Diário de Notícias

Uma família muito moderna

- INÊS TEOTÓNIO PEREIRA ESCRITORA

São injustas as críticas feitas a Carlos César e justa a explicação de Ascenso Simões quando diz que não se pode esperar que alguém, só por ser da família de um político, seja pedinte. De facto, uma pessoa não ter direito a ser beneficiad­o, ou compensado, vá, por ser da família de, por exemplo, Carlos César seria injusto. Por isso, e não encontrand­o argumentos que consigam rebater tal evidência, defendo que todos os familiares dos políticos deviam ter empregos garantidos pelo Estado (v.g. políticos) no Estado (v.g. administra­ção central ou local). Era da maneira que tirávamos da rua milhares de pessoas (os referidos pedintes) e acabávamos com o chamado clima de suspeição. Acabava-se de vez com os suspeitos. Um político nunca vem só, seria o título do projeto de lei. Com uma iniciativa destas punhase também fim ao stress infernal que deriva da exigência das notas e médias dos miúdos: “Meninos, larguem os livros: o tio já é dirigente partidário!” As horas de estudo seriam aproveitad­as em prol da construção de um futuro profission­al concreto, o qual passaria por fazer do tio ou do primo pessoa com relevância política ao nível de cunha. Um tio ou um primo com capacidade para meter cunhas arreda qualquer MBA para o fim da lista das chamadas competênci­as. Pelo lado que me toca seria uma maravilha. Só com cunhados, irmãos, primos, sobrinhos e filhos tomava conta de duas ou três empresas do tipo TAP e até deixava lá ficar o amigo do primeiro-ministro. Na verdade, Ascenso Simões só disse o que o país pensa: se não prejudico ninguém, por que razão não ajudar os meus? Adorei o Padrinho, partes I, II e III, e percebo o conceito de família que moraliza a cunha.

Assim, consideran­do que os lugares que por aí abundam na administra­ção têm de ser ocupados por alguém, pois que seja por um familiar de um político de forma a evitar que ele seja pedinte. É uma causa pública, vá. Ascenso Simões teve ainda a honradez de nos poupar a hipocrisia­s. Ele bem podia ter dito que todos os familiares de Carlos César são pessoas com imensas qualidades profission­ais e pessoais, assim como o amigo do primeiromi­nistro é. Mas não. Ele disse apenas o essencial: estamos a falar de pessoas que precisavam de emprego e o Estado está cá para isso, para dar empregos. Ou não está? A qualidade, a entrevista, o currículo são coisas do foro privado e para empregos no privado. Por tudo isto estou ao lado de Carlos César e de Ascenso Simões. Só me chateia não ser da família do PS e os meus filhos andarem a massacrar-me para mudarem de apelido.

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