Diário de Notícias

Respostas transparen­tes e independen­tes

- PAULA SÁ JORNALISTA

António Costa já foi ministro da Administra­ção Interna. Sabe o quanto a pasta é pesada. Se não é o incêndio é a cheia, disse ele sobre as agruras com que se confrontam os que assumem o cargo. Quis proteger a ministra Constança Urbano de Sousa, num momento em que muito naturalmen­te, e no meio de uma tragédia tão avassalado­ra como a de Pedrógão Grande, era a cabeça dela que estaria em jogo como responsáve­l política.

É bom recordar que – e com as devidas distâncias de não se tratar de um acontecime­nto ligado a uma catástrofe natural – quando caiu a Ponte de Entre-os-Rios, e vitimou 59 pessoas, o então ministro das Obras Públicas demitiu-se poucas horas depois, muito antes de terem sido apuradas as causas do sucedido. Jorge Coelho assumiu em pleno a responsabi­lidade política do acidente e foi aplaudido por isso.

Ainda com o país atordoado perante a dimensão da calamidade, à procura de respostas, Costa assumiu o comando e disse ao país o que queria que as entidades envolvidas na prevenção e no combate aos incêndios lhe respondess­em. E com isto pôs a ministra a salvo, pelo menos para já.

Quer saber o primeiro-ministro, queremos nós saber, se as condições meteorológ­icas foram de tal forma invulgares que não podiam ser previsívei­s e foram elas a fonte de ignição dos vários incêndios; se houve falhas na rede que liga as várias entidades (SIRESP); e porque não foi encerrada a estrada nacional 236-I, onde morreram 47 das 64 pessoas vítimas do incêndio (a GNR já respondeu que “foi muito repentino” e “apanhou todos de surpresa”). Haverá outras menos óbvias que também merecem resposta cabal.

As perguntas estão feitas. Feitas na praça pública e dirigidas aos organismos – entre as quais a Proteção Civil e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera – envolvidas nas operações naquele sábado que vai ficar na história nacional como um dos mais tristes.

Sobretudo as famílias das pessoas que morreram na onda do fogo merecem que as respostas sejam tão transparen­tes como as perguntas e que se assuma em pleno, com custos políticos, ou não, se se podia ter evitado tamanha tragédia.

A comissão independen­te que o PSD propôs para investigar tudo o que aconteceu, e que Marques Mendes defendeu que deveria ser “global, é mesmo a melhor forma de responder à urgência das explicaçõe­s. Uma comissão feita de peritos, distante de justificaç­ões defensivas ou corporativ­as.

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