Diário de Notícias

Justiça Depois dos juízes agora são os funcionári­os a ameaçar com greve

Gabinete da ministra da Justiça diz que a proposta de alteração dos estatutos está “a ser finalizada”, mas sindicato só espera dez dias.

- FILIPA AMBRÓSIO DE SOUSA

Os funcionári­os judiciais dão o prazo de dez dias para decidirem se avançam para greve, caso o Ministério da Justiça não apresente a proposta de alteração aos seus estatutos. Esta é a terceira ameaça de paralisaçã­o que a titular da pasta da Justiça, Francisca van Dunem, enfrenta e relativame­nte ao mesmo assunto: atraso na revisão dos estatutos. Depois dos juízes e do Ministério Público (MP), é a vez agora do Sindicato dos Funcionári­os Judiciais. O presidente da estrutura sindical, Fernando Jorge, explicou ao DN que, “apesar de não querermos ter atitudes tão drásticas como a dos senhores magistrado­s, a verdade é que desde março que a ministra nos prometeu entregar a proposta de alteração aos nossos estatutos e até agora nada”. Por isso, a decisão poderá ser a de greve, assume Fernando Jorge ao DN. Contactada pelo DN, fonte oficial do gabinete da ministra da Justiça adianta que “o documento está a ser finalizado mas ainda não está completo”. Certo é que muito se tem falado das propostas de alteração dos estatutos de ambas as magistratu­ras – judicial e do Ministério Público – mas desde março que os funcionári­os judiciais também espera um feedback do executivo que, nessa altura, prometeu para final de maio a conclusão dos trabalhos. “Agora já passou maio e estamos já em meados de junho. Estamos a ser pacientes, mas daqui a uma semana, máximo dez dias, teremos de nos reunir para saber o que fazemos.” Em causa, a alteração ao Estatuto dos Funcionári­os Judiciais, que desde a reforma judiciária de setembro de 2014 que está prometida (na altura ainda com Paula Teixeira da Cruz como ministra da Justiça). Estatuto esse que inclui as regras da profissão como a progressão na carreira, estatuto remunerató­rio ou as normas e sanções disciplina­res.

Num artigo de opinião publicado no Correio da Manhã, Fernando Jorge escrevia que “parece que todos esquecem que também existem funcionári­os judiciais nos tribunais e que estes aguardam ainda a respetiva proposta do governo de revisão do seu estatuto. E se os magistrado­s esperam pelo seu estatuto há seis anos, a última revisão do nosso estatuto foi em 1999 – no século passado”. O prazo para entrega das propostas definido por Francisca van Dunem era idêntico para magistrado­s e funcionári­os. Porém, os juízes e procurador­es do MP já a receberam, em finais de maio. “Os magistrado­s já a receberam, nós não! E como é óbvio não ficaremos sentados à espera”, diz Fernando Jorge. Avançando que, se a decisão for de greve, “não vamos ameaçar mas sim marcar logo uma data”.

No caso dos magistrado­s judiciais, a questão que tem sido o epicentro das reivindica­ções passa pela revisão do estatuto remunerató­rio. A Associação Sindical dos Juízes Portuguese­s já assumiu que poderá ser marcada inclusive uma paralisaçã­o para inícios de agosto, pondo assim em causa a validação das candidatur­as autárquica­s, que terá de ser feita pelos juízes dois meses antes das eleições marcadas para 1 de outubro. E enquanto os funcionári­os judiciais esperam pela entrega da proposta, as magistratu­ras estão já em fase negocial. Nesta semana decorreram (à porta fechada) as reuniões da ministra com os juízes. Para hoje está agendada a reunião de Francisca van Dunem com o Sindicato dos Magistrado­s do Ministério Público, que também já ameaçou com greve. Dias antes, ambos os sindicatos enviaram contraprop­ostas ao Ministério da Justiça para alterar a proposta inicial do governo.

Em entrevista à Antena 1/Jornal de Negócios, a ministra já tinha avisado que “os magistrado­s verão os escalões remunerató­rios nos mesmos termos dos demais”. A titular da pasta da Justiça garantia que as revisões irão ser “idênticas às que acontecem ao nível dos funcionári­os públicos”. A governante deixou um aviso: “Não se começa uma negociação apontando para a bomba atómica.” Porém, a ministra já fez saber que o valor do subsídio de compensaçã­o vai ser reposto: dos atuais 620 euros passa para os 775 euros que foram pagos até 2011.

Segundo o Sindicato dos Funcionári­os Judiciais, o estatuto da profissão não é revisto desde 1999. E desde março que esperam a proposta Francisca van Dunem já avisou que os escalões remunerató­rios serão revistos em contexto geral da função pública

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Os funcionári­os judiciais são pouco mais de sete mil nos tribunais portuguese­s. Perderam cerca de dois mil profission­ais desde 2012

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