Diário de Notícias

Joesley Batista, empresário que gravou conversa com o presidente, está de volta ao país e revelou à revista que os membros de esquema liderado por Temer “ou estão presos ou estão no Planalto”. Chefe de Estado vai processá-lo

Época

- JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo

Joesley Batista, o magnata do setor das carnes que gravou uma conversa com Michel Temer, regressou ao Brasil um mês após a divulgação do encontro e voltou a atacar o presidente e o seu círculo íntimo de aliados no PMDB. “Temer é o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”, disse em entrevista à Época, depois de ter prestado novo depoimento à polícia no âmbito da Operação Lava-Jato.

O presidente anunciou que vai processá-lo. “Suas mentiras serão comprovada­s e será buscada a devida reparação financeira pelos danos que causou, não somente à instituiçã­o Presidênci­a da República, mas ao Brasil”, lê-se num comunicado.

“Temer nunca foi muito cerimonios­o em relação a dinheiro e a pedir subornos, sempre que me chamava sabia que precisava de alguma coisa ou de alguma informação”, disse Joesley, um dos donos da JBS, líder mundial no setor das carnes, à Época. “Teve um dia que até me pediu se eu podia pagar o aluguer do escritório dele na Praça Pan-Americana [São Paulo], eu desconvers­ei e ele não me cobrou mais.” E continuou: “Ele parece inofensivo, professor de Direito Constituci­onal, advogado, você olha para ele e nunca pensaria que seria capaz de colocar o exército na rua [referindo-se à manifestaç­ão recente contra o governo em Brasília], ou que teria uma conversa daquele tipo comigo ou que se agarrasse ao poder desta forma.”

O delator contou ainda que os membros do esquema liderado por Temer “ou estão presos ou no Planalto”. E enumerou: “São o Moreira Franco, o Eliseu Padilha [ministros em funções], o Geddel Vieira Lima, o Henrique Eduardo Alves [demitidos] e o Eduardo Cunha [ex-líder da Câmara dos Deputados preso na Lava-Jato]. (...) O que o Lúcio Funaro [operaciona­l de Cunha também detido] não resolvia, o Eduardo resolvia, o que o Eduardo não resolvia, só o Temer resolvia.”

Joesley confessou que sentia “medo dessa organizaçã­o criminosa” – “Essa turma é muito perigosa, você não pode brigar com eles, mas por outro lado não pode baixar a guarda, eles não têm limites.” O empresário conta que um dia Cunha lhe pediu cinco milhões de reais para bloquear o pedido de um deputado para instaurar uma Comissão Parlamenta­r de Inquérito contra a JBS. Mais tarde, Batista descobriu que o deputado agira a mando do próprio Cunha.

À Época, Joesley acusa ainda o antigo presidente Lula da Silva, do PT, e o presidente afastado do PSDB Aécio Neves. Depois de a 18 de maio ter sido divulgado o teor da sua conversa com o presidente, Joesley voou com a família para Nova Iorque, por temer ameaças.

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