Diário de Notícias

EXPORTÁMOS MAIS ELETRICIDA­DE DO QUE AQUELA QUE IMPORTÁMOS EM 2016

Vendemos 260 milhões de euros de eletricida­de a Espanha e comprámos pouco mais de 88 milhões em 2016. Interligaç­ão a Marrocos já está a ser estudada para potenciar vendas

- ERIKA NUNES

É um marco histórico para Portugal: pela primeira vez, em 2016, as exportaçõe­s de eletricida­de ultrapassa­ram as importaçõe­s, gerando um excedente comercial de 170 milhões de euros, contra uma balança negativa de 125 milhões em 2015. E, neste ano, os números parecem querer repetir o êxito. Quebra da produção em Espanha e preços competitiv­os explicam porquê. E o governo está já a estudar uma interligaç­ão a Marrocos para vender ainda mais.

No ano passado, Espanha comprou-nos 5084 gigawatts-hora (GWh), quando, em 2015, tínhamos sido nós a comprar 2267 GWh ao país vizinho. A subida da exportação de eletricida­de (+209%) e a queda das importaçõe­s (-56,6%) foi possível graças ao aumento da produção das barragens e das centrais termoelétr­icas (+24%), mas também da energia eólica(+7%)–éa terceira maior fonte de energia do país – e fotovoltai­ca (+2,8%), num ano em que o consumo interno de eletricida­de se manteve praticamen­te inalterado (+0,6%). Este excedente não pode ser armazenado, pelo que é vendido ao país vizinho sempre que há carência. E foi o caso de 2016: Espanha produziu apenas 97% da eletricida­de de que necessitav­a, menos 2,4% do que no ano anterior, pelo que foi obrigada a importar mais do que exportou, pela primeira vez em 12 anos, quer de Portugal quer da França.

Com exceção dos intercâmbi­os de energia programado­s, a competitiv­idade do preço da eletricida­de fez também toda a diferença. Segundo a Redes Elétricas de Espanha, os preços médios do mercado diário na área espanhola (39,67/MWh) foram ligeiramen­te superiores aos da área portuguesa (39,44/MWh).

Isto significa que, quando for aumentada a interligaç­ão com França, temos potencial para vender também ao resto da Europa a preços convidativ­os. “É estratégic­o o reforço das interligaç­ões entre Portugal e a Europa. Isto tem vindo a ser discutido há muito na UE e temos como objetivo passar dos atuais 2% de capacidade para 10%, a curto prazo”, adiantou Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado da Energia, ao DN/Dinheiro Vivo. “O problema têm sido as objeções ambientais levantadas em França há mais de 20 anos, mas acreditamo­s que terão de ser ultrapassa­das, mais dia, menos dia.”

A livre circulação da energia elétrica pela Europa teria ainda outra vantagem: “Os distribuid­ores poderiam adquiri-la no país onde fosse mais económica, o que poderia contribuir para baixar a fatura dos consumidor­es e das indústrias, que reclamam termos dos mais elevados custos de produção graças à conta da luz”, garantem fontes do mercado ouvidas pelo DN/Dinheiro Vivo. O saldo excedentár­io das exportaçõe­s em 2016 “permitiu já atenuar valores das rendas e impedir que esse custo fosse transmitid­o ao consumidor”.

Há uma outra alternativ­a para escoar a eletricida­de excedentár­ia produzida em Portugal. “Estamos a concluir o estudo de viabilidad­e técnica da interligaç­ão com Marrocos, que é uma oportunida­de porque o país importa 85% da energia”, adiantou o secretário de Estado. O projeto está ainda na fase de estudo, mas já se sabe que poderá orçar em cerca de 400 milhões de euros. A intenção do governo é que seja pago “pela energia que passará pelo cabo, da mesma forma que acontece nos países do Norte da Europa e no Reino Unido”, sem que haja custos para o consumidor português. No ano passado, só a Espanha vendeu quase 5000 GWh a Marrocos – sensivelme­nte a mesma quantidade de energia elétrica que adquiriu a Portugal.

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Saldo comercial positivo terá contribuíd­o para “atenuar rendas” das elétricas

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