Diário de Notícias

Câmara vai criar restaurant­e para formar sem-abrigo

Há 2051 pessoas identifica­das como sem-abrigo, embora 1717 tenham um quarto disponibil­izado por instituiçõ­es para dormir. Será criado pela Câmara um restaurant­e para formar sem-abrigo para trabalhare­m na restauraçã­o

- DAVID MANDIM

O projeto “Restaura-te” nasce em 2018 e irá formar sem-abrigo para trabalhar em restaurant­es e empresas de catering

Os sem-abrigo da cidade de Lisboa, que já tenham a situação estabiliza­da, vão poder receber formação em restauraçã­o num espaço da Câmara Municipal que irá abrir em 2018. No total há 2051 pessoas identifica­das como sem-abrigo na capital e atualmente só menos de um quarto vive nas ruas. São 334 os que não têm um teto para dormir, contra os 629 que tinham sido detetados nos inquéritos de 2015.

Com o alargament­o dos critérios, o número total de cidadãos considerad­os sem abrigo aumentou para 2051, com muitos, 1717, a viverem já em quartos de instituiçõ­es. O Núcleo de Planeament­o, Intervençã­o e Acompanham­ento a Sem-Abrigo (NPISA), criado em janeiro de 2015, apresentou ontem estes números e os planos para os próximos meses, em que se inclui a criação, em 2018, de um restaurant­e na Rua de São José para formar pessoas em condição de sem-abrigo e inseri-las no mercado de trabalho. Além disso será criado um centro ocupaciona­l para pessoas sem-abrigo, diurno.

Segundo o diagnóstic­o realizado entre janeiro e maio deste ano, através de questionár­ios feitos pelos 31 gestores de caso existentes em Lisboa, existem 2051 pessoas nesta situação em Lisboa, das quais 85% são homens.

O restaurant­e na Rua de São José para formar e colocar no mercado de trabalho pessoas em condição de sem-abrigo é um dos principais projetos no NPISA para o próximo ano. O projeto destina-se a sem-abrigo “que tenham a situação já estabiliza­da, recuperada”, explicou ontem o vereador dos Direitos Sociais da autarquia, João Afonso. Envolve a criação de um restaurant­e comum, com “um cardápio”, mas no qual as pessoas a atender “tiveram uma história de rua ou de dependênci­a”, explicou o o autarca à Lusa, à margem da apresentaç­ão pública das atividades do NPISA, na sede da Associação dos Albergues Noturnos.

“Lá atrás, estará alguém que orienta todo o serviço de mesa e de cozinha”, contando com “o apoio das outras pessoas que estarão a receber formação”, precisou o vereador.

Emprego na restauraçã­o João Afonso considera que a área da restauraçã­o é “uma das maiores áreas de empregabil­idade na cidade” e nessa perspetiva indicou que o objetivo é que estes sem-abrigo consigam empregos em restaurant­es e empresas de catering, com as quais a Câmara de Lisboa vai fazer parcerias, concretiza­ndo este pro- jeto “Restaura-te”. O financiame­nto do projeto é algo que fica ainda por esclarecer. João Afonso garantiu que estará a funcionar “o mais depressa possível”, o que estimou ser no próximo ano. O espaço situa-se na Rua de São José, “que já está infraestru­turado”, e que será reabilitad­o pela Câmara de Lisboa.

No plano de atividades, o NPISA prevê também a criação de outras respostas de inserção diurna, como a criação de um centro ocupaciona­l para pessoas sem-abrigo. João Afonso apontou que este novo espaço está preparado: “Tem de tudo – acompanham­ento psicológic­o, ocupação do dia, programas de capitação social e profission­al –, e a ideia é assegurar a integração de 125 pessoas.”

Trabalho de 25 parceiros O NPISA é composto pela comissão tripartida da Rede Social de Lisboa (Câmara Municipal, Santa Casa da Misericórd­ia de Lisboa e Segurança Social) e instituiçõ­es de solidaried­ade, num total de 25 parceiros. Os parceiros alocam recursos, nomeadamen­te humanos (que funcionam como gestores de casos), e dão respostas ao nível do atendiment­o, da atuação e do acolhiment­o. Atualmente existem 31 gestores de caso, isto é, profission­ais que trabalham com a população sem-abrigo. Estão distribuíd­os por cinco áreas de Lisboa.

Foram estes gestores que fizeram o diagnóstic­o mais recente, entre janeiro e maio. Das 2051 pessoas sem abrigo, 334 vivem nas ruas (essencialm­ente no centro e zona histórica) ou em abrigos de emergência e 1717 residem em alojamento­s temporário­s (como quartos, centros de acolhiment­o ou apartament­os partilhado­s).

Em 2015, quando o NPISA foi criado, eram 1982 pessoas em condição de sem-abrigo e 629 viviam nas ruas. João Afonso vincou que estão a “ser dadas melhores respostas”, o que levou à diminuição do número de sem-abrigo nas ruas. Ainda assim, o vereador admitiu que “as pessoas terão sempre problemas – no emprego, com a família, de dependênci­as, e, por isso, haverá sempre pessoas em situação de sem-abrigo”. Com Lusa

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