Hortas urbanas geram estilo de vida mais saudável
Reúnem pessoas de todas as idades e benefícios são a nível físico e mental
DAVID MANDIM Houve quem deixasse de fumar ou reduzisse a metade o consumo, outros mudaram os hábitos alimentares para produtos mais saudáveis e a maioria dos utilizadores de hortas urbanas ganhou qualidade de vida a nível físico e mental. São as conclusões de um estudo realizado por um investigador da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto. Paulo Nova passou um ano e meio a estudar 115 pessoas que participam numa horta urbana portuense, e verificou que os benefícios são superiores ao esperado.
“É uma área em que ainda não há muita literatura a nível mundial. O que concluímos é que as pessoas passam a ter uma vida mais saudável, com impacto não só ao nível dos produtos cultivados mas mesmo noutros que passam a consumir como os laticínios, o peixe. Nas hortas são os legumes, os vegetais e as ervas aromáticas mas a mudança de hábitos vai além disso, o que é muito relevante”, disse ao DN Paulo Nova, prudente na avaliação das causas. “É preciso fazer mais investigação, e vamos fazer. Mas terá que ver com a relação estabelecida com a natureza e com as outras pessoas. A relação social nas hortas é muito importante.” Com o stress da vida urbana, as hortas funcionam como impulso para uma melhor qualidade de vida.
Na horta urbana no Conde Ferreira, criada pela Lipor e pela Santa Casa de Misericórdia do Porto, há um universo de utilizadores vasto. “Encontramos uma representação da população urbana. A média de idades é 54 anos, mas há pessoas de 24 anos e outras com mais de 70”, revela o investigador em biotecnologia e inovação. Cada um dos hortelões foi analisado durante seis meses. A maioria está empregada e tem níveis elevados de escolaridade. Cerca de 30% são reformados. “São pessoas que aproveitam muito as hortas para também socializar. Não ficam em casa a ver TV. E são muito importantes para receber os novos: vão explicar como se rega, o que se cultiva.”
Paulo Nova diz que em Portugal ainda há défice de hortas urbanas, patente nas filas de espera existentes em vários dos espaços existentes. A Lipor, empresa intermunicipal de tratamento de resíduos, tem apostado na criação de hortas urbanas nos concelhos do Grande Porto e atualmente existem 51 hortas, que permitem a centenas de pessoas cultivar. Em Portugal, segundo um estudo da associação ambientalista Zero, há 59 municípios que disponibilizam espaços para hortas urbanas. Guimarães é o concelho com mais hortelões registados, 370. Funchal, Lisboa, Porto e Gaia são os seguintes. Nos municípios que ainda não tinham hortas, 77% manifestaram intenção de investir na criação de espaços.