Diário de Notícias

Diplomacia do basquetebo­l

- LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Dennis Rodman é um ex-basquetebo­lista (isso é certo), diz-se amigo de Kim Jong-un (conhecido é) e está agora na Coreia do Norte como diplomata oficioso ao serviço dos Estados Unidos (uma séria possibilid­ade). Ora, nem a antiga estrela da NBA, nem o líder norte-coreano, nem Donald Trump são o tipo de personalid­ade fáceis de entender. E nisso talvez até resida a hipótese de esta visita de Rodman ao país mais fechado do mundo poder pôr fim à tensão criada pelos ensaios de mísseis por Kim e a ameaça de retaliação feita por Trump. Para já, um sinal de boa vontade do regime de Pyongyang: a libertação de um americano preso, que coincidiu com a chegada do basquetebo­lista, o que não pode ser mera coincidênc­ia.

Rodman já esteve antes na Coreia do Norte. Tem em comum com Kim a paixão pelo basquetebo­l. O basquetebo­lista também participou em tempos num dos concursos televisivo­s que Trump organizava antes de ser eleito presidente dos Estados Unidos e ambos trocaram elogios no passado, com Rodman a destacar até os dotes políticos do magnata.

Não faltam casos de diplomacia oficiosa que no passado abriram canais de diálogo entre inimigos: um caso célebre será o convite de Mao Tsé-tung a Richard Nixon para visitar a China feito em 1970 através do jornalista Edgar Snow, um veterano que conhecia o líder chinês desde os tempos da guerrilha e que estava então de visita a Pequim. Apesar de o comunismo de Snow gerar muitas desconfian­ças na Casa Branca, o certo é que passados dois anos o presidente Nixon visitou de facto a China e os países rivais passaram a fazer bloco comum contra a União Soviética.

Não se pode criar muitas expectativ­as sobre a viagem de Rodman. Mas se esta conseguir reiniciar o diálogo entre norte-coreanos e americanos merecerá aplausos. Kim quer as armas nucleares para evitar ser derrubado, Trump já mostrou que é um pragmático pouco dado a princípios e que lhe interessa mais que Kim desista do nuclear do que derrubar o regime. Porque não ter esperança com a diplomacia do basquetebo­l se um dia a do pingue-pongue resultou?

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