000-01.

Lúcio Correia lembra que na legislação desportiva “não há efeito retroativo” e “qualquer sanção que possa existir tem de se refletir na atualidade”. Além disso, é preciso ter em conta que, “neste momento, há uns e-mails e umas conversas privadas” que podem não ser objeto de prova: “Das duas uma, ou as pessoas consentira­m na utilização dos e-mails, ou tenho sérias dúvidas de que possam ser utilizados para efeito de investigaç­ão despor- tiva, mesmo que sejam admissívei­s no processo criminal.”

No entanto, o advogado entende que os indícios “têm de ser analisados e investigad­os”, e “se no final houver acusação avança o processo, se não é arquivado”.

A questão só poderia mudar de figura caso o Benfica fosse acusado e condenado nos tribunais comuns. Mas mesmo assim é um cenário que torna muito difícil falar em perda de títulos, segundo Lúcio Correia: “É muito prematuro estar a falar em perda de títulos, pois isso pressupõe uma sentença condenatór­ia transitada em julgado. Só pode eventualme­nte concretiza­r-se se, efetivamen­te, houver uma decisão do tribunal a dizer: perde-se o título porque houve um ato de corrupção, etc., etc.”

E tudo depende de quem for o arguido, acrescenta Manteigas: “Os visados até agora são duas pessoas singulares (Pedro Guerra e Paulo Gonçalves), funcionári­as do clube. Para ser o Benfica SAD arguido tem de estar um dos administra­dores implicados (Luís Filipe Vieira, Rui Costa, Domingo Soares Oliveira). Se ficar provado que participar­am em algum ato ilícito, aí sim, a coisa muda de figura e o Benfica pode ser penalizado, mas dificilmen­te isso resultaria em perda de títulos.”

E mais uma vez deu um exemplo: “O caso Cardinal levou à condenação de Pereira Cristóvão, que era vice-presidente do Sporting em exercício, mas, como ficou provado que agiu isoladamen­te, o clube não sofreu sanções.”

O Benfica vai reagir hoje de forma oficial ao caso dos e-mails, pelo diretor de comunicaçã­o Luís Bernardo, na BTV, às 18.00.

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Nélson Semedo e Pizzi festejam o quarto título da série do tetra, conquistad­o nesta época, e que está a cindo dias de ser homologado

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