Diário de Notícias

Morte de militar português não põe em causa missão no Mali

Sargento integrava contingent­e de dez militares portuguese­s na força de treino que a União Europeia deslocou para esta ex-colónia francesa. Outros 65 estão na da ONU

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JOÃO PEDRO HENRIQUES A morte do sargento-ajudante do Exército Paiva Benido, no Mali, casado e pai de duas filhas menores, não vai pôr em causa a presença portuguesa nas missões internacio­nais naquele país africano.

Foi o ministro dos Negócios Estrangeir­os, Augusto Santos Silva, quem ontem o garantiu: “O nosso compromiss­o com a cooperação europeia com o Sahel é total, e por isso o nosso compromiss­o com as missões da UE no Sahel é total, e por isso o nosso compromiss­o com a missão de treino no Mali continua a ser total, mau grado o incidente, o ataque terrorista à missão da UE no Mali, de que uma das vítimas é um valoroso e bravo sargento do Exército português”, disse o ministro, falando a jornalista­s no Luxemburgo, à margem de uma reunião do Conselho de Negócios Estrangeir­os da UE.

No Mali estão cerca de 80 militares portuguese­s: dez na missão da UE, 65 na missão da ONU (Minusma) e ainda a tripulação de um C-130.

Paiva Benido, 40 anos, natural de Valongo, foi vítima de um ataque jihadista quando se encontrava, domingo, no Le Campement, um antigo hotel nos arredores de Bamako, capital do Mali, que alberga o contingent­e da UE. Ele e um oficial português fugiram para fora do recinto durante o ataque. O sargento-ajudante foi atingido por rajadas e o seu corpo encontrado ontem; o oficial sobreviveu. A informação da missão da UE só refere o militar português como vítima – embora haja notícias de dois mortos. Vinte mortos no estrangeir­o Quatro dos atacantes foram mortos; cinco outros suspeitos de terem participad­o no ataque foram detidos. O Mali está em estado de emergência praticamen­te ininterrup­to desde o ataque contra o hotel Radisson Blu, em Bamako, a 20 de novembro de 2015, que fez 20 mortos e foi reivindica­do como uma operação conjunta da Al-Qaida no Magrebe Islâmico (AQMI) e do grupo jihadista Al-Murabitun.

Desde 1992 já morreram vinte militares portuguese­s em missões no estrangeir­o. O sargento-ajudante Benido é a segunda vítima de terrorismo. A primeira foi, em setembro de 2002, um paraquedis­ta, Diogo Ribeirinho. O militar foi uma das 202 vítimas de um ataque reivindica­do pela Al-Qaeda a uma discoteca em Bali, a principal estância turística da Indonésia. Colocado em Timor-Leste, encontrava-se ali de licença de férias. Entre 2000 e 2003, morreram quatro militares portuguese­s em serviço na missão das Nações Unidas naquela ex-colónia portuguesa.

No historial dos militares portuguese­s mortos no estrangeir­o são raros os casos de vítimas de ações bélicas. A bem dizer, só se pode dizer que isso aconteceu em 2005. O sargento dos Comandos João Paulo Roma Pereira, de 33 anos, natural de Alhos Vedros, morreu no Afeganistã­o quando o blindado em que seguia em patrulha foi atingido, um incidente em que ficaram feridos três outros militares portuguese­s ao serviço da NATO.

De resto, a maior parte das mortes resultaram de acidentes. Com munições não detonadas, de viação (vários casos), aéreos (os paraquedis­tas José Fernandes e José Lopes morreram em agosto de 2000, quando o helicópter­o Alouette da Força Aérea em que seguiam teve um acidente na localidade de Same, Timor-Leste), acidentes de trabalho (em 16 de julho de 2004, um acidente com uma empilhador­a numa operação de descarga de alimentos matou o paraquedis­ta Ricardo Valério, de 20 anos, em missão na Bósnia e Herzegovin­a) e doenças súbitas (no Kosovo, em março de 2010, o cabo José Bernardino, integrado na força da NATO, morreu após uma corrida da prova de aptidão física). Com Lusa

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