Não tem o Papa Francisco razão, quando afirma, por palavras e obras, que a Igreja não pode ser auto-referencial, já que a razão da sua existência é o serviço da humanidade?
na caridade? Neste sentido, não tem razão Francisco ao não se referir a si mesmo como Papa, mas como bispo de Roma?
Não tem razão ao propor caminhos de progresso no ecumenismo, apelando por palavras e obras à unidade das diferentes Igrejas e confissões cristãs? Não tem razão ao seguir para Lesbos acompanhado do patriarca de Constantinopla, ao encontrar-se com o patriarca de Moscovo em Havana, ao querer que os 500 anos da Reforma sejam celebrados conjuntamente por católicos e protestantes e ao declarar que Lutero tinha razão e que não queria dividir a Igreja?
Não tem razão ao promover o diálogo inter-religioso de todas as religiões, mais concretamente com o islão moderado? De facto, ele sabe que o número de cristãos e muçulmanos juntos é superior a mais de metade da humanidade, de tal modo que faz sentido a pergunta: se nos entendêssemos todos, não haveria nessa compreensão uma força excepcional a favor da paz no mundo todo? Mas Francisco não tem igualmente razão quando denuncia como blasfema a violência em nome de Deus? E não tem razão também quando apela à comunidade internacional a favor dos cristãos, concretamente no Médio Oriente, vítimas de uma perseguição brutal? Não é verdade que, ainda antes das invasões ocidentais, estava já a caminho uma política de extermínio do cristianismo no Médio Oriente, onde, no início do século XX, os cristãos constituíam ainda um quinto da população? Não é hoje o cristianismo a religião mais perseguida do mundo?
Francisco é hoje um líder político-moral global, dos mais amados, senão o mais amado, dos mais influentes, senão o mais influente. E está ao serviço da paz mundial. Não tem razão, quando diz que a terceira guerra mundial está em curso, embora aos pedaços, às fatias, e o que mais teme é que essa guerra de repente expluda e se torne mesmo global e até nuclear, ameaçando a sobrevivência da humanidade?
Não tem razão quando escreve uma encíclica – “Laudato si” – sobre o meio ambiente e a ecologia integral, para que a humanidade toda tome consciência de que precisamos de salvar a nossa casa comum, pois podemos estar em vésperas de um cataclismo ecológico de dimensões imprevisíveis e irreversíveis? Não tem razão, ele que não é comunista nem marxista, quando proclama, com Jesus, que não é possível servir ao mesmo tempo a Deus Pai e Mãe de todos os homens e mulheres, sem excepção, e ao deus Dinheiro? Que a economia tem de estar ao serviço da pessoa humana, de todas as pessoas, e não da financeirização especulativa, que faz milhões de vítimas? Não é urgente a constituição de instâncias políticas globais, para a regulação dos mercados e da economia global?
Não tem o Papa Francisco razão quando afirma, por palavras e obras, que a Igreja não pode ser auto-referencial, já que a razão da sua existência é o serviço da humanidade? Não era o famoso bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que, com razão, dizia que “uma Igreja que vive para si morre por si”?
Então, porque é que Francisco tem opositores e inimigos? Mesmo sem querer canonizá-lo, a resposta é simples: se se quiser ser honesto, exactamente pelas mesmas razões que Jesus também os teve.