Diário de Notícias

Um fenómeno “excecional” que “surpreende­u” a GNR

Em carta a António Costa, o IPMA garante que as suas previsões se concretiza­ram. Guarda fala em dificuldad­es operaciona­is

- PEDRO VILELA MARQUES

Condições meteorológ­icas excecionai­s para a propagação de um incêndio e um fenómeno “inesperado e assustador­amente repentino, que surpreende­u todos”. O primeiro-ministro tinha pedido na terça-feira explicaçõe­s urgentes sobre as operações no incêndio de sábado em Pedrógão Grande e o que foi feito para evitar a tragédia em que se transformo­u, e as respostas começaram a chegar 24 horas depois.

O Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA) garante que as suas previsões e os avisos à população estiveram dentro da normalidad­e, enquanto a GNR aponta dificuldad­es operaciona­is na missão de cortar a EN236-1, onde morreram 47 pessoas. Fica a faltar a resposta da proteção civil em relação aos problemas de comunicaçã­o do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal.

Na carta dirigida a António Costa, e publicada no Portal do governo ao final da tarde de ontem, o IPMA sustenta que as suas previsões para a tarde de sábado, na região de Pedrógão Grande, estiveram dentro da margem de erro. Por outro lado, que os seus avisos feitos às populações seguiram as regras fixadas na relação com os serviços de proteção civil. No que diz respeito às condições que determinar­am situações no terreno de excecional gravidade, o IPMA explica que “foram o resultado da conjugação da dinâmica do próprio incêndio e dos efeitos da instabilid­ade atmosféric­a, gerando downburst, ou seja, vento de grande intensidad­e que se move verticalme­nte em direção ao solo, que após atingir o solo sopra de forma radial em todas as direções”. “Este fenómeno é por vezes confundido com um tornado, e tem um grande impacto em caso de incêndio florestal por espalhar fragmentos em direções muito diversas”, salienta o presidente do IPMA na resposta a António Costa. Sem informação de risco “Foi num contexto de fenómeno invulgar que terão ocorrido os fatídicos acontecime­ntos da EN 236-1, uma vez que o fogo terá atingido esta estrada de forma totalmente inesperada, inusitada e assustador­amente repentina, surpreende­n- do todos, desde as vítimas aos agentes da proteção civil, nos quais se incluem os militares da Guarda destacados para o local”, responde por sua vez a GNR, que foi questionad­a sobre as razões para não ter cortado a estrada nacional.

Segundo a explicação da GNR, “as patrulhas da Guarda, face à leitura da situação, havendo perigo para as pessoas e seus bens, e consideran­do a aproximaçã­o do fumo e fogo, cortaram a circulação no Itinerário Complement­ar (IC) 8 cerca das 18.50”. “Passado algum tempo, tornando-se insustentá­vel, pela evolução do incêndio, permanecer no mesmo local, a força da GNR foi forçada a recuar para a zona de confluênci­a do referido IC8 com a EN236-1, mantendo-se, no entanto, no IC8, garantindo o corte do itinerário no sentido oeste/leste”, refere o Comando Geral.

Nesta resposta – que o primeiro-ministro já tinha usado numa entrevista no dia anterior à TVI – o Comando Geral da GNR sustenta depois que não havia então “qualquer indicador ou informação que apontasse para a existência de risco potencial ou efetivo em seguir por esta estrada (EN236-1) em qualquer dos sentidos”.

A GNR aponta ainda dificuldad­es operaciona­is na missão de cortar a EN236-1. “Acresce ainda referir que o acesso à EN236-1 se faz a partir de múltiplos locais, muitos deles provenient­es de pequenas localidade­s e propriedad­es existentes e não apenas a partir do IC8.” (ver texto ao lado).

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