Negociação do brexit começou com “o pé direito” e presentes
Reino Unido parece ter cedido na urgência de negociar acordo comercial com a UE. Direitos dos cidadãos são prioridade
A dias do primeiro aniversário do referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia, tiveram ontem início as negociações que irão ditar os termos do brexit. Num clima descontraído, em que até houve troca de presentes, Michel Barnier e David Davis, os líderes das equipas de negociações, estabeleceram prioridades e o calendário dos próximos encontros, com o francês a lembrar que o tempo está a passar e o britânico a mostrar-se otimista com o resultado final.
“Esta primeira sessão foi útil para começar com o pé direito, tendo em conta que o tempo está a passar”, afirmou Michel Barnier, o francês que lidera a equipa de negociações da União Europeia, no final da sessão de trabalho de ontem, acrescentando que uma saída tranquila e ordenada é essencial para as duas partes. “É possível um acordo justo para a União Europeia e para o Reino Unido, muito melhor do que acordo nenhum. Foi o que eu disse hoje a David. É por isso que iremos trabalhar sempre com o Reino Unido e nunca contra o Reino Unido. Não haverá hostilidade da minha parte. Vou mostrar uma atitude construtiva com base nos interesses e no apoio dos 27”, afirmou Barnier.
O francês citou o fundador do bloco que deu origem à União Europeia, o seu compatriota Jean Monnet: “Não estou otimista nem pessimista. Estou determinado.”
David Davis, o chefe da delegação britânica, seguiu o mesmo tom, citando Winston Churchill. “O pessimista vê dificuldades em cada oportunidade, o otimista vê oportunidades em cada dificuldade. Assim, juntando Churchill e Monnet, sou certamente um otimista determinado”, sublinhou o britânico.
Davis deixou claro que o resultado das legislativas britânicas, que tiraram a maioria ao governo de Theresa May, não fez mudar a posição do Reino Unido em relação ao brexit, e que o país vai procurar abandonar o mercado único e a união aduaneira desenhando, em separado, um acordo comercial.
Os dois responsáveis adiantaram ter discutido durante bastante tempo a questão da Irlanda do Norte, onde todos os partidos procuram manter a fronteira aberta com a República da Irlanda.
A sessão de ontem serviu para preparar os passos seguintes das negociações, estando já marcados os próximos encontros – que terão o francês e o inglês como línguas de trabalho : 17 de julho, 28 de agosto, 18 de setembro e 9 de outubro.
O documento de duas páginas ontem divulgado mostra que o Reino Unido parece ter já cedido numa questão. Londres defendeu desde o início a prioridade de estabelecer um acordo comercial bilateral – Davis falou ontem neste tema –, mas no plano de negociações até outubro os temas em cima da mesa serão os direitos dos cidadãos, os termos financeiros do brexit e outros temas da separação. Em paralelo, pode ler-se no mesmo documento, foi lançado um diálogo sobre a relação entre a Irlanda e a Irlanda do Norte.
Livros e bolos
Barnier gosta de caminhadas, paixão que partilha com Theresa May, enquanto Davis é adepto de escalada e montanhismo. E os presentes que trocaram ontem são um reflexo dos seus gostos pessoais: o britânico ofereceu a Barnier uma primeira edição da versão em francês de Regards vers l’Annapurna, uma das grandes obras sobre montanhismo; o francês retribuiu presenteando Davis com um bastão de caminhada de madeira de Savoie, a sua terra natal, esculpido à mão, com uma alça de pele.
De seguida, e antes do início formal dos trabalhos, os dois tiveram um almoço, composto por espargos belgas com vinagrete, salmonetes vermelhos com vegetais e batatas fondant, bolo vacherin com morangos silvestres, café moca e bolos.