Diário de Notícias

“Acho que o Ronaldo gosta mais de estar pertinho da baliza”

Júnior, estrela brasileira do Mundial 82, rende-se em elogios ao capitão da seleção: “Este é o momento dele”

- CARLOS NOGUEIRA enviado a Moscovo

“Os brasileiro­s querem Portugal na final.” Quem o diz é Júnior, uma das estrelas da mítica seleção brasileira que encantou pelo bonito futebol no Mundial de Espanha em 1982, da qual faziam parte ainda Zico, Sócrates, Falcão e Éder. O antigo defesa-esquerdo está na Rússia a acompanhar a Taça das Confederaç­ões como comentador da SporTV brasileira, função que desempenha desde 1995. “Há 22 anos, meu Deus!”, atira, nostálgico.

Júnior não esconde alguma tristeza pelo o Brasil, atual detentor do troféu, não ser uma das seleções presentes neste torneio, pois “seria uma motivação maior”. Mas não diminui o entusiasmo. Não há escrete mas há Portugal. “Temos de torcer pelos irmãos portuguese­s, não só pela questão sentimenta­l mas sobretudo porque a seleção e o seu maior representa­nte, que é o Cristiano Ronaldo, atravessam um bom momento”, sublinhou, admitindo como possível que a estrela portuguesa alcance o recorde de sete golos de Romário numa só Taça das Confederaç­ões, apesar de não ter marcado no empate por 2-2 com o México: “Aí entra a competênci­a, e ele tem muita, pode conseguir tranquilam­ente, sem forçar...”

O facto de a equipa das quinas ter conquistad­o o direito de estar na Taça das Confederaç­ões não surpreende o antigo defesa, de 62 anos. “Portugal atingiu um patamar importante, principalm­ente com a conquista do Europeu, que é a segunda competição mais importante, pois trata-se de um Mundial sem Brasil e Argentina. Falta agora ganhar uma competição FIFA para consolidar o bom momento”, disse, acrescenta­ndo que a seleção nacional “tem bom material humano, pois além do Cristiano todos os outros jogadores são protagonis­tas nos seus clubes”.

O equilíbrio com CR7

Júnior não tem dúvidas em dizer que Ronaldo está a viver um final de época “excecional”, que atribui a uma mudança de mentalidad­e do próprio futebolist­a. “Ele conscienci­alizou-se de que não precisava de jogar todos os jogos e por isso está fresco como se estivesse a começar a época”, sublinhou, atribuindo esse mérito a Zidane, treinador do Real Madrid: “O Zizou convenceu-o de que não precisa de fazer todos os jogos, basta participar nos mais importante­s. É por isso que ele está em plena forma.” Quanto à eterna pergunta sobre quem é o melhor do mundo, a resposta é curiosa: “Vão existir sempre comparaçõe­s, mas o futebol é momento e o momento é de Cristiano Ronaldo.”

Esta temporada, que irá terminar com a Taça das Confederaç­ões, foi a da confirmaçã­o de um Ronaldo como avançado-centro, uma situação que Júnior diz ser “normal” e até tem um termo de comparação com ele próprio. “A idade vai avançado, eu também passei por isso. Joguei dez anos como lateral, mas com o passar do tempo a velocidade e a condição física foram diminuindo. Quando vi que não dava já para lateral, mudei para aquelas que eram as minhas origens, o meio-campo, onde estava sujeito a menos desgaste. É aquilo que vai acontecer com o Cristiano. Vai passar a ser avançado-centro, mas não quer dizer que ele vá ficar parado, até porque a forma física dele é grande. Vai é deixar o trabalho de operário para outros, para que ele possa finalizar, que é onde ele se destaca. E acho até que ele gosta mais de estar pertinho da baliza.” Numa breve análise aos campeões da Europa, Júnior diz que “a necessidad­e de encontrar um equilíbrio na equipa, para não ficar na dependênci­a de Cristiano, é talvez a grande dificuldad­e e o desafio de Fernando Santos”. Por essa razão, diz que “se o coletivo funcionar, naturalmen­te os grandes jogadores, como é o caso de Cristiano, vão destacar-se”. Razão por que deixa uma certeza para o futuro imediato da equipa das quinas: “Tendo equilíbrio com Cristiano em campo, significa um grande salto de qualidade da seleção, que fica um ponto acima das outras.”

Recordaçõe­s do Mundial 82

Numa breve viagem ao passado, mais concretame­nte ao ano de 1982, Júnior lembra que já foram muitas as vezes em que teve de responder a perguntas sobre aquele Mundial em Espanha, onde o Brasil de Zico, Sócrates, Falcão e Éder encantava toda a gente, mas acabou por cair aos pés da cínica Itália, de Paolo Rossi e Bruno Conti. “Mesmo depois de 35 anos, quem gosta de futebol relembra sempre

essa seleção brasileira. É bom ter esse reconhecim­ento, mesmo não ganhando”, começou por dizer, deixando a certeza de que jogar bonito não enche a barriga de ninguém: “Logicament­e, ganhar os títulos é o top, mas esse reconhecim­ento é legal.” Ainda assim, é com orgulho que lembra que na gala do centenário da FIFA “essa seleção tinha cinco jogadores a representá-la”, confirmand­o que foi “a melhor seleção” onde jogou. Mas quando questionad­o se era a melhor de sempre, a resposta foi tão rápida como certeira: “A de 1970 era melhor... a diferença é que essa seleção tinha um que se chamava Pelé [risos], só isso.”

Apesar da desilusão da derrota no antigo Estádio Sarriá, em Barcelona, diante da Itália, Júnior garante que esse foi um momento bem resolvido. “Nunca ficou trauma em relação àquele jogo. Sofremos no primeiro impacto, mas a vida continuou”, rematou, esperançad­o num futuro risonho para a canarinha: “A seleção brasileira melhorou muito com a entrada do Tite para selecionad­or e acho que podemos voltar a lutar pelo título mundial.”

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 ??  ?? Júnior diz que falta só a Portugal uma prova FIFA, que pode muito bem ser esta
Júnior diz que falta só a Portugal uma prova FIFA, que pode muito bem ser esta
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Ronaldo tranquilo, à chegada a Moscovo. O capitão da seleção continua sem falar sobre o seu futuro, apesar da noticiada vontade de sair do Real Madrid. Ontem, o Bayern desmentiu o interesse, enquanto em Inglaterra se alimenta a hipótese do regresso ao...

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