Greve não atrapalhou exames mas fechou jardins de infância
Como previsto, as provas decorreram sem sobressaltos, mas a greve não foi inócua. Fenprof aponta abusos a diretores
PEDRO SOUSA TAVARES Como previsto, tendo em conta a existência de serviços mínimos, o impacto da greve nacional de professores nos exames nacionais e provas de aferição foi praticamente nulo. Mas a paralisação não deixou de ter efeitos, nomeadamente o encerramento de muitos jardins-de-infância e escolas do 1.º ciclo, o adiamento de reuniões de avaliação e o cancelamento de provas de equivalência à frequência.
De acordo com informações avançadas pelo Sindicato de Professores da Região Centro (SPRC), da Fenprof, apenas nessa zona do país onze jardins de infância, nove Escolas Básicas do 1.º ciclo, dois agrupamentos de escolas e um centro escolar registaram níveis de adesão à greve próximos dos 100% no período da manhã.
Também a Federação Nacional de Educação (FNE) apontou para a existência de “centenas” de escolas afetadas pela paralisação. “São escolas onde não se realizam provas de aferição e que não estão a trabalhar pelos níveis de adesão à greve”, disse João Dias da Silva.
Num primeiro balanço da greve, ao final da manhã, junto à EB 2,3 Marquesa de Alorna, em Lisboa, Mário Nogueira, da Fenprof, voltou a atribuir ao Ministério da Educação toda a “responsabilidade” pela realização da greve, que atribuiu à falta de abertura negocial da tutela ao longo de vários meses.
O sindicalista confirmou que os exames e provas de aferição não foram afetados, aproveitando para acusar algumas direções de escolas de terem cometido “ilegalidades”, convocando a totalidade dos seus docentes ao abrigo dos serviços mínimos deste mecanismo, numa “clara violação da lei”, que prometeu denunciar em sede próxima. “Temos [casos desses} de lés a lés”, acusou.
Arménio Carlos, da CGTP, e as deputadas Ana Virgínia (PCP) e Joana Mortágua (Bloco) fizeram questão de se associar ao protesto dos docentes, com o líder da central sindical a avisar o governo de que enfrentará mais contestação e mais dura se não alterar a sua abertura negocial.
No que respeita aos alunos e às suas famílias, o facto de existirem serviços mínimos aos exames e aferições, e de muitos estudantes estarem já em período de férias, acabou por ditar impactos muito distintos. Os mais afetados foram os alunos do pré-escolar, cujo ano letivo só termina para a semana. mas não só.
Na própria Marquesa de Alorna, Alexandra, uma professora de História que não quis fazer greve, confirmou ao DN que a paralisação tinha implicado a suspensão de reuniões de avaliação, “porque basta faltar uma pessoa. Julgo que a prova de equivalência à frequência de Inglês também não se realizou, porque não estava abrangida pelos serviços mínimos”, acrescentou.
Já na Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho, se não fosse a bandeira de Portugal a meia haste – a lembrar as vítimas dos incêndios – o ambiente seria igual ao de qualquer outro dia de provas: “O meu serviço era de coadjuvante”, contou ao DN Maria João, professora de Geografia, que admitiu “não saber” se teria feito greve se não tivesse sido destacada para os serviços mínimos: “Embora os motivos da greve me fossem queridos, não é fácil [fazer greve] nesta altura. Eles são os nossos alunos.”