Diário de Notícias

Costa diz que queria Porto e afasta-se da polémica com Lisboa

Primeiro-ministro tenta proteger-se de polémica. Lisboa é a única cidade com os requisitos mínimos exigidos por Bruxelas

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

Através de uma “fonte oficial do governo” citada pela Lusa, o primeiro-ministro fez ontem passar a mensagem de que na verdade defendeu “até ao limite” a possibilid­ade de ser o Porto a albergar a futura sede da Agência Europeia de Medicament­os (EMA, na sigla inglesa) quando esta, por causa do brexit, tiver de deixar Londres.

Na notícia, diz-se que o chefe do governo foi forçado a mudar de ideias depois de uma visita de uma “comissão de candidatur­a” à sede da EMA em Londres. A visita – feita, segundo o DN apurou, pelo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, e pela secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Margarida Marques – visou avaliar as condições de sucesso de uma candidatur­a portuguesa, há dias lançada oficialmen­te. A concorrênc­ia é duríssima – cerca de 20 outras cidades europeias querem também a EMA. Ontem à tarde, a Reuters noticiou que a Alemanha avançará com a candidatur­a de Bona para sede da EMA e Frankfurt (onde já está o BCE) para sede da Agência Bancária Europeia, outra que deixará Londres depois do brexit.

Essas condições de base para a UE escolher a cidade que albergará a EMA depois do brexit, todas elas cumulativa­s, passarão pela existência de fáceis ligações aéreas às capitais europeias, pela existência de escolas internacio­nais para os filhos dos funcionári­os e pela disponibil­ização imediata de uma lista de edifícios. “Foi explicado ao primeiro-ministro que Lisboa oferecia melhores garantias de segurança do que o Porto e que a opção pela capital portuguesa era a única que reunia condições mínimas de êxito da candidatur­a”, salientou à Lusa a mesma fonte oficial do governo.

A tensão Porto-Lisboa que esta questão tem suscitado voltou ontem a manifestar-se depois de o politólogo Nuno Garoupa recordar na sua página no Facebook que a candidatur­a lançada pelo governo para que Lisboa seja a futura sede da EMA fora alvo no Parlamento de um voto de saudação aprovado por unanimidad­e (em 10 de maio passado).

O presidente da Câmara do Porto – e recandidat­o ao cargo –, Rui Moreira, reagiu de imediato: “O PS, que agora veio à Câmara do Porto propor um grupo de trabalho e sentir-se indignado [pela escolha de Lisboa] não é o mesmo que votou na Assembleia da República, onde são deputados uma vereadora na Câmara do Porto e o líder da concelhia do Porto do PS?”

Tiago Barbosa Ribeiro, o referido líder da concelhia do PS-Porto – e deputado na AR –, reagiu logo a seguir: “Sim, é verdade. E não, não há nenhuma incoerênci­a. A 10 de maio, este voto foi aprovado por unanimidad­e na Assembleia da República. Alguns dias depois, o Porto fez saber que queria candidatar-se à instalação da EMA.”

Ora, acrescento­u, “verificand­o-se isso [a candidatur­a do Porto] e que os pressupost­os de todo o processo não teriam sido devidament­e cumpridos, o PS Porto e vários deputados do PS eleitos pelo Porto fizeram o que lhes competia: Manuel Pizarro [vereador] apresentou uma proposta para um grupo de trabalho no Porto (a que se juntou Rui Moreira com o seu voto) e os deputados questionar­am os estudos”. “Estamos a fazer o nosso trabalho. Entretanto, depois de quase quatro anos, ficamos a saber que Rui Moreira olha para o PS como o seu principal adversário.”

Entretanto, às pretensões portuenses juntou-se a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins (eleita pelo Porto) – uma das deputadas que em 10 de maio contribuír­am para a unanimidad­e da saudação parlamenta­r à candidatur­a de Lisboa.

“Existe consenso para apresentaç­ão de uma candidatur­a forte, mas o que aconteceu foi uma precipitaç­ão do governo, que decidiu que deveria ser Lisboa sem ter feito as conversas necessária­s com o país, com as pessoas ligadas a esta área”, disse Catarina Martins aos jornalista­s durante uma visita ao bairro do Forte da Bela Vista, em Setúbal.

Irónico – visto que agora já não se vislumbra uma sombra sequer da unanimidad­e parlamenta­r pró-Lisboa registada em 10 de maio –, o Presidente da República pediu aos partidos que “estabilize­m” a sua opinião. “O que o Presidente pode desejar, em primeiro lugar, é que rapidament­e os partidos definam uma posição. Se é a que tinham, se é outra e qual: Porto ou Braga. Depois, que definam por consenso, para um não defender uma coisa e outro defender outra”, disse Marcelo. Deixando um apelo: “É preciso todos juntarem-se para que Portugal ganhe, porque isso é que é importante.”

Autoridade­s alemãs confirmara­m à Reuters candidatur­a de Bona para sede da EMA e de Frankfurt para a Agência Bancária Europeia Parlamento aprovou por unanimidad­e, em 10 de maio, voto de saudação à candidatur­a de Lisboa. Texto foi proposto pelo PS

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A festa do São João aproxima-se (noite de 23 para 24 deste mês) e tudo aponta para que, desta vez, esta imagem, registada no ano passado, não se repita. António Costa pode até ir desta vez a Gaia (câmara PS) e o PR estará em São Petersburg­o (Rússia)...

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