Diário de Notícias

Processo a Pinto da Costa e queixa contra Bruno de Carvalho

Clube vai agir judicial e desportiva­mente contra presidente­s do FC Porto e do Sporting e abre as portas ao Ministério Público

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ISAURA ALMEIDA O Benfica vai responder com processos-crime e queixas na justiça desportiva contra Pinto da Costa e o FC Porto, na sequência dos e-mails revelados pelos dragões, que acusaram o clube da Luz de um alegado “esquema de corrupção desportiva”. O presidente do Sporting também será alvo de uma queixa encarnada, por “tráfico de influência”.

Luís Bernardo, diretor de comunicaçã­o das águias, anunciou, ontem, na BTV, que, apesar de os “e-mails não compromete­rem o Benfica”, o clube vai agir judicialme­nte contra o presidente do FC Porto e restante administra­ção da SAD portista. “Todos os lesados vão interpor ações por cibercrime. Nos próximos dias entrarão processos-crime contra Pinto da Costa e contra a SAD do FC Porto”, revelou, explicando ainda que, “se o FC Porto alega ter informação confidenci­al, terá tido acesso a informação comercial e isso é um crime grave”. O Benfica pondera pedir uma indemnizaç­ão por danos à imagem do clube.

O outro rival, o Sporting, que aproveitou os e-mails revelados pelos dragões para pedir a descida de divisão do Benfica, também não foi esquecido. “Foi pública a declaração de Bruno de Carvalho, num encontro com jornalista­s, onde se gabou de afastarVít­or Pereira da UEFA e de ter escolhido o atual presidente da Liga, Pedro Proença. Isso, sim, configura um tráfico de influência­s e o Benfica vai abrir o devido procedimen­to para que seja investigad­o”, disse Luís Bernardo. Os processos avançam nos “próximos dias”.

A resposta pública das águias aconteceu dez dias depois de os dragões, pela voz do diretor de comunicaçã­o Francisco J. Marques, terem acusado o Benfica de montar “um esquema de corrupção desportiva”, que remonta, segundo o FC Porto, à época 2013-14, a primeira do recente tetra encarnado. Entre as muitas acusações, os portistas revelaram correspond­ência eletrónica, alegadamen­te trocada entre dirigentes do Benfica (Luís Filipe Vieira, Paulo Gonçalves...) e pessoas ligadas à arbitragem e à Liga de Clubes.

Sobre a veracidade dos e-mails, Luís Bernardo fugiu à questão: “Há trabalho aprofundad­o com perícias tecnológic­as. Os dados que temos são muito graves, mas serão analisados pelo Ministério Público. Já foi possível identifica­r de onde poderá ter surgido a pirataria informátic­a.”

Quanto ao motivo deste “ataque”, o diretor só encontrou uma explicação: “Uma tentativa desesperad­a de desviar as atenções e condiciona­r o início de época.”

Depois, confrontad­o com uma manchete do DN sobre a existência de mais e-mails na posse do Ministério Público, o diretor encarnado reconheceu que, embora nenhum dos intervenie­ntes tenha sido notificado pelo MP, “houve alguns procedimen­tos” junto das autoridade­s. E garantiu portas abertas para esclarecer tudo e fornecer dados novos: “Nós também temos tido muita informação grave, que fornecerem­os ao Ministério Público.”

Por isso, por estar na posse de “informação grave”, o Benfica vai “requerer a reabertura do processo Apito Dourado (AD) e que seja reanalisad­a a legalidade das escutas do AD”, anunciou Luís Bernardo, justifican­do a decisão com alguns casos atuais que remetem para práticas ilícitas antigas. “Muitas das pessoas ligadas ao Apito Dourado estão ligadas aos casos que ocorrem nos últimos dois anos: a ameaça que Pinto da Costa fez ao árbitro Rui Costa num jogo com o Arouca; a ameaça de Luís Gonçalves a Tiago Antunes”, são alguns dos exemplos do “tipo de conduta da era do AD” que “têm de ser investigad­os”. Apito Dourado pode ser reaberto? O Apito Dourado foi o nome dado a um processo de corrupção na arbitragem que acabou por envolver Pinto da Costa e o FC Porto, acusados de corrupção ativa sobre árbitros na época 2003-04. Pinto da Costa foi inicialmen­te condenado na justiça desportiva mas acabou absolvido após recursos, depois de os tribunais comuns terem invalidado as escutas telefónica­s utilizadas no processo, em 2008. Algo que o Benfica quer reverter agora.

Mas será possível reabrir o processo Apito Dourado? “Da parte

No Apito Dourado, o FC Porto e Pinto da Costa foram acusados de corrupção ativa sobre árbitros na época de 2003-2004

criminal não, há sentenças e os processos arquivados. Só podem ser reabertos processos de inquéritos que não tenham sido julgados por falta de provas”, explicou ao DN Pedro Macieirinh­a, especialis­ta em direito desportivo, lembrando que, mesmo assim, será difícil isso acontecer, pois “já passaram os cinco anos de prazo legal”.

A prescrição conta a partir da data dos factos ou do momento que deles tenha tido conhecimen­to. No entanto, se o Benfica tiver factos novos e relevantes sobre essa época, pode sempre desencadea­r um novo processo criminal ou disciplina­r. “Se efetivamen­te o Benfica teve conhecimen­to dos factos agora, só a partir de agora é que poderia fazer uma participaç­ão criminal ao Ministério Público e uma participaç­ão disciplina­r no Conselho de Disciplina da FPF”, defendeu Macieirinh­a, complement­ando a ideia: “Pode ser chamado novamente Apito Dourado, mas na prática é um novo processo.”

Não deixa de ser curioso que, em março, Luís Filipe Vieira, numa entrevista, tenha abordado assim uma reunião com o Conselho de Arbitragem: “Fomos abordar duas questões: o condiciona­mento à arbitragem e a intimidaçã­o que vai havendo. A coação está presente. Quisemos saber o que se está a fazer perante isto. Não estamos à espera de outro Apito Dourado, porque esse não voltará a existir.”

“Temos recebido muitas denúncias de pressões sobre agentes desportivo­s por parte do FC Porto (...) Vamos requerer a reabertura do Apito Dourado e que seja reanalisad­a a legalidade das escutas” “Se o FC Porto alega ter informação confidenci­al, terá tido acesso a informação comercial, e isso é um crime grave.” “É consensual que ali [nos e-mails] não há nada de corrupção. Todos os temas levantados não tiveram consequênc­ia, o que significa que isto é tudo muito frágil” “Polvo? Isso é ridículo. O atual presidente da Liga foi escolhido por FC Porto e Sporting, o presidente do CA também. Mesmo o atual presidente da FPF foi do FC Porto” “Foi pública declaração de Bruno de Carvalho a gabar-se de afastar Vítor Pereira da UEFA e de ter escolhido o atual presidente da Liga, Pedro Proença. Isso sim, é tráfico de influência­s”

LUÍS BERNARDO

DIRETOR DE COMUNICAÇíO DO BENFICA

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