O susto e o consolo
Não me canso de dizer, porque os noticiários não se cansam de mo dizer: o mundo político está cada vez mais fascinante. Dizê-lo interessante, animava-nos, e dizer perigoso, assustava. Ora, o mundo está é cada vez mais surpreendente – e isso dá para os dois lados. Os olhos de lebre encandeada por faróis Theresa May são o lado mau: num ano, ela perde eleições desnecessárias, cria um impasse e agarra-se à amputação europeia. Suprema afronta: a UE já nem esconde que vai para as negociações do brexit para as estender no tempo, pois sabe que a tola vai declarar arrependimento. A velha e gloriosa Inglaterra que nos deu a democracia, snobada pela Bruxelas de funcionários... De invejada, a misericordiada. Para nós, o susto: como foi possível um país com história sólida como nenhum descambar num ano? O outro lado veio de França, aquela onde o cinismo se tinha instalado. De vitória em vitória, à direita e a esquerda, até à inevitável tomada da extrema-direita... Há um ano, Emmanuel Macron, jovem e político de passagem, deu uma sapatada. Jovens ambiciosos, e menos jovens, foi o que o regime francês sempre teve – só que encarrilavam por uma das duas vias tradicionais, uma ou outra, e o cinismo engrossava. Hoje, Macron é PR e o seu partido tem, sozinho, a maioria absoluta. Na semana da vitória, de uma assentada, tirou quatro ministros do seu governo suspeitos de práticas ilícitas. Daquelas que a sociedade perdoa e os partidos praticam.Vejam lá o crime: tinham assessores pagos pela UE e sem trabalharem para a UE... Para nós, o consolo: olha, há quem nos dê lições...